domingo, 30 de dezembro de 2012

A mulher não ama, tem propósito.

Lí isso ontem no avião e era atribuido à Marta Medeiros (Coluna do Ancelmo Góis - O Globo, 30.12.2012).
Pensando bem ela tem razão. Mulheres são práticas. O amor está longe de ser prático. Logo...

sábado, 29 de dezembro de 2012

Caminhar, Trabalhar, Ler...


Quando o fardo da existência passa a incomodar..,
e a dor de viver  torna-se  insuportável....
Tente...
Prá mim funciona!

Natal só!

Uma colega pediu-me onde passara o Natal. Disse-lhe:
 - Em casa, só.
Ela ficou penalizada. Como eu conseguia fazer uma coisa dessas logo no Natal que é a data da confraternização universal, da reunião da família. Aquele discurso todo...
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A propósito de pessoas sós,  lí esse artigo da Danuza na Folha (23.12) - Estar Só -  do qual transcrevo  alguns parágrafos.
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Do que mais se precisa na vida para ser feliz? De calor humano, dizem; por calor humano entenda-se, para começar, de alguém com quem se compartilha a vida, uma família bem estruturada e amigos, muitos amigos. Trocando em miúdos: para não correr o risco de ficar só - nunca.
Mas, quanto mais gente em volta, mais problemas. Houve um tempo em que se dizia que os casamentos seriam felizes para sempre; mais tarde, que durariam sete anos. Mas o mundo mudou, a ciência moderna constata que o amor dura no máximo dois anos e, como ninguém suporta ser infeliz por mais de um fim de semana, o divórcio está em alta.
E a família como vai? Ninguém conta, mas raras são as que se dão e, quanto maiores elas são, mais brigas. Por ciúmes, inveja e, sobretudo, por dinheiro. Aliás, dinheiro é o grande  responsável por quase tudo; ouso dizer (mas sem muita certeza) que existem mais brigas por dinheiro do que por amor.
Quando se vê um homem ou uma mulher (sobretudo) com mais de 50 vivendo só, tem sempre uma amiga que diz - com a melhor das intenções - ah, você precisa encontrar alguém. Ás vezes a pessoa está bem, melhor do que jamais esteve, mas,  como existe essa certeza de que os seres humanos não podem viver sós, ninguém acredita - ou não quer acreditar ou não entende. Todos devem estar namorando, casando, ou qualquer outro nome que se queira dar, e se estiverem com um parceiro, mesmo triste, infelizes, sem assunto, à beira de cometer um suicídio ou assassinato, qual o problema? O importante é estar acompanhada...
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Aliás, o que as pessoas fazem para que isso não aconteça? Elas se cercam de pessoas com quem não tem nada em comum, das quais frequentemente não gostam e até falam mal. Numa mesa de restaurante com seis, oito pessoas, ninguém ouve o que o outro está dizendo, ninguém consegue trocar uma idéia com quem está a seu lado; mas essas são as pessoas que falam mais alto, que mais dão gargalhadas, que mais parecem estar felizes.
Quem está só parece - parece - ser a mais infeliz das criaturas, sem ter um amigo para o jantar e, em datas tipo Natal ou Ano Novo, dá até vontade de chorar de pena.
Mas é curioso como nos relacionamos com nossos amigos - com a maioria deles, digamos - estamos sempre  tentando contar uma boa novidade ou sendo inteligente ou falando coisas muito interessantes, para que nos tornemos muito interessantes e assim possamos conservá-los. É bom ter um amigo animado, que entra em nossa casa falando alto, perguntando o que vamos beber e fazendo planos fantásticos para o próximo fim de semana.
Mais curioso ainda é que não há amigo melhor nesse mundo do que aquele em cuja companhia você se sente tão bem, mas tão bem, que pode até ficar calado, pois parece que está só.
Vai entender.
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PS - Não foi de maneira  tão só que passei o Natal. Preparei e cozinhei uma paleta de cordeiro uruguaia de maneira tão perfeita (se fizer outras 1000 vezes não repetirei o feito...) e comi-a no almoço combinada com um espumante nacional e um Reccioto della Valpolicella adequados para a ocasião  na companhia de um velho amigo meu. Tudo depois de ter caminhado 22 km  pela Floresta da Tijuca, Jardim Botânico e Parque Lage- fotos no post Flores, cores e muito calor... Caminhar me leva aos limites do corpo e me deixa mais leve!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal!



O Natal é uma fantástica alegoria que ultrapassa os tempos e revela a força incomum do cristianismo, hoje mal cotado na bolsa das religiões, devido em parte, aos erros de seus líderes e pelo fato de exigir um pouco mais do que outros credos. Ser católico é para quem pode, não para quem quer, diz o Carlos Heitor Cony que foi seminarista como eu e que sabe onde o calo aperta. Hoje o sujeito classe média típico, geralmente de mentalidade pedestre, declara orgulhosamente seu ateísmo ou quando crente escolhe religiões que não passam de agências de auto-ajuda, refrigério para as dores do mundo e com baixa demanda em termos éticos.
O fato de um Deus escolher como porta de entrada para  a humanidade a mangedoura de um estábulo, deixa  claro que ele não estaria a serviço dos poderosos, um guerreiro heróico a lutar pelo resgate de uma nação. Seu reino seria aquele dos destituidos e despossuidos, da escória da sociedade - os anawin, de acordo com S. Paulo - feito para aqueles que habitam os bolsões escuros do mundo - os outsiders, damnés de la terre - as pessoas distantes do poder, riqueza, educação,  alto nascimento, alta cultura.
No seu Reino, os últimos serão os primeiros.  Ao seu banquete acorreram  os leprosos, os mendigos, os surdos, os cegos, os paralíticos, as prostitutas, pois os bem de vida recusaram.
Ele prega uma moralidade temerária, estravagante, imprevidente, que escandaliza o pessoal da grana, os donos do pedaço: perdoa teus inimigos, dá tua capa e teu casaco a quem necessita, oferece a outra face, ama aqueles que te insultam, não pense no amanhã.
Foi essa Boa Nova que fez do cristianismo uma força que concorreu para a derrubada do Império Romano. Depois a Igreja virou instituição e juntou-se muitas vezes aos poderosos. Mas aí é outro papo!
(Essa abordagem é inspirada nos livros - Reason, Faith and Revolution de Terry Eagleton -Yale University Press -  que detona os  bestsellers de Christopher Hitchens e Richard Dawkins que colocaram o ateísmo no centro do debate, acho que no ano passado e  O ponto de vista do Outro de Jurandir Freire Costa - Garamond).

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Adoro esse tempo de  Natal, suas canções... os presépios... Vai aí de presente o meu, simplerésimo  como o cristianismo quando começou!




PS - Tenho minhas dúvidas quanto á existência de Deus mas tenho uma carência enorme por transcendência. Fico indignado com os argumentos pedestres e rasteiros normalmente utilizados para desacreditar a Igreja Católica que tem um papel fundamental na história do Ocidente. Respeito-a profundamente e alguns de seus pensadores estão entre os maiores da história de filosofia. A análise da alma humana feita por Santo Agostinho, entre outros, é memorável.

domingo, 23 de dezembro de 2012

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Pois se há emails que despedaçam, há telefonemas que rejuntam.
Recebi-o no final de semana passada de um colega de turma, hoje seguramente amigo, alarmado com meus últimos posts. Queria saber como andava  a paisagem da alma (os cínicos dirão... ligou foi prá fazer uma boa fofoca!). Foi reconfortante. Era alguém  comparecendo numa  hora difícil. Amigo. Só posso agradecer. 
Não queria voltar a esse assunto,  mas o telefonema faz que o retome. Até para despreocupar os que me lêem. Afinal, fiz desse blog um pouco o confessionário da minha vida, que como  já deu prá perceber, nesses dias, me fez  passageiro da agonia; isso tem lá suas vantagens, uma delas, suportar bem os reveses. Além disso, sou rigorosamente só, não tenho ombro nem colo amigo para chorar. É tudo comigo mesmo... O blog me permite fazer um pouco essa catarse.
O que despedaçou nesse email - na verdade, a história conturbada da vida de uma pessoa neste últimos meses - foi constatar naquele texto  o oceano da minha irrelevância; e vinha justo de quem virara de pernas pro ar minha alma  nestes  dois/três últimos anos. De maneira indireta, naive ou cruel, vai saber... ficava claro naquele atribulado enredo minha condição de reles figurante, acidente de percurso se tanto.   Perder a aposta que fizera no amor era risco calculado,  pois sabia que apostara contra a banca; como Prometeu, afrontara os deuses, e o mainstream que não permite afrontas,  apresentava a conta.  Mais doloroso era constatar que para significar na vida dessa pessoa, enfrentara  mares  bravios, escalara picos alcantilados, percorrera os vales mais sombrios. Tudo para continuar  à margem, mantido ao  largo. Tão estranho quanto entrara.  Como Sísifo, carregara aquela pedra milhares de vezes para o topo da montanha e ela teimosamente retornara  ao sopé.
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O tempo, como esperado, faz a dor ceder. Em seu lugar,  uma, ora atormentada, ora serena, resignação.
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 Quanto a mim ?
Como Prometeu, continuarei afrontando os deuses...
Como Sísifo, continuarei a carregar a pedra para o topo da montanha...
É minha sina.
A vida fez de mim um resistente.
Sou maratonista, gosto dos longos percursos.

domingo, 16 de dezembro de 2012


Ouvia meu jazz básico ontem à tarde, e essa música me chamou a atenção.



...tem aquele backing vocals dos anos 50 que adoro. Fui atrás dela no YouTube e me deparo com essa letra... algumas rimas  esquisitas e... muito a ver com o que me passa pela alma  nesses dias. Caprichosa essa vida!

I'm thru with love,
I'll never fall again.
Said I do to love,
Don't ever call again.
For I must have you
Or no one.
That's why I'm thru with love.

I've locked my heart.
I keep my feelings there.
I have stopped my heart
Like an icy frigidaire.
For I need to care for no one.
That's why I'm thru with love.

Why did you leave me
To think that you care
You didn't need me.
You have your share
of slaves around you
To hound you and swear
Their deep devotion.
Emotion.

Goodbye to spring
And all it meant to me
It can never bring
The things that used to be.
For I must have you or no one.
That's why I'm thru with love.
That's why I'm thru with love.

As belezuras da casa...

Orquídeas...
  Como se vestem bem!

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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Homenagem

      um
       movi
       mento
   compondo
   além
                 da
nuvem
       um
      campo 
             de
      combate
          mira
      gem
             ira
                  de
         um
             horizonte
    puro
        num
             mo
             mento
       vivo

Décio Pignatari (1927-2012)

Escritas prá mim, nesses dias de tempestade...

Arrastava consigo um vácuo imenso na cabeça e no peito. Se aí batessem, imaginava, soaria metálico.

(Clarice Lispector)

domingo, 9 de dezembro de 2012

Vida bandida!

Ter que conviver a maior parte do tempo, no trabalho em especial, com malas de toda ordem, quando não com cretinos, vigaristas, medíocres ( eles pululam...) de todos os matizes;  volta e meia até com canalhas... e ser obrigado a me afastar do convívio de quem me faz bem e de quem quero bem.
O que fiz prá merecer isso, meu Deus?

Golondrinas suelas no hacen verano!


A vida é caprichosa. Escrevia ontem sobre a dor e da possibilidade de aceitá-la e entendê-la e ontem mesmo o destino joga-me uma situação limítrofe dessas no colo.
Um email fez isso. Não era um email simples, era extenso, caudaloso, pelo menos digno da ocasião. Fez-me ver que um investimento imenso de minha vida emocional e afetiva prá onde joguei todos os recursos nesses 2-3 últimos anos tinham sido vãos. Tudo se desmanchou feito bolha de sabão, castelo de cartas.  Apostara alto e contra a banca. Sabia que minhas chances beiravam zero mas  meu atavismo de ir contra o que está aí,de afrontar o rumo natural das coisas me jogava para a frente. Se vencesse, seria memorável. Teria ganho a vitória da minha vida. Mas... Perdeu, malandro! decretou o destino, bandido como ele só. 
Agora estou feito Jó, caniço agitado pelo vento, corpo dobrado pela dor, alvo da chacota dos adversários. Pensando no email anterior, é a hora propícia pro espírito se erguer.
O ano terminou ontem como começou... mal! Eu tive o estranho pressentimento de que esse ano seria um mau ano, quando batí  meu carro ao raiar o dia do Ano Novo. E foram as operações e incríveis complicações do meu descolamento de retina, os problemas de saúde com minha mãe e seu abandono branco por parte de alguns irmãos meus. E agora esse desfecho.  
Com tanta desgraça acontecendo, só falta o Apocalipse maia se cumprir. Depois de tudo o que passei estou com o passaporte visado! Espero que não seja para o inferno!

sábado, 8 de dezembro de 2012

A volta do filho pródigo


...depois do baque em termos de crença que foi a morte de meu pai - ver alguém tão querido sofrendo  daquela maneira, me levou a um descrédito total na transcendência e na possibilidade de uma salvação a posteriori - mais e mais refaço o caminho de volta, não para uma religião  que me traga felicidade, uma muleta de auto-ajuda, uma religião que  me livre da agonia de viver, mas para uma religião que traz à tona um sofrimento ainda maior e me permite ampliar a consciência da condição humana. Tá certo o Pondé (Folha, 3.12.2012) quando escreve:  Sofro, porisso penso, e logo, existo. 

quando o corpo se põe de joelhos, pelo peso do pecado, o espírito se ergue.
(biscoito fino da antropologia do cristianismo)

sábado, 1 de dezembro de 2012