sábado, 31 de dezembro de 2022

A perda final

Num ano de tantas mortes de grandes personalidades da minha geração, a última tinha de ser a de maior impacto para nós brasileiros: Pelé. Tido e havido como o maior jogador de futebol de todos os tempos foi coroado Rei. Alguém disse que  ele é o nosso único Premio Nobel. Perfeito! Já que não fazemos a lição de casa onde importa, que seja no futebol. 

Inegável, também é a projeção que ele deu ao Brasil no mundo. Identificavam-se. Até pouco tempo, se você estivesse no exterior e falasse que era brasileiro e seu interlocutor desse demonstração de que não estava entendendo do que se estava falando, bastava falar em Pelé, que logo ele iria se conectar.

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Foi ele  o maior de todos os tempos? Provavelmente sim. Rende uma boa briga com os argentinos...

Tenho uma prevenção danada com essa classificação. Cada época tem condições de contorno próprias, o que dificulta muito a tarefa. Considero presunçosa a afirmação:  - O melhor de todos é ...Mais correto para mim seria dizer que: - Certamente ele é um dos 10 melhores do mundo... Ou então: - Dos que vi jogar ....

É bem verdade que Pelé dominava como nenhum outro,  todos os fundamentos do futebol: habilidade, técnica, visão de jogo, capacidade de decisão. Há inúmeros videos circulando na internet que mostram  jogadas fenomenais, dribles espetaculares. Talvez porisso seja ele  quem - no futebol -  mais facilmente poderia ser considerado the Best.  

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Manifestações à parte, com os balões de elogio empinados na altura máxima pela imprensa - por que o Vaticano não o canoniza ? - chama atenção a evidente satisfação  com que os jornalistas noticiam o lugar de destaque que os principais jornais do mundo deram para o fato. Enfim... o Brasil estava na berlinda. Quanto orgulho!

Fazer o quê? Nos fizeram assim... meio exibidos.

Homenagem da Nasa a Pelé

(Galáxia espiral na constelação do Escultor mostrando as cores do Brasil)

Divulgação/Nasa

Retratos do Brasil

 O representante maior do progressismo do braços dados com a fina flor do coronelismo repaginado.


Lula + Renan Pai + Renan Filho 
(Folha)


quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Prá terminar bem o ano.

Os aniversários, as passagens de ano e as mortes de entes queridos são sempre encontros com o tempo. Estamos nele imersos do berço ao túmulo mas damos a ele pouco valor. Na infância e na juventude o ignoramos. 

Senti pela primeira vez a passagem do tempo à medida que me tornava um veterano na Universidade. Não era mais um calouro...Dei-me conta de havia gente mais nova do que eu. Mas as avenidas do tempo ainda eram largas, os sonhos maiores ainda. Os anos de vida profissional com suas realizações,  seus sucessos e fracassos somados àqueles da vida dos afetos, vão construindo o arcabouço, a tessitura  da sua vida pessoal. 

Então você se aposenta, dá-se conta que a velhice está chegando e começa a analisar o que construiu. O passar dos anos, com o consequente conhecimento/experiência acumulados somados a ausência do conteúdo emocional associados ao infighting do dia-a-dia da vida profissional e pessoal  permitem olhar para o passado com mais serenidade e chegar a algumas conclusões que sei vão de encontro às Polyanas e devem ser um prato cheio para os (psico)analistas de plantão - provavelmente eu seria  um case de personalidade desajustada :

  • Teria agido de modo diferente em muitas situações que envolveram decisões cruciais para meu futuro, mas  não lamento o fato de não tê-las tomado. O que está feito, está feito.
  • Da missa, você sabe apenas apenas a metade e olhe lá! Somos limitados fisica e - em especial - intelectualmente.  Sozinhos jamais teremos uma visão abrangente de qualquer problema. 
  • Nossa personalidade guarda um lado solar e outro sombrio. Não vá com muita sede ao pote nos relacionamentos pessoais.
  • A  vida é um palco, estamos sempre representando. Não dê crédito ao valor de face. Procure sempre o que está por detrás da máscara; o que é dito e rola nas coxias. 
  • Seus valores e atitudes podem ser os melhores mas não importam. Você será medido pelos valores  da cultura vigente. 
  • Honestidade, correção pessoal, ética alcançam altíssimo valor nos discursos; na vida como ela é, são moedas que valem pouco. Facilmente são sacrificados por...
  • Sucesso, posição social , dinheiro; acompanhados de boas maneiras, então!  
  • A vida é injusta, cruel muitas vezes. Dê seu jeito para torná-la menos inóspita.
  • Uma boa vida afetiva - eu disse afetiva, não sexual! -  é a prioridade número um no plano pessoal. 

Mas, deixemos de lado esse ajuste de contas com o tempo e com a vida passada bem próprias para esta época do ano de um velho lobo solitário e ouvir de coração leve,  a graça e a vivacidade  dos acordes do  violino  na 2o Movimento da Sonata em A maior para violino e baixo contínuo de Pietro Nardini.

 


segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Feirão da Representatividade e Diversidade.

A escolha dos nomes para o futuro ministério de Lula, tem mostrado a paranóia que a guerra cultural que começou lá nos anos 60 do século passado,  nos jogou. Talvez porque se sintam legitimados pela eleição de um governo que é simpático a suas causas, os apóstolos do identitarismo botaram seu bloco na rua  sem pudor algum. Sou tentado muitas vezes a pensar que é uma questão de inteligência dada  a primariedade da argumentação desse pessoal. que parece ter assumido que diversidade na escolha dos nomes para o ministério é critério maior que competência. Nenhuma surpresa já que meritocracia  tornou-se palavrão entre eles.

Algumas pérolas:

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Errou o presidente Lula ao começar com cinco homens. Péssimo.

(Miriam Leitão no Twitter, comentando os primeiros nomes anunciados do Ministério). Mas ela foi além pois ouvi um comentário seu na CBN ou GloboNews em que ela adicionou raça ao gênero... falou em homens brancos.

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Homens brancos são 10 dos 21 ministros de Lula até o momento.

(Título de matéria publicada na Folha de 22.12) 

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Lula consegue sua foto no ministério com mais diversidade mas ainda é pouco.

(Miriam Leitão - O Globo (22.12))

...e lá pelas tantas ela escreve :

  Preterir o nome de Isolda Cela e escolher o de Camilo Santana para a Educação é um mau sinal. 

(Concordo, provavelmente por motivos diferentes. Ela porque  foi preterida uma mulher por um homem - e pior! - branco, eu, porque foi preterida uma pessoa competente, independente de gênero, raça ou opção sexual.)

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Flavia Oliveira, há poucos dias, na GloboNews  sugeriu a criação de novos ministérios: dos Quilombolas, dos Sem-Teto...

(Já são 37 os ministérios, com exageros evidentes como o a criação do ministério dos Direitos Humanos e além dele, os ministérios das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Povos Indígenas. Pensando bem...nessa feira  da diversidade porque não os ministérios dos Quilombolas e dos Sem-Teto).

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Enfim...as minorias terão seu quinhão, muito menor que suas demandas, per supuesto! A conta fica prá nós.




sábado, 24 de dezembro de 2022

Pois nasceu para nós um menino,

 ...um filho nos foi dado. O poder de governar está nos seus ombros. Seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz. Ele estenderá seu domínio, e para a Paz não haverá limites. (Is.9,5-6)

Presépio Igreja N. Sra. da Paz - Ipanema - RJ

Feliz Natal!


 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

A pátria de chuteiras ou "sinto o cheiro do hexa" (IV)

 Prometo que será a postagem derradeira sobre o tema...

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Impressionante o transe por que passam os argentinos em virtude da conquista da Copa. Serão eles também uma pátria de chuteiras? Fico a me perguntar...  e se eles fossem aquela nação top que eram no início do século passado, estariam se esbaldando nas ruas como estão fazendo atualmente? Não teriam assumido uma atitude blasé mais condizente com sua assumida soberba (os buenairenses, pelo menos...)? Ricos, terra do Papa e do melhor jogador desse século...  

Mas a riqueza evaporou-se, viraram vira-latas como nós no concerto das grandes nações. Entraram naquela espiral descendente em que quase todos os países da AL mergulharam. Será que não derivaria daí tamanha catarse? Já que não fazem o dever de casa no que realmente importa, restou-lhes o futebol e... o Papa.

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Apesar de não ser a melhor equipe tecnicamente, a Argentina venceu a Copa. A competência do seu técnico, quase um desconhecido, e a disposição anímica de seus jogadores foram os fatores preponderantes para o sucesso da seleção de nuestros hermanos. Eles que já se acham em condições normais, imagina agora...Ficarão impossíveis e será difícil aturá-los.

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Roberto DaMatta no Globo de hoje fala do fascínio que o futebol exerce sobre as pessoas talvez porque mais do que os outros esportes ele guarda um componente aleatório muito forte, assemelhando-se à vida. É fácil de entender para quem teve algum contato com estatística.  O leque de possibilidades que uma partida de futebol oferece é imenso e o imponderável aparece com frequência, embora a lógica continue sendo a regra geral. São apenas 22 jogadores movimentando-se em uma área em torno de um hectare, tentando colocar uma bola com os pés numa área de 17,85m2. As combinações são infinitas, e zebras e azarões costumam dar o ar da graça, especialmente em torneios mata-mata.

Que "rolem" os 100 primeiros dias!

Diante da inevitabilidade do mal, no segundo turno das eleições presidenciais optei pelo  menor. Foi acima de tudo um voto de rejeição, de medo...do que uma opção por um projeto. Menos mal que tenha sido a opção vencedora. São poucos os pontos em comum que tenho com esse pessoal: a agenda ambiental, o controle das armas. Discordo quase que totalmente da visão heterodoxa e desenvolvimentista que tem da economia; na questão dos costumes e da cultura, alinho-me quase que totalmente às causas consideradas conservadoras.

Alimentava alguma esperança numa mudança da política econômica já que Lula foi eleito por uma frente de partidos, muitos deles de centro, que foram fundamentais para alcançar vitória dado que apertadíssima. Confesso que estou a perdê-la. Os nomes apresentados até agora e os arrufos do eleito contra o mercado indicam que tudo continua como dantes....

É impressionante a arrogância e a autossuficiência  da nossa esquerda. Cabe lembrar que votou contra o Plano Real, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e até contra a Constituição de 88. Não reconhece  que errou com a desastrada política econômica implementada nos anos Dilma que jogou o país numa brutal recessão. Atribuem seus insucessos a fatores exógenos. Bons tempos aqueles em que homens públicos como Juscelino Kubitschek  tinham a coragem de dizer:  - Costumo voltar atrás sim. Não tenho compromisso com o erro. Não espere isso de um petista.

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É bem verdade que o  homem ainda não assumiu e reconhecidamente fez um bom governo nos seus primeiros quatro anos de mandato. Vou conceder-lhe o benefício da dúvida e deixá-lo governar, pelo menos por 100 dias. 

domingo, 18 de dezembro de 2022

Estado Democrático de Direito. Prá quem?

A soltura de Sérgio Cabral era uma questão de tempo. Cumpriram-se as Escrituras... brasileiras, é claro! Foi o último dos grandes larápios da Lava-Jato a ser libertado, não pelo mérito das acusações que pesavam contra ele, sim por incongruências processuais com o nosso ordenamento jurídico. Abaixo um trecho do voto do  príncipe da jurisprudência nacional, Gilmar Mendes  :

"Não se trata, assim, de absolver o ex-governador do Rio de Janeiro pelo crimes imputados na ação penal nº 5063271-36.2016.4.04.7000, nem de negar que os fatos narrados pelo órgão acusador são graves e demandam apuração rigorosa pelo Poder Judiciário. Se trata apenas de afirmar que, em um Estado Democrático de Direito, nenhum cidadão brasileiro, por por mais graves que sejam as acusações que pesam em seu desfavor, pode permanecer indefinidamente submetido a medidas processuais penais extremas, como a prisão cautelar"

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Queria estar errado, mas nosso Cabralzinho só voltará para onde nunca deveria ter saído através de prisão cautelar.  Nosso ordenamento jurídico reza que o cumprimento de uma pena só é possível após o processo transitar em julgado em todas as instâncias da justiça. Ele afanou o suficiente do erário  público para pagar os mais caros e melhores  advogados para interpor liminares ad infinitum para seus processos e levá-los para as calendas. Cadeia? Nevermore.

Nada como ser poderoso no Brasil. Réu confesso, condenado a 425 anos de prisão ele pode flanar por aí, leve, livre e solto usufruindo do dinheiro que amealhou por métodos ilícitos, por obra e graça do nosso Estado Democrático de Direito.  

Pior...vai passar isso na minha cara, pois vai morar num apartamento aqui em Copa. 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Tudo passa

...é uma maneira simples e direta para traduzir a frase latina com origem no catolicismo Sic Transit Gloria Mundi que dá título ao meu blog, e que significa que tudo nesta vida é passageiro. Tudo a ver com o bíblico: - Tu és pó e ao pó tornarás (Gn, 3:19)
Está tatuada no pescoço - vejam só! - do Neymar, um cara que a nega todo o dia, pois adora ostentar. 
Duvido que ele tenha lido um livro na vida e que tenha tatuado essa frase atentando para seu sentido original. Arriscaria dizer que foi depois de alguma desilusão amorosa.
... mas está lá, adornando seu pescoço.
Neymar e eu, tão díspares, temos algo em comum, apesar da motivação ser diferente.
 


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...mas não lhe basta a ostentação. Dissimulação também é uma especialidade do rapaz. Suas quedas cinematográficas durante uma partida tentando induzir o árbitro ao erro, são por demais conhecidas. Deu uma ralentada depois das justas críticas que recebeu. 
Após a derrota para a Croácia, entretanto, aventurou-se em uma nova modalidade de dissimulação. Saiu do campo chorando (!?!) e publicou nas redes sociais que estava psicologicamente destruido com a derrota de acordo com o Correio Braziliense. Nem uma semana havia se passado do infortúnio,  não é que ele promove uma festança na mansão da irmã, Rafaella. 
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Fica difícil ser solidário a você meu caro Neymar. Eu tinha amolecido meu coração após ter visto aquela frase tatuada no seu pescoço.

A pátria de chuteiras ou "sinto cheiro do hexa" (III)

 ...e tudo se acabou em uma sexta-feira; que poderia ser uma quarta-feira de cinzas como diz a canção do Martinho da Vila. Mas bem que parecia. O clima de ressaca era o mesmo.  

A  derrota para a Croácia, mais do que um revés futebolístico foi um duro golpe para a  auto-estima da nação. Como diretamente proporcional ao tamanho do sonho é o da decepção, lágrimas rolaram e  a Copa terminava abortada por aí, para aqueles menos aficcionados ao futebol. A casquinha que poderíamos tirar do resto do mundo - argentinos em especial - e a chance de estufar o peito e proclamar; - Somos os maiorais pelo menos no futebol! -  foi adiada para 2026. Continuaremos a sentir o cheiro do hexa por mais 3 anos e meio. A contagem regressiva já começou. Renovemos as esperanças!

- Somos ou não somos uma pátria de chuteiras?

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Talvez a imagem mais impactante da derrota seja  a foto e a legenda publicadas no NYT. Humilhante para quem se exibia a cada gol com uma dancinha diferente, que mais do que comemoração tinha um apelo próximo ao deboche para os adversários.  
Observe os cabelos descoloridos de quatro  dos seis jogadores que aparecem na foto. Soube que na delegação brasileira havia três cabelereiros (!?!).
Definitivamente, esse pessoal não se leva a sério. Pensando bem...foi bom não voltarem campeões. Legitimariam a dancinha, os cortes e as cores fashion dos cabelos. Tudo fora de propósito!



quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

A pátria de chuteiras ou "sinto cheiro do hexa" (II)

Mais do que o futebol, que em algumas partidas não aparece,  são gratificantes as imagens dos torcedores nos estádios. Imagino que transmitam um pouco da identidade nacional: sul-coreanos chorando copiosamente depois de uma vitória da seleção... as iranianas, sempre belas, de cabeças descobertas e com uma alegria inocente estampada no rosto comparada às  ocidentais... a alegria  assanhada  dos africanos e brasileiros... o olhar enlevado das crianças de mãos dadas aos jogadores na entrada do gramado, particularmente com os ídolos e a incompreensível  indiferença de alguns deles para com elas.

Imagens que valeriam pela Copa mesmo se futebol não houvesse.

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Futebol... uma identidade nacional. Certamente deve ter a companhia do Carnaval. Sei lá... fico pensando na monarquia  para os ingleses, na Kaaba de Meca para os muçulmanos.... símbolos  que - considero - tenham mais corpo, densidade... para a identidade de uma nação ou de um credo, mas futebol, carnaval...

Não há como negar ... dizem muito sobre o país.

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Minha secretária compara a Copa - jogos do Brasil - ao Carnaval. De fato são os dois únicos eventos em que o RJ literalmente pára. Se você precisar de transporte, vai penar...E os serviços de urgência como funcionarão?  Não quereria sofrer um AVC ou um  ataque cardiaco nessas horas. Muita gente deve passar dessa para a outra por conta de um jogo do Brasil na Copa.

Quis o acaso- ou seria o destino? - que eu tivesse agendado uma consulta médica para as 13:00 desta sexta-feira, justo quando estará bombando Brasil x Croácia. Obviamente fui contactado pela secretária do consultório médico para  confirmar a consulta, com a - per supuesto!- estratégica lembrança do evento futebolístico.  Docemente constrangido, digo que não. Configura-se uma desistência de parte do cliente e o consultório médico lava as mãos. Tudo montado muito espertamente.  Como viajo para o Sul no dia 14, a consulta ficou para a volta. Depois de 09 de janeiro...

 É ou não...a pátria de chuteiras?

terça-feira, 29 de novembro de 2022

LBGTQIA+

 ...e não é que descobri o significado do acrônimo?

lésbicas, bissexuais,gays, transsexuais, queer, interssexuais, assexuais e outras possíveis classificações (+)

O sinal (+) talvez seja a parte mais importante, pois não há  obra em aberto maior no mundo do que este acrônimo.  

Talvez eu deva me informar mais mas foge da minha compreensão, o que cada  grupo minoritário oprimido, abrigado debaixo do acrônimo, representa. Por tudo, com tudo e acima de tudo,  que viva a diversidade! 

(está em uma matéria da Folha a respeito da palavra do ano para o Webster: gaslighting *)

* manipulação psicológica de uma pessoa, geralmente por um longo período de tempo, o que faz com que a vítima questione a validade de seus próprios pensamentos.

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Lá pelas tantas a matéria  associa a palavra a violência de gênero, relacionando-a  a manipulação das mulheres por seus parceiros...prá fazer uma média com a maioria dos  seus leitores progressistas. Apenas mais um exemplo do proselitismo cada vez mais escancarado da mídia tradicional.

A pátria de chuteiras... ou "sinto o cheiro de hexa"!

Confesso que estes dias de Copa além de me darem o prazer de ver  como anda a futebol pelo mundo - nos demais, sou um fiel aficcionado de Premier League  e de futebol bem jogado -  trazem-me o desconforto de conviver com o ufanismo que viceja como erva daninha nas peças publicitárias, no acompanhamento obsessivo que a imprensa faz da seleção  e nas transmissões e comentários da maior parte da nosso jornalismo esportivo - Galvão Bueno, primum inter pares.  É o vamo qui vamo, agora é nóis;  um verdadeiro pé-no-saco

Torço contra low profile, pois qualquer manifestação mais efusiva ou opinião mais contundente  pode dar motivos a que me qualifiquem de antipatriota, como se torcer pelo sucesso da seleção de futebol do país fosse um atestado de amor e respeito por ele. 

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Tudo começou na Copa de 70 quando o governo da época usou politicamente o tricampeonato da seleção. Daí para a frente, meu antipatriotismo só faz aumentar. Mais do que torcer pelo insucesso dos canarinhos tem a ver com o porre que damos ao nosso imaginário a cada campeonato mundial conquistado. Funciona como uma compensação para nosso desempenho de seleção de segunda ou terceira categoria naqueles quesitos que nos colocariam na prateleira de um país desenvolvido e mesmo uma potência mundial. Já que não dá para sermos campeões no que importa, que seja no futebol. Assim podemos tirar uma casquinha dos europeus e dos americanos. E vamos nos auto-enganando. Seremos um eterno país em desenvolvimento, mas potências mundiais no futebol.

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Adoraria saber quando se estabeleceu esse sentimento entre o povo. Desde sempre? Creio que não. Começou em 58, depois da primeira Copa... ou depois de 70, quando lembro que o tricampeonato foi explorado exaustivamente para outros fins além dos futebolísticos? A pesquisar...

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Somos tão auto-referenciados na matéria que há quem atribua o insucesso da seleção alemã depois da Copa de 2014 e o atual insucesso da  seleção belga à maldição brasileira. Ousaram  tirar o título do Brasil nas Copas de 14 e 18.

- Com brasileiros não há quem possa!

domingo, 20 de novembro de 2022

80 anos de Paulinho da Viola (II)

Paulinho-sambista, em uma das suas composiçõe preferidas, na voz de Nara Leão, uma das minhas preferidas, como mulher, como cantora...:




Paulinho chorão:






quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Conflito de interesses...Qual o problema?

O imaginário nacional jogou prá debaixo do tapete desde sempre. Já vivenciei na empresa e - não lembro! - devo ter feito pelo menos um post anteriormente sobre casos do passado, creio que envolvendo Gilmar Mendes - sempre ele! -  que não se declarou impedido de julgar um caso de Jacob Barata Filho,  empresário - capo? -  do  transporte coletivo do RJ, mesmo tendo sido padrinho de casamento de uma das suas filhas.

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Lula viajou para a COP27 nas asas de um jatinho de um empresário amigo, dono de uma importante empresa que vende planos de saúde no país - setor que tem lobby poderosíssimo no Congresso. Já andou enrolado com a Justiça e dela se escapou através de uma delação premiada.

Vai que apareça ao longo do seu mandato alguma medida que beneficie o setor - ou pior! - a própria empresa? As suspeitas logo irão aflorar. E com razão...

Duro é ver muito jornalista defendendo o futuro presidente, não vendo nenhum problema com o fato. Aliás, a imprensa chapa branca dos tempos dos governos petistas voltou, agora com colunistas defendendo desabridamente o presidente recém-eleito.

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Cinco ministros do STF participaram em NY de uma conferência de dois dias para mais de 260 empresários brasileiros. Viajaram com TODAS as despesas pagas pela LIDE, empresa de João Dória que organizou o evento.

Desta vez não apareceu jornalista para defendê-los - o Judicionário anda em baixa na opinião pública . Além de xingados por manifestantes, foram ridicularizados por Conrado Hubner Mendes na Folha de hoje que qualificou o evento como uma micareta 5 estrelas. Não deixa de ser. Qual a razão para uma conferência para a elite econômica brasileira com a participação de ministros do STF -  tudo junto e misturado - discutindo problemas nacionais ser realizada em uma cidade do exterior? 

É um exemplo claro de promiscuidade entre um poder da República - res publica -  e um grupo privado do andar de cima do país. Nenhum ministro viu  conflito de interesses em participar do evento. Vá lá tivessem custeado suas despesas...

O descrédito nas instituições do país e a ira dos bolsonaristas contra o STF não são portanto gratuitos.

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Corria na Europa, durante o século 17, a crença de que aquém da linha do Equador não existe nenhum pecado: Ultra aequinoxialem non peccari. Barleaus, que menciona o ditado, comenta-o, dizendo: "Como se a linha que divide o mundo em dois hemisférios também separasse a virtude do vício" 

Sérgio Buarque de Holanda (1932), Raizes do Brasil  - Notas de Rodapé.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

De tédio, o carioca não morre.

 ...e não é que, ontem à tarde, um daqueles navios que fica atracado na parte mais interna da baia de Guanabara em um local que é chamado cemitério de navios e que fica à esquerda de quem segue do Rio para Niterói pela ponte,  soltou-se das amarras e veio bater na própria? Era um graneleiro com 200m de comprimento e 30m de largura. Imagina o susto de quem passava por lá na hora. 

Menos mal que os danos tenham sido superficiais sem abalo na estrutura da ponte. Já pensou na tragédia caso ela se partisse, por exemplo.... Mas desde sempre tivemos mais sorte do que juizo. Resta saber até quando...

A história da embarcação, fundeada na baia desde 2016, tem prá todos os gostos... morosidade da justiça, omissão e descaso das autoridades; até trabalho escravo foi constatado. De acordo com matéria de O Globo há outras 58 embarcações  em condições similares abandonadas no dito  cemitério. O Brasil em todo o seu esplendor.

no

Se você é um cara rodado e pensa que já viu de tudo na vida, venha morar no Rio de Janeiro e logo constatará o equívoco que cometeu.  Estabeleça-se por aqui por um período de tempo que não precisa ser muito extenso. Venha com um estoque extra de adrenalina porque você vai precisar. O Rio de Janeiro oferece atrações inusitadas e um carrossel de emoções diárias. Não é qualquer cidade afinal que oferece a possibilidade de ter um navio de 200m de comprimento e 30m de largura à deriva numa baía cortada por uma ponte.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Pregam, mas não praticam.

O que dizer da verdadeira caça às bruxas promovida pelos autoproclamados setores culturais progressistas contra a atriz Cássia Kiss pelo fato de ser uma católica conservadora e defender suas posições com veemência? Cogitou-se em retirá-la do elenco da novela, em demití-la da Globo. O ator  Juliano Cazarré já havia declarado ao  programa matinal da Ana Maria Braga da  emissora que não é fácil ser católico no meio artístico.

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É incrível a cara-de-pau desse pessoal. Criticam com veemência a intolerância e boçalidade do reacionarismo bolsonarista, pregam o respeito à diversidade com o fervor de cruzados, mas na hora de praticá-la, tomam atitudes que fariam corar aqueles que criticam. Vai ver que a tolerância a que se referem só deve ser praticada para quem é da tchurma, bem ao espírito da frase, a quem se atribuem diversos autores:  - Todos sabíamos que era um canalha, mas ele era o nosso canalha.

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Endosso em boa parte o texto de Eduardo Affonso para o Globo, uma das raras vozes a se levantar em defesa da atriz no meio jornalistico, alinhadíssimo ao cultural.


80 anos de Paulinho da Viola

A grande - talvez a maior -  geração da música brasileira ou está morrendo -  Gal Costa  se foi na  semana que passou! - ou ficando octogenária como Paulinho que completou 80 anos dia 12. Ele se junta à constelação de Chico, Caetano, Gil e Milton, todos também com 80 anos. É de se supor que baianos da Tropicália e mineiros do Clube da Esquina também devam estar vizinhos a ela. Todos começaram a brilhar nos  anos 60 do século passado; uma década que deixou marcas profundas na cultura do Brasil e do mundo inteiro. E pensar que vivi esses anos em um seminário. Acompanhava de longe pelos jornais. Foi o que me coube.

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Paulinho sempre trilhou caminhos próprios. A fidelidade às suas raizes do samba e do choro, entretanto, não  impediu que  trocasse figurinhas com os outros  expoentes da sua época - alguns deles citados acima - e que trilhavam outros caminhos musicais. Ele, que  mesmo não tendo nascido no morro - tijucano que acabou se fixando em Botafogo -  convivia, cantava  e compunha com o pessoal que lá morava. 

Discreto, afável, deixa a impressão de ter aquilo que os gaúchos chamam de  lhaneza no trato. Deve ter sido uma das tantas razões que o levaram a  ser considerado o  Príncipe do Samba; ele que nem do morro é.

Mesmo não sendo muito afeito ao samba passei a considerá-lo muito, depois de um episódio ocorrido num desses mega-shows que a Prefeitura do Rio promovia nos finais de ano em Copacabana para o qual foi contratada a nata da MPB; sei que Gil e Caetano estavam. Não lembro por qual motivo, foram revelados os cachês astronômicos pagos a esses caras e que todos à excessão de Paulinho - tinha um cachê menor -  declararam valores mais baixos para fugir do fisco. Paulinho, elegante até na cobiça pelo vil metal.

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Em uma entrevista dada à Ilustrissima no dia 11, mostrou que é um sábio também:

...quando você é mais jovem, tem projetos e erra muito. Não quer dizer que aos 80 anos você não vá errar, mas tem coisas que escreveu ou fez ou disse que você não diria mais. Aos poucos, vai amadurecendo até o ponto em que descobre que não sabe nada 

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É de Paulinho uma das 10 músicas brasileiras que eu elencaria sempre: Sinal Fechado, aqui com Elis Regina, no antológico Transversal do Tempo. É um hino da incomunicabilidade e solidão humanas. Bem que podia fazer parte da trilha sonora de um filme de Bergman.

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Mas isso não é o Paulinho-raíz. Prá marcar esse lado, vai aí um choro com Paulinho no cavaquinho, seu pai Cezar Faria no violão, Copinha na flauta, Elton Medeiros no pandeiro e por aí vai (créditos ao final). Só bambas...



segunda-feira, 7 de novembro de 2022

120 anos de Drummond

 

Poema das sete faces

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

 

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.


O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.


O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode.


Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.


Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.


Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.

Alguma Poesia - 1930 

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Acho que ele pensava em mim quando escreveu esse poema. Até o nome ele acertou. 

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Drummond em Copa ( das minhas caminhadas)


domingo, 6 de novembro de 2022

Passando por aqui para lembrar

 ... ao Exmo Sr. Presidente da República eleito no domingo que passou que ele só chegou ao terceiro mandato, graças aos votos daqueles que o escolheram para evitar um mal maior, representado pela reeleição do capitão. Seu número - entre os quais me incluo - certamente é muito maior do que a vantagem que o senhor alcançou nas urnas. 

Compõem o bloco majoritário do eleitorado do país os votos dados ao capitão acrescidos dos votos de eleitores mais ao centro do espectro político que apesar de terem optado pelo senhor no 2o turno,  discordam da maior parte do programa político e econômico do arco de  partidos de esquerda que o apoiou no 1o turno. 

Seu núcleo partidário-raiz é minoria, Sr. Presidente. Não pense em governar apenas para a militância que somente com seus votos não o elegeria. Provavelmente o senhor estaria contratando a volta de uma tragédia: a ameaça da volta do capitão.  

....e não é apenas a imprensa

 ...que me dá motivos para aguçar o espírito crítico; também as traduções, que alguém já traduziu (!?!) como traições.  A julgar por este exemplo ...

No artigo de Mario Sergio Conti para a Folha de ontem - peça laudatória à entidade eleita presidente da República no domingo que passou -  é citada uma frase recitada pelo coro ao final da  peça Édipo Rei de Sófocles:

Não se diga que um homem é feliz até ele estar morto.

Fui consultar o livro Tragédias da coleção Grandes Clássicos da extinta Abril Cultural, em que Edipo Rei está incluida e vejam a tradução que Geir Campos deu para a frase: 

Por esta razão, enquanto uma pessoa não deixar esta vida sem conhecer a dor, não se pode dizer que foi feliz.

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Qual é a correta? O ideal seria o acesso à obra original. No exemplo, o grego. Quantos o conhecem a fundo para se habilitarem a traduzir?

Boa parte dos clássicos da antiguidade foram  escritos em linguas mortas, como o grego e o latim, ou em versões arcaicas do inglês como as obras de Shakespeare, por exemplo. Muito provavelmente a maior parte delas são traduzidas para o português, a partir de  uma versão dos originais para o francês ou o inglês, na sua forma atual.

Mais preocupante ainda é o fato de que a partir de uma tradução de uma tradução - bota traição aí...- defendem-se teses, escrevem-se artigos para jornais e revistas. 

Cum grano salis, já diziam os latínos.  Não compra como verdade o que te vendem pelo seu valor de face. 


sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Acredita quem quiser...

Mais avanço nos anos e mais e mais vou desmontando minhas crenças; uma delas é a de obter informação isenta a partir de uma única fonte da imprensa. Vejam  esta matéria da Folha a respeito do campeonato mundial de ginástica artística, título inédito para o Brasil conquistado por  Rebeca Andrade ontem em Liverpool. Fala apenas na garota de Guarulhos (SP), sem fazer qualquer referência ao fato dela ser atleta do Flamengo desde 2011, quando lá chegou aos 12 anos de idade. 

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Fala-se muito e mal - com razão! - das fake news propagadas pelas redes sociais, entretanto, o que dizer dessa notícia? É uma meia verdade como toda fake news, apenas mais elaborada. Pode-se dizer que é o modus operandi da nossa midia mainstream que omite fatos relevantes que deseja esconder do leitor/espectador, denuncia à exaustão quem a desagrada  e  põe em destaque aqueles que lhe são simpáticos; e nem estou falando do inocente bairrismo que sofre, como mostra o  exemplo citado acima. Vá lá, fosse uma matéria assinada, mas é uma notícia. Cadê a imparcialidade?

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A polarização parece ter exacerbado o problema e valer-se de apenas uma fonte de informação é atitude temerária. Cada vez mais as publicações tornam-se representantes de nicho. Basta assistir o video que circula por aí com a comemoração nos estúdios da Globo após a virada de Lula na apuração dos votos do 2o turno no domingo que passou. Curioso é que tem muito progressista que atribue à emissora a condição  de anti-petista. 

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 Assino eletronicamente quatro jornais, além de outras fontes que acesso gratuitamente. Haja tempo para tentar consolidar as diferentes abordagens e elaborar a uma visão mais próxima da realidade.

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.... e tem gente que defende com unhas e dentes a primazia dessa entidade pós-moderna chamada  lugar de fala. Ou são mal-informados ou então mal-intencionados. 

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Estou procurando alguém que tenha compromisso com a verdade na imprensa brasileira, à semelhança de Diógenes, filósofo grego da escola cínica, que saia às ruas de Atenas com uma lanterna à procura de alguém decente.

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Rescaldo (!?!) das urnas.(II)

 ... e pela segunda vez na vida ganhei uma eleição para Presidente da República. Não foi um voto em um projeto de país, foi um voto do medo. O Capitão era uma ameaça às instituições da nossa cambaleante democracia, dai que para evitar um mal maior, votei num mal menor. Parafraseando a massa:  - Não tem tu, vai tu mesmo.

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Certamente haverá avanços na área ambiental, na inserção internacional do país. Não tenho  muitas esperanças em educação e cultura dado o viés ideológico do progressismo na área. Temo sinceramente o que podem aprontar com a economia caso seu comando seja confiado a um discípulo da heterodoxia, matriz do pensamento economico petista. Temo também pelo protagonismo das minorias barulhentas que libertas das amarras do reacionarismo bolsonarista, passem para um ativismo que certamente poderá desencadear uma contra-reação da turma que perdeu. É no campo dos costumes que vejo a causa maior da cisão do país.

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Além de despachar o Capitão, a boa notícia é que estados importantes como Rio Grande do Sul e Pernambuco elegeram governadores mais ao centro do espectro ideológico - será que existe? -  do país. Espero que sejam protagonistas, em meio à irracional  radicalização em que mergulhamos. 

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Lula ganhou essa eleição não apenas por ser Lula, mas sobretudo por não ser Bolsonaro, escreveu o editorialista de O Globo na edição de hoje. Eu não diria sobretudo,  mas boa parte dos votos que recebeu - o meu, por exemplo - ele pode creditar ao fato de que um valor mais alto se levantava: a contituidade das instituições democráticas. 



terça-feira, 18 de outubro de 2022

...e lá se foram 71!

 Deixo as considerações  para Mário Quintana:

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. 

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo… 

Quando se vê, já é 6ª-feira… 

Quando se vê, passaram 60 anos! 

Agora, é tarde demais para ser reprovado… 

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, 

eu nem olhava o relógio 

seguia sempre em frente… 

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas. 


(QUINTANA, Mario. Nova Antologia Poética. 9. ed. São Paulo: Globo, 2003.) 

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

...se merecem.(sic)

A propaganda política para o segundo turno virou uma lavação de roupa suja. É uma baixaria só. Até pedofilia, canibalismo e satanismo (?!?) entraram na pauta. É mais um aspecto que junta os dois extremos que, infelizmente são as tendências majoritárias a postular a Presidência. Eles se merecem, como reza o dito popular. O pessoal progressista tem no seu prontuário - estou apenas citando o que me vem à mente! - o falso dossiê sobre o candidato Serra na campanha presidencial de 2010, a destruição de reputação que fizeram com Marina Silva nas eleições de 2014 e nesta com Ciro Gomes. O bolsonarismo, entrou na arena mais tarde, já suplantou os mestres no quesito e opera em outros moldes - domina amplamente as redes sociais. Tem sua central, dizem os experts, dentro do próprio Palácio do Planalto comandada por Carluxo y sus cantantes. É ou não uma república bananeira?

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É cada vez maior meu desinteresse pela política do dia-a-dia. Ontem houve debate entre as duas entidades que comandam as duas turbas. Não assisti pois imaginava que seria uma competição para ver quem mais desestabilizava o adversário. Pelos comentários que li até agora, foi até civilizado o enfrentamento, face ao que rola no horário eleitoral de rádio e TV.

Em contra-partida, assisti a mais de três horas de futebol. Até o querido Colorado, com um time que deixa muito a desejar e um treinador que mais briga com a arbitragem do que orienta seus jogadores à beira do campo, tem mais apelo do que os nossos políticos. 

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Já houve época em que eu considerava a definição de animal político mais adequada para o ser humano, ao invés de animal racional,  clássica na filosofia grega. 

...mas os anos passam!  Estou começando a considerar que mais que racional ou político o homem  é um animal futebolístico.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Alumbramento

Na  luz desbotada  do metrô,

o brilho dos teus olhos,

teu sorriso franco,

tua beleza clássica,

iluminavam  mais que o sol de todos os deuses.


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Um Brazil que não vê e/ou não entende o Brasil (II)

São raros os artigos e comentários na midia tradicional que se dão conta da existência de um Brasil que começa a engolir o Brazil. 

Mathias de Alencastro, um brazileiro  que escreve para a Folha, apesar do proselitismo revelado no último parágrafo, deu-se conta da existência de um outro país que não é o da costa, dos grandes centros urbanos industrializados e dos nichos intelectualizados que dominam a academia, aos quais a midia tradicional é sempre aderente.

Bem-vindo a esse mundo, meu caro Mathias. Apesar de ter vivido a maior parte do tempo de minha vida no Brazil, tenho um pé no Brasil, em função das minhas origens e formação pré-universitária. Conheço bem o imaginário desse povo. 


sábado, 8 de outubro de 2022

As aparências enganam

 ... já dizia a raposa para o principezinho no Pequeno Príncipe de Saint-Exupèry, livro polêmico e muito em voga na segunda metade do século passado. Uma matéria  da UOL onde são entrevistadas diversas catadoras de recicláveis que se submeteram  a  uma repaginação facial mostra os efeitos por ela provocados na sua auto-estima (?!?). A  mudança - pelo menos para um leigo como eu - é surpreeendente e radical, como atestam as fotos de uma delas, abaixo.

 Com o passar dos anos, cada vez mais me pergunto sempre que vejo o rosto quase que perfeito de uma mulher, a verdade que está por detrás dele e convenço-me da veracidade da frase - eu diria que a velhice mostra que é acaciana! - da amiga do principezinho.

Vem-me à mente outra,  atribuida a Marx: Tudo que é sólido desmancha no ar. O que dizer de um tratamente de beleza? 

Paradoxalmente, mas como tratamos do ser humano não causa espanto...pense o que quiser, diga o que disser, as mulheres continuarão a submeter-se a eles, e os homens, aprovando. É uma acordo tácito que poderia ser resumido no popularesco me engana que eu gosto!

(Uol)


Um Brazil que não vê e/ou não entende o Brasil

Não sei se vivo em um mundo paralelo ou se fui  eu  que mudei mas o fato é que sinto-me cada vez mais um estrangeiro acompanhando em especial a opinião dos articulistas e - menos! - as notícias  que estão nas telas de TV e nos jornais agora on line. Era ouvinte assíduo de canais de notícias no rádio e na TV, hoje lhes  dedico cada vez menos tempo. A sensação que tenho é que se tornaram veículos de nicho, dirigidos para públicos específicos. Não há preocupação em apresentar os fatos de uma maneira minimamente imparcial,  nem em elaborar uma análise afastada da posição política/ideológica dos articulistas. Omite-se o que contraria a linha editorial, superexpõe-se o que vai ao encontro dela, e o proselitismo opiniático é desabrido.  O mundo que se vê ali é o mundo da costa, dos grandes centros urbanos e, - pior! - de nichos dentro desses centros. Ando pelas ruas, vou às feiras e não há nada parecido com o que alí é retratado.

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O resultado das eleições revela o descolamento da realidade vivido pelo pessoal que produz o que esses meios veiculam. O tema chegou a ser abordado em um programa que comentava os resultados no domingo que passou,  e até houve um mea culpa de raros participantes.  Foi pontual porque o pessoal continua na mesma batida. Veja por exemplo o comentário desse articulista da UOL que  ao invés de analisar as razões porque a centro-direita está convergindo para a extrema-direita como mostraram as urnas e o posicionamento dos políticos quanto aos apoios para o segundo turno,  põe-se  a fazer proselitismo para que ela abandone essa atitude. 

Demétrio Magnoli no seu artigo de hoje para a Folha, também revela seu estranhamento com o que se passa com boa parte da nossa midia mainstream.

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Não é de se estranhar que  no Brasil a confiança em notícias seja maior no WhatsApp e no Google  do que na midia tradicional como revela uma pesquisa patrocinada pelo Reuters Institute associado à Universidade de Oxford e revelada pelo articulista da UOL,  J. R. de Toledo

Estão colhendo o que semeiam.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Rescaldo (!?!) das urnas.

A doublé de apresentadora/repórter de política não conseguia esconder  no rosto sua estupefação com os números inesperados que se sucediam na tela do programa de TV que coordenava e que eu assistia no final de domingo após a abertura das urnas. Todos esperavam uma vitória de Lula no primeiro turno ou  que ele alcançasse números muito próximos aos 50% dos votos válidos,  mas o que se viu um crescimento significativo dos votos em candidatos conservadores e no capitão. Ela, como a maior parte da grande mídia que é progressista, fizeram uma clara opção por Lula, daí sua reação. Vivem nos grandes centros urbanos, em bolhas progressistas e desconhecem o imaginário do povo que vive nas periferias das grandes cidades ou do interior profundo do país. Quebraram a cara! As pesquisas também. Nem tanto quanto aos votos progressistas, mas significativamente quanto aos votos conservadores. E por incrível que pareça, foram os institutos mais conceituados aqueles que mais erraram.

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Muito se falou e escreveu sobre o fato. Do que lí e ouvi, concluo que mais do que o conservadorismo, foi o antipetismo quem determinou o resultado. Ou melhor, mais do que conservadora, grande parte - a maior? -  da população ainda é antipetista. Como ninguém de centro - antes o PSDB cumpria esse papel -  empolgou-os suficientemente, ainda no primeito turno sufragaram o capitão. É péssimo para a democracia, porque ele não é um democrata. 

É inimaginável dar-lhe carta branca para um segundo mandato, pois a criatura vai continuar tentando de uma maneira soft ou hard - opção fora da moda, mas com o capitão tudo pode acontecer!  instaurar um regime totalitário. A maioria conservadora que se elegeu para o Congresso, vai facilitar enormemente seus propósitos. Não pretendia votar no segundo turno pois estou com 70 anos, mas vejo que em nome da manutenção da democracia - um valor mais alto se alevanta! -  terei que cumprir meu dever cívico e votar pela volta da picanha e da  cerveja na laje. Melhor perder os anéis do que os dedos.

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E falando nos eleitos para o Congresso, citei no post anterior vários nomes de candidatos que me causavam estupefação pelo fato de ainda terem a cara de pau de apresentaram-se como candidatos mesmo com a fornida lista de mal-feitos que enriquece seu prontuário. Afora os membros da família Picciani, Cabral e de Wilson Witzel, todos os outros foram eleitos. O que dizer da votação do Gen. Pazzuelo ou de Daniel Silveira que recebeu 1,5 milhão de votos, mesmo com a candidatura para senador sub judice? E  estou abordando apenas o caso do Rio de Janeiro. 

É incrível! Apesar da democracia nos facultar o voto livre e direto ainda assim escolhemos mal. Alguém já escreveu que esta não é uma das suas grandes vantagens; o exemplo dessa eleição fala por sí. Por outro lado,  grande vantagem seria a possibilidade que nos oferece,  de despacharmos quem não correspondeu a nossas expectativas. Será? O que ele diria se o capitão vier a ser eleito para um segundo mandato?


sábado, 1 de outubro de 2022

...e chegamos a mais uma eleição.

Em meus 70 anos, elegi apenas um Presidente da República: FHC no seu primeiro mandato e não me arrependo. Seu projeto é o que de mais próximo encontrei com meu imaginário em termos políticos e econômicos; em matéria de costumes nem tanto. Não o sufraguei para um  segundo, pois levantaram-se suspeitas sérias, quanto a uma compra de votos para a aprovação do decreto que  lhe presenteou com o instituto da reeleição;  as consequências danosas arcamos até hoje. Ele próprio  se arrependeu.

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....e não será desta vez também que elegerei um presidente, pois votarei na mulé (Simone Tebet). Passa longe de ser a candidata dos sonhos mas é o que temos. Até poderia ser o Ciro, mas discordo do seu desenvolvimentismo econômico. Quase toda  A. Latina padece dessa visão com os resultados que falam por si. Dos extremos, passo longe...mas hoje são eles que pontificam.

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Divirto-me com a propaganda eleitoral na TV. Não com o tedioso palavrório dos candidatos mas com a sua nominata. Retratam um mundo desconhecido para quem como eu vive a bolha da Zona Sul. Desfilam por lá  o Fulano do Posto, o Beltrano do Pneu, a mulher do Fulano do Posto. E por aí vai...

Ao mesmo tempo assusto-me com a quantidade de candidatos envolvidos com a Justiça e/ou criminalidade, ou ainda que foram um fracasso em seus mandatos: o notório Daniel Silveira prá começar.... Pastor Everaldo, representantes das famílias Brazão, Picciani, Cabral e Cunha, o ex-prefeito Crivella, Wilson Witzel, Julio Lopes, a irmã e o pai que fazem questão de salientar seu parentesco com  o vereador cassado por suas estrepulias sexuais com novinhas... E olha que estou citando apenas os nomes que me vem espontaneamente à mente. O bestialógico é dos mais ricos.

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Costumo aceitar os santinhos dos candidatos que me ofereçem na rua, apenas para ajudar a pessoa que está aí ganhando seu modesto caraminguá. Em uma ocasião, presenteado com um santinho que verifiquei ser do Julio Lopes, exclamei decepcionado: - Logo esse cara... Ladrão! A moça que distribuia o material, riu e disse:  - Pois é!  Ela própria desacreditava do que fazia. Consequência natural de boa parte das nossas práticas políticas. 

E tá cheio de gente por aí reclamando que criminalizaram a política.

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P.S. Julio Lopes era o Pavão na lista de propina da Odebrecht. (É o próprio! Viajei uma vez com ele; terno e gravata impecáveis, cabelo modelado por brilhantina e um olhar muito, mas muito superior. Napoleão perdia!)  Denunciado pela PGR na operação LavaJato, teve sua casa vasculhada mas está aí batalhando por uma boquinha como deputado federal financiado com o meu, o seu, o nosso dinheiro. Dado as voltas que a nossa Justiça dá, certamente conseguiu um status de  candidato Ficha Limpa e deve estar proclamando sua condição aos quatro ventos provavelmente dizendo que nada foi provado contra ele. Acredita quem quiser! Nem eu, nem a mocinha que distribuia os santinhos fazemos tal profissão de fé.


quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Bolsonaro, vá tomar no c...!

...cantavam as crianças de uma escola infantil postadas ao longo do trajeto da motociata liderada pelo capitão pelas ruas de Petrolina-PE, no seu último dia de campanha no Nordeste. (Deu no blog do Noblat)

Homenagem justa,  com termos prá lá de adequados,   ao unusual modus vivendi e modus operandi do nosso presidente que por eles será distinguido na história do país.

De como os poderes constituidos podem destruir sua vida.

A didática reportagem da Piaui não deixa dúvidas quanto ao destino que pode tomar a vida de um simples cidadão como eu, você... que ouse desafiar os poderosos do país. De um lado a família Leite, dona da fazenda Cotia com 136 hectares em Corumbá de Goiás (GO), de outro - olha a constelação! - um político, uma delegada, amigos influentes, um promotor e um juiz. Depois de um processo que durou 10  anos, a  família, além de ter três de seus membros presos, dois mortos, perdeu a casa, as terras, o gado e o dinheiro. Atualmente, conseguiu reaver a posse da fazenda através de liminar, mas lá não se instalou, temendo que a decisão seja derrubada e eles percam novamente a posse. É o enredo clássico daqueles filmes do velho Oeste, que desapareceram do cinema, mas sem final feliz. Poderosos com a sempre necessária cumplicidade/submissão  das instituições fazendo valer seus direitos sobre quem ouse se interpor no seu caminho.  

E há quem diga que vivemos em uma democracia onde as instituições funcionam, em que o estado de direito é respeitado. Certamente a turminha do político deve argumentar que todo o  processo se desenvolveu respeitando os ditames da lei,  o ordenamento jurídico vigente. Entretanto, vá pedir para os membros da família Leite que ficaram na rua da amargura como eles vêem o funcionamento das nossas instituições que de republicano nada tem, infiltradas que estão pelos interesses dos poderosos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Meus heróis morreram todos.(II)

Roger Federer não se foi definitivamente, mas abandonou as quadras. Foi o último grande tenista por quem torci e, certamente, um dos maiores desportistas que conheci. Elegante, sóbrio, enfim, um clássico como pessoa nas quadras e pelo que sei fora delas. Foi comovente vê-lo despedir-se às lágrimas, diante dos grandes - especialmente Nadal (são amigos) e Djokovic -  contra os quais fez partidas memoráveis. 

 
(Blog Bola Amarela)

 Tecnicamente era um jogador completo que alternava o jogo de fundo de quadra com subidas à rede, na minha humilde opinião de leigo. São raros atualmente. A turma do saque e voleio praticamente desapareceu. Prepondera o pessoal que limita-se a trocar bolas no fundo de quadra. 

O tênis masculino está cada vez mais chato, assim como o mundo. Raramente dedico a ele meu tempo diante da TV.

sábado, 17 de setembro de 2022

God save the Queen! (II)

Não deixa de ser surpreendente e principalmente gratificante, nos tempos distópicos em que vivemos onde uma mulher é avaliada pelo  tamanho da sua bunda - nem as gestantes escapam da fixação como mostra a emblemática foto que ilustra a matéria da Folha  - assistir tanto espaço na midia dedicado a uma mulher que pode ser distinguida por virtudes como entrega total ao seu dever, controle emocional e sacrifício pessoal conforme escreveu Brendan O'Neill, o republicano editor-chefe da Spectator

As bundudas que a midia exalta com furor, refletindo a cultura que domina nossos tempos, certamente desconhecem tais atributos. Nem devemos culpá-las, porque sequer os conhecem. Outros valores mais altos - uma bunda grande, por exemplo -  se alevantam no século XXI. E não faltam estímulos para que sejam utilizados, até porque seu sucesso é enorme. 

Talvez o passamento da rainha seja o suspiro derradeiro de uma época. Virtudes que a distinguiram, provavelmente farão parte do passado. Torço para que minhas previsões não se cumpram.

God bless Elisabeth II!

Arco-iris que apareceu no céu junto ao castelo de Windsor, quando a Union Jack desceu a meio-pau no anúncio da morte da rainha. (Getty Images)

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

O que realmente importa

A parábola do filósofo sul-coreano Byung-Chul Hang citado por J.P. Coutinho é  um oásis em meio ao deserto de idéias em que estamos jogados. Um tempo dominado por metanarrativas,  onde  tudo é relativo, mera construção  cultural, jogo de palavras; em que as identidades são fluidas e onde razão e os universais foram jogados no lixo.

A fotografia Boulevard du Temple de Daguerre apresenta de fato uma rua parisiense muito animada. Mas, devido a um tempo de exposição extremamente longo, característico do daguerreótipo, tudo o que se move é levado a desaparecer. Só é visível o que permanece imóvel. O bulevar du Temple irradia uma paz quase aldeã. Além dos prédios e das árvores, vê-se uma única figura humana, um homem a quem engraxam os sapatos e que, por esse motivo, está parado. Assim, a percepção do longo e lento só reconhece coisas imóveis. Tudo o que se apressa está condenado a desaparecer. O Bulevar du Temple pode interpretar-se como um mundo visto com o olhar divino. Ao seu olhar redentor só aparecem aqueles que permanecem numa imobilidade contemplativa. É o silêncio que redime."   

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Meus heróis morreram todos.

 ... raros de overdose, lamento informá-lo meu caro Cazuza.

Caramba, em 15 dias se foram Gorbachev, Elisabeth II. Não consigo vislumbrar mais nenhum grande estadista alive. A partir de agora não há mais ninguém para prantear. A caminhada torna-se cada vez mais solitária. 

Pensando bem.... Restou a turma da overdose.

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

God save the Queen!


Certamente ela foi a maior representante da nobreza do século XX e quiçá de todo o século XXI, dada a baixa credibilidade que atinge atualmente as monarquias do mundo.

Estoica, discreta, humilde, sacrificou sua vida pelo dever da função. Certamente, numa época de proeminênia de direitos como a nossa, onde desfrutar é prioridade, não haverá alguém que lhe faça sombra a curto prazo. A nobreza atual em boa parte circula pelo duvidoso mundo dos famosos  que sobrevivem das fofocas que produzem  na midia tradicional e nem tanto. 

Com ela se vai toda uma era. É a última grande testemunha da história, protagonista em um mundo que se estende da 2a Guerra Mundial - trabalhou como motorista de ambulância nos raids da Lutwaffe sobre Londres - até os dias de hoje. Conheceu todos os grandes personagens da história do período - de Churchill passando por Kennedy, Obama, Mandela, os papas, Gorbachev - claro! -  e porque não, Putin. 

Elisabeth II é outra personalidade - provavelmente a última! -  de quem era fã incondicional. Deu dignidade às monarquias inglesa e do resto do mundo. Sem ela, perderão muito da sua substância, até o surgimento de algum representante com a mesma estatura.

Rest in peace, Her Majesty!

P.S.
  1. J.P. Coutinho, as usual, dá uma aula de erudição ao comentar o papel da monarquia nas instituições políticas britânicas que Elisabeth II, representou com quase perfeição.
  2. Lygia Maria, comenta o patrulhamento das milícias da raça, da identidade e do gênero (essa turma está demais!) quanto ao que consideram omissão da rainha a respeito do passado colonialista/racista do Império Britânico.


quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Imagem do dia

Coube ao  manjado 474 (Jacaré-Jardim de Alá) que cansei de ver, por obra e graça de motoristas malucos em desabalada carreira pela N. Sra. de Copacabana, desafiando todas as leis de trânsito,  dar um toque inusitado a este 7 de setembro que virou o Bolsonaro's Day.

Não é que algumas figurinhas que o frequentam usualmente, responsáveis por alguns assaltos e arrastões na orla, hoje resolveram enfrentar as hordas bolsonaristas que invadiram a minha praia em Copa? Veja eles aí, pendurados nas janelas,  xingando, alguns motoqueiros adoradores do capitão. No vídeo ouvem-se gritos de Lula, Lula...!

Imagem UOL

A imagem é emblemática. Nas janelas do ônibus, está o povo de Lula; pobres e favelados onde ele goza de uma confortável maioria nas pesquisas. Os motoqueiros são o povo bolsonarista; viajei com eles no trajeto que fiz de metrô entre o Jardim Oceânico e minha casa. Vinham para a pajelança em Copacabana. É um pessoal de classe média que ganha entre dois e dez salários mínimos, muito entusiasmado com o seu lider. Goste-se ou não do capitão, ele despertou um movimento que estava sufocado na sociedade brasileira e que a nossa esquerda, míope, insiste em não ver; quando o faz, despreza. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Que belo exemplo o Chile nos dá.

Sempre tive uma particular afeição pelo Chile. Com o Uruguai é o que mais se aproxima do que se pode considerar como um país desenvolvido em Sud América. Estranhei muito as violentas manifestações de 2019 que me pareceram manipuladas por uma minoria extremada. Há de fato problemas com a previdência do país e talvez com o ensino mas os demais, nem de longe assemelham-se aos enfrentados pelos outros países sulamericanos, à exceção do Uruguai. O Chile é o maior PIB per capita do continente, posição conferida por várias instituições econômicas mundiais. 

Uma das reinvindicações dos protestos foi a elaboração de uma nova constituição redigida por uma Assembléia Nacional Constituinte democraticamente eleita e amplamente dominada pelos segmentos progressistas da sociedade num país tido como de maioria conservadora. Dos 155 membros, 52 eram de listas de partidos de esquerda, 48 de listas autodenominadas independentes, 38 de listas de partidos de direita e  17 reservadas para representantes indígenas segundo a DW. A ampla maioria progressista lançou-se à tarefa de refundar o país, redigindo um texto que garantiria à  sociedade chilena mais direitos do que qualquer outra carta redigida até hoje; direito à moradia, educação, ar puro, água, comida, saneamento, acesso à internet, aposentadoria e serviços médicos do nascimento até a morte de acordo com o NYT. Depois de um ano o caudaloso texto com 338 artigos, foi votado e rejeitado por ampla maioria no último domingo. 

Vários são os fatores que determinaram a esmagadora rejeição. Arrisco-me a dizer que, se aprovado, seria o primeira constituição nacional de cunho marcadamente pós-moderno - o pós-modernismo dos anos 90, repleto de reivindicações das minorias e pautas identitárias.  Assim, povos e nações indígenas são citados 47 vezes no texto; a palavra gênero associada aos termos perspectiva, enfoque, paridade e diversidade aparece 39 vezes.  

O artigo primeiro estabelece o Chile como um estado plurinacional. Tenho dificuldades para entender o termo; seria para respeitar os povos indígenas que são 13% da população? A autonomia a eles concedida em termos de governo, cultura,  território e de jurisprudência (artigos 34 190, 234,309), sugere que eles seriam um estado dentro do estado chileno. 

O artigo sexto, estabelece representação paritária de homens e mulheres em todos os órgãos colegiados do Estado, diretorias de empresas públicas e semipúblicas. Igualdade de direitos seria representação paritária? Será que as habilidades e preferências pelos mais diversos ramos da atividade humana são exatamente iguais entre homens e mulheres?

São alguns dos temas polêmicos apresentados pelo texto e não fica difícil entender porque em um país de maioria conservadora, ele acabou tendo uma desaprovação tão significativa. Torço para que eles se entendam nessas questões e redijam um texto mais alinhado com os valores e o imaginário da maioria da população.

Fica a lição de que em uma democracia, minorias jamais imporão suas pautas. Para isso terão que se tornar maiorias. 

Ricos e poderosos continuam dançando à beira do abismo.

O post da Malu Gaspar em seu blog ancorado em O Globo digital mostra como ricos e poderosos com a ajudinha da Justiça, amparada no ordenamento jurídico nacional, invariavelmente conseguem safar-se dos mal-feitos dos quais são acusados.

Diante das novas descobertas do estranho fascinio que a famiglia Bolsonaro tem pelos negócios com dinheiro vivo - uma forma consagrada de lavagem de dinheiro -  a jornalista analisa os caminhos às vezes tortuosos, por onde transitam os processos movidos contra o clã,  até serem considerados nulos pela Justiça. Investigações do MP e da imprensa, relatórios do COAF mostram evidências sobre uma série de irregularidades em que estão envolvidos filhos, ex-mulheres e irmãos do presidente. 

Mas aí entra a Justiça com decisões marotas e inéditas para invalidar provas (relatório do COAF), suspender decisões de tribunais inferiores, transferir processos para outros foros até se chegar ao arquivamento dos processos como os da rachadinhas em que está envolvido o filho Flávio. A materialidade dos fatos nunca foi negada nas decisões, o argumento usado para a anulação baseia-se em questões processuais. 

Já vimos esse filme em diversos processos movidos pela LavaJato (Lula é o exemplo maior). Não deixa de ser irônico, uma vez que  o descrédito nas instituições é uma das razões apontadas para a ascenção do bolsonarismo que não se envergonha de  fazer uso dos mesmos expedientes quando se trata de limpar a própria cara

Nossa Justiça com suas interpretações da lei de acordo com as conveniências da hora, com a primazia que dá aos ritos, em detrimento da materialidade das ilicitudes,  alarga cada mais mais o fosso entre o que é de direito e o que é de fato. É um tiro no pé, uma vez que desacredita a si própria e perigoso para a democracia e o tal estado de direito que nossos democratas  defendem com fervor, desde que funcione a seu favor, de seus prepostos e apaniguados.

Vai que um dia o povão canse e bote para quebrar jogando no abismo essa turma que se diverte como se não houvesse amanhã,  à beira dele. 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

A marcha da insensatez (III)

O artigo de Sylvia Colombo para o UOL mostra com clareza que a insensatez não é privilégio apenas do Rio de Janeiro... do Brasil... mas também da América Latina. 

Ela considera uma ambiguidade dos argentinos o fato de Cristina Kirchner manter  sua popularidade alta, conseguindo concentrar diuturnamente um grande número de apoiadores em frente a sua residência, mesmo acusada em quatro casos de corrupção e agora ter contra si um pedido de prisão de 12 anos feito por um promotor local. É nessa popularidade que ela aposta sua defesa, de acordo com a colunista.

Qualquer semelhança com o acampamento instalado em frente à carceragem da Polícia Federal em Curitiba, durante a prisão de Lula não é mera coincidência.

Nosso imaginário torto de latinoamericanos está sempre a espera de um cavaleiro andante que venha nos redimir. Um salvador que transcenda o bem e do mal, acima da Constituição - pacto soberano escrito por todos -  que deveria ser a instância máxima de uma democracia liberal. Tais demiurgos são inimputáveis. Peça a um lulo-petista, a um peronista ou a um bolsonarista a respeito dos mal-feitos dos governos dos seus jefes, capitães, ou seja lá como o milagreiro é chamado. Eles desconhecem. No caso do lulo-petismo basta ler os comentários ao artigo.

Tamanha insensatez não tirará esse insignificante continente - superamos tão somente a África - do secular atoleiro em que se meteu.

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Uma lágrima para...

Mikhail Gorbachev, um dos grandes estadistas da segunda metade do século XX. Era seu fã incondicional e fiquei muito desapontado com o seu virtual desaparecimento da cena da política russa após sua renúncia como último presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Naquele dia, 25.12.1991, a legendária bandeira vermelha com a foice e o martelo foi arriada do  Kremlin para dar lugar à atual bandeira tricolor.  

Apesar de reverenciado no Ocidente, como um dos principais arquitetos do final da Guerra Fria, internamente ele foi acusado de ter desmontado o império soviético - a antiga URSS - e até hoje é desprezado - um ingênuo a serviço do Ocidente - por aqueles que  acreditam na Grande Rússia  e consideram  o mundo ocidental e seus valores -  liberalismo em especial - um inimigo a ser combatido. 

Vladimir Putin abraça a tese. É dele a frase de que a maior catástrofe geopolítica do século XX foi o colapso da União Soviética. Arrisco-me a afirmar que Putin é o antípoda de Gorbachev, já que tenta reconstruir a Grande Rússia sonhada pelos eslavófilos. A invasão da Ucrânia é apenas um capítulo dessa reconquista.  

Para Gorbachev ajustam-se as palavras do Evangelho: Nenhum profeta é bem recebido em sua terra. (Lc, 4,24).

Capa da publicação portuguesa  Público (31.08.2022)

P.S. Demétrio Magnoli em O Globo, faz uma elegia, com maior brilho e erudição, a um dos grandes estadistas da segunda metade do século XX, que se foi como viveu os últimos anos de sua vida, silenciosamente.