quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Para o descanso final

Retornei ao sul de carro para as festas de final de ano e tive o privilégio de passar pelos Campos de Cima da Serra, um cantinho privilegiado do planeta. Não há nada similar àquela suave ondulação do terreno com o campo colorido de verde claro, entremeado pelos capões de um verde mais escuro onde as araucárias são soberanas. As altitudes, em torno de 1000m,  fazem com que seu clima seja sempre ameno no verão e frio na medida certa no inverno. Não bastasse,  tem pinhão, queijo serrano, canyons e agora descobriram a videira!

Enterrem meu coração à beira de algum de seus cursos de águas, claras, rasas e frias!

Bom Jesus - Campos de Cima da Serra  (facebook.com)
Campos de Cima da Serra (cafeviagem.com)


História do tropeirismo na região da BR-285/RS/SC- Documentário (gov.br)

Lajeado Grande - S. Francisco de Paula - RS (fotonovak.wordpress.com)
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Campos de Cima da Serra (facebook. com)


segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Prá fechar a dobradinha infernal 20/21

Nada mais apropriado do que Slightly hungover of you,  para se despedir da  dobradinha 20/21, os anos pandêmicos de nossas vidas. A música é triste - afinal é um blues! - bem a meu gosto. Para definir o biênio, slightly pega leve, porém hungover está na medida exata. Com que baita ressaca deixaremos para trás essa dupla. 

Que 2022 se apiede de nós.




sábado, 25 de dezembro de 2021

Um menino nos nasceu... (Isaias, 9;6)

 

Presépio da Igreja Sto Inácio de Loyola - Lajeado RS


Ponto de Inflexão?

A editoria de The Economist (edição especial de 23/12) tenta resumir o ano com 10 matérias de capa publicadas ao longo de 2021. Uma delas (04/09) aborda a questão da ameaça representada pelo  iliberalismo progressista ao liberalismo clássico um dos pilares das grandes democracias ocidentais. Na companhia de outro iliberalismo - o reacionário - ele é comparado ao perigo que nazismo e fascismo significaram no século XX.

Nas palavras da editora, observa-se uma fratura (crack)  no pensamento filosófico que embasa a cultura wokery. Moro ao sul do Equador, e não tenho observado arrefecimento algum no movimento por esses grotões do mundo. Os jornalões brasileiros - Folha em especial - abrigam uma representativa quantidade de colunistas alinhados com a cultura woke

Definitivamente estou à margem e torço para que a fratura observada nos excessos desse pensamento  no hemisfério norte se estenda para o hemisfério sul. Enquanto isso não acontece, haja saco para suportar os argumentos  monocórdios e estapafúrdios dessa turma a respeito de racismo, machismo e desigualdade -  para eles  responsáveis pela maior parte dos  problemas do país. Irrita profundamente a arrogância e agressividade com que defendem suas teses. Difícil enfrentar a maré progressista e seu imaginário, dominante nos meios culturais do país, mas enquanto houver bambu - parafraseando alguém -  haverá flechas.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Efeito Orloff

foi uma expressão utilizada no passado, originada de uma propaganda de bebida  que passou a significar  Eu sou você amanhã. A expressão consagrou-se para correlacionar o que acontecia  no Brasil e Argentina na época dos sucessivos planos econômicos (décadas de 80 e 90 do século passado)  com o país de los hermanos antecipando o que viria a acontecer por aqui. Dizia-se então que o Brasil sofria do efeito Orloff em relação à Argentina.

A Folha de 21.12 publica uma matéria com a preocupante constatação de que crescemos abaixo da média mundial desde 2011 e continuaremos assim provavelmente até 2026 mesclando recessão com estagnação. Em 2014,  enterramos a Lei de Responsabilidade Fiscal e acabamos de fazer o mesmo com o teto de gastos. A trajetória marcada por tantos erros, me fez lembrar da Argentina e do temido e indesejado Efeito Orloff.

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A Argentina,  nos primeiros 30 anos do século passado, frequentou a lista das dez maiores economias do mundo a ponto de em Paris se usar a expressão  riche comme un argentine.  A partir da crise de 1929, o país iniciou uma arremetida para o fundo do poço que parece não ter fim. Foram 6 golpes de Estado, com 5 resultando em ditadura, 6 calotes no pagamento da sua dívida externa (Infomoney) e cinco mudanças de moeda (El País). Em 2020, 33% da sua população vivia em situação de pobreza, e sua inflação anual superava os 50%, de acordo com o UOL. Para explicar tamanha débacle, criou-se no meio econômico a expressão paradoxo argentino. Também, nesse meio circula a afirmação, que  classifica as economias dos diferentes países  em quatro tipos: desenvolvidas, subdesenvolvidas, Japão e Argentina. 

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As causas econômicas e políticas para tamanho e incomum retrocesso são várias e já foram dissecadas por ínúmeras teses, papers e livros. Os links acima, remetem a matérias  que  permitem um overview para introduzir-se na questão. O pouco que conheço do país e dos argentinos, leva-me a concordar com as razões apontadas para a crise que não tem fim, feitas pelo Premio Nobel Paul Samuelson (El País):

 A Argentina é o clássico exemplo de uma economia cujo estancamento relativo não parece ser consequência do clima, das divisões raciais, da pobreza malthusiana e do atraso tecnológico. É sua sociedade, não sua economia, que parece estar doente.

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E voltamos ao Brasil e suas mazelas. Se você informar-se um pouco só,  a respeito das argentinas, vai constatar que muitas das nossas assemelham-se às do país vizinho. Tanto lá como aqui, temos uma sociedade doente.  Gostaria de estar errado, mas podemos estar vivenciando com a segunda década deste século, o que os argentinos viveram a partir dos anos 30 do século passado. 

Efeito Orloff, mais uma vez?


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Alma gêmea

 Álvaro de Campos 

NUVENS 

No dia triste o meu coração mais triste que o dia... 

Obrigações morais e civis? 

Complexidade de deveres, de consequências? 

Não, nada... 

O dia triste, a pouca vontade para tudo... 

Nada... 


Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol 

(Também estive ao sol, ou supus que estive), 

Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica, 

Vaidade, alegria e sociabilidade, 

E emigram para voltar, ou para não voltar, 

Em navios que os transportam simplesmente. 

Não sentem o que há de morte em toda a partida, 

De mistério em toda a chegada, 

De horrível em todo o novo... 


 Não sentem: por isso são deputados e financeiros, 

Dançam e são empregados no comércio, 

Vão a todos os teatros e conhecem gente... 

Não sentem: para que haveriam de sentir? 


Gado vestido dos currais dos Deuses, 

Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício 

Sob o sol, alacre, vivo, contente de sentir-se... 

Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda 

Para o mesmo destino! 

Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho, 

Vou com ele sem desconhecer... 

 

No dia triste o meu coração mais triste que o dia... 

No dia triste todos os dias... 

No dia tão triste... 


13-5-1928 

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). 


 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

dos porões da alma...

Músicas assim me remetem a um paraíso perdido; provavelmente os anos da minha infância pela data do seu lançamento, ou a alguma paixão que se perdeu na poeira da vida. É uma clara irrupção dos porões da alma, pois não tenho nenhum registro dela conscientemente. Basta ouvi-la, entretanto, para que uma estranha sensação de algo familiar e muito íntimo se aposse de mim. 




 

Desalento, raiva, impotência

Um misto de todos esses sentimentos me invade, ao ler na Folha de hoje que o maior dos  processos movidos contra Eduardo Cunha, foi anulado. Ele era acusado de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e violação do sigilo profissional pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira da 10a Vara em Brasília e condenado a 24 anos e 10 meses de prisão. Motivo: incompetência da Justiça Federal para julgar o processo. A ação foi anulada e os autos remetidos para a Justiça Eleitoral do RN. 

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Prá váriar... inconformidades com o processo. A forma, prevalecendo sobre o mérito. É o caminho seguro que a defesa usa para garantir a impunidade da turma do colarinho branco. O emaranhado de leis sobre as quais se edifica o nosso decantado estado democrático de direito permite que sempre se encontre uma brecha, não para anular o crime, e, sim, o processo.

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Com exemplos como o de Eduardo Cunha, que até as pedras sabem, tem culpa em cartório, vai-se minando a crença nas instituições. Há uma corrosão da democracia? Não é difícil saber o porquê.

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Não demora, e o Sérgio Cabral, o último dos mohicanos ainda enjaulado, vai desfilar livre, leve e solto, proclamando aos quatro ventos que a justiça nada conseguiu provar contra seu nome. 

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Devastadora (II)

Em post anterior, descrevi o panorama desolador de Copacabana. O Jornal do Rio do dia 2 publica matéria a respeito da decadência do Centro do Rio, ilustrada pela foto abaixo (esquina da Teófilo Ottoni com Miguel Lemos). Inimaginável para quem como eu - quando ainda trabalhava por lá -  passou muitas vezes no tumulto do meio-dia pela esquina, buscando um restaurante diferente para almoçar.