quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Patroinha

Ela entrou em casa por obra e graça da minha sobrinha, por alegadas razões de que não tinha compatibilidade com outra gata que resolvera adotar. É arisca, antissocial. Tudo a ver comigo. No início a relação foi conflituosa. Suas unhas fizeram-me sangrar muitas vezes. 

Pode-se dizer que hoje estamos pacificados. Ela foi minha grande companheira na pandemia. Estava sempre pronta para me ouvir na dor, na tristeza e na alegria. Mas como dá trabalho... é xixi fora da caixinha pelo menos uma vez na semana...são as bolas de pelo que vomita e até, eventualmente,  a ração que come.Prá não falar da multidão de pelos que deixa pela casa toda. 

Volta e meia dorme comigo. Se instala, junto aos meus pés e por lá passa a noite.

Pela madrugada, invariavelmente vem ao meu quarto ronronando e miando baixinho. A danada quer ração fresquinha no prato! E lá vou eu - trôpego, cambaleando de sono! - satisfazer suas vontades.

A Pretinha, - bola peludinha - tornou-se minha senhora. 





segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Ilusões da vida.

Quem passou pela vida em branca nuvem, 
E em plácido repouso adormeceu; 
Quem não sentiu o frio da desgraça, 
Quem passou pela vida e não sofreu; 
Foi espectro de homem, não foi homem, 
Só passou pela vida, não viveu. 

Francisco Otaviano 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Septuagenário

Assusta! Há uma imensa sensação de que o tempo escorreu pelas mãos. Sete décadas... Logo, será um século.

Sou um sobrevivente porque - em termos de saúde -  sempre naveguei em mares revoltos ao longo desses 70 anos. Já frequentei os umbrais da morte pelo menos em duas oportunidades. Como tudo tem seu preço, enfrento problemas sérios com meu joelho esquerdo. Uma intervenção cirúrgica  para minimizar o problema foi vetada,  dada minha história pretérita. Essa é a vida... Em termos de saúde corporal, aqui você faz, aqui você paga.

Mesmo assim ... pelo menos fisicamente sinto-me aquém dos setenta. Mentalmente, entretanto, há um constante olhar para esse imenso campo pós-colheita que é nosso passado e muitas questões assomam dos porões da alma. As escolhas mal feitas, os desencontros do querer, o auto-engano...

Os campos foram ceifados; não há mais o que fazer. Daqui para a frente, importa seguir caminhando... até o mais amargo fim.

terça-feira, 5 de outubro de 2021