segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal!



O Natal é uma fantástica alegoria que ultrapassa os tempos e revela a força incomum do cristianismo, hoje mal cotado na bolsa das religiões, devido em parte, aos erros de seus líderes e pelo fato de exigir um pouco mais do que outros credos. Ser católico é para quem pode, não para quem quer, diz o Carlos Heitor Cony que foi seminarista como eu e que sabe onde o calo aperta. Hoje o sujeito classe média típico, geralmente de mentalidade pedestre, declara orgulhosamente seu ateísmo ou quando crente escolhe religiões que não passam de agências de auto-ajuda, refrigério para as dores do mundo e com baixa demanda em termos éticos.
O fato de um Deus escolher como porta de entrada para  a humanidade a mangedoura de um estábulo, deixa  claro que ele não estaria a serviço dos poderosos, um guerreiro heróico a lutar pelo resgate de uma nação. Seu reino seria aquele dos destituidos e despossuidos, da escória da sociedade - os anawin, de acordo com S. Paulo - feito para aqueles que habitam os bolsões escuros do mundo - os outsiders, damnés de la terre - as pessoas distantes do poder, riqueza, educação,  alto nascimento, alta cultura.
No seu Reino, os últimos serão os primeiros.  Ao seu banquete acorreram  os leprosos, os mendigos, os surdos, os cegos, os paralíticos, as prostitutas, pois os bem de vida recusaram.
Ele prega uma moralidade temerária, estravagante, imprevidente, que escandaliza o pessoal da grana, os donos do pedaço: perdoa teus inimigos, dá tua capa e teu casaco a quem necessita, oferece a outra face, ama aqueles que te insultam, não pense no amanhã.
Foi essa Boa Nova que fez do cristianismo uma força que concorreu para a derrubada do Império Romano. Depois a Igreja virou instituição e juntou-se muitas vezes aos poderosos. Mas aí é outro papo!
(Essa abordagem é inspirada nos livros - Reason, Faith and Revolution de Terry Eagleton -Yale University Press -  que detona os  bestsellers de Christopher Hitchens e Richard Dawkins que colocaram o ateísmo no centro do debate, acho que no ano passado e  O ponto de vista do Outro de Jurandir Freire Costa - Garamond).

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Adoro esse tempo de  Natal, suas canções... os presépios... Vai aí de presente o meu, simplerésimo  como o cristianismo quando começou!




PS - Tenho minhas dúvidas quanto á existência de Deus mas tenho uma carência enorme por transcendência. Fico indignado com os argumentos pedestres e rasteiros normalmente utilizados para desacreditar a Igreja Católica que tem um papel fundamental na história do Ocidente. Respeito-a profundamente e alguns de seus pensadores estão entre os maiores da história de filosofia. A análise da alma humana feita por Santo Agostinho, entre outros, é memorável.

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