sábado, 29 de fevereiro de 2020

Mal-estar civilizatório.

A esquerda identitária tem a validade crítica de um lego infantil
escreveu o Pondé no seu artigo para a Folha de 24.03 mas o estrago que ela vem fazendo em universidades americanas e agora  aqui no país com o midia praticamente  abraçando todas as suas causas me leva a crer que estamos nos encaminhando para uma radicalização no campo das idéias e dos costumes da qual não nos livraremos tão cedo.
Não tenho dúvida que as idéias estapafúrdias dessa turma seja combustível para a fogueira trumpista, bolsonarista e de todos governos de extrema-direita  que ameaça incendiar o planeta. Uma historinha ajuda a entender. Um articulista do qual não lembro o nome escreveu a poucos dias que à época das últimas eleições americanas para presidente estava nos Estados Unidos e perguntou a um colega em quem ele votaria. Surpreso ouviu que seria em Trump. Perguntou-lhe o porquê. Ele respondeu que os seus, tinham levado 500 anos para construir  o país e não o entregariam de mão beijada para um bando de minorias raivosas que desejam jogar o american dream no lixo . Provavelmente ele deveria ser um filho de WASP's,  assustado com o rebuliço que essa turma promove e que à exceção das mulheres associadas às causas identitárias, não passa de uma minoria no conjunto da população, mas que tem suas causas amplificadas pela grande midia que com elas se identifica. A América profunda que elegeu Trump não foi apenas porque estava sendo penalizada na sua condição econômica mas porque vê com profunda desconfiança os valores defendidos pelos militantes de gênero e de raça que dominam o debate nos campi universitários, em particular na área de humanas,  e nas grandes cidades. Hispânicos, pessoas de cor, mulheres, LBGTQI's+ tentam  impor seu discurso contando com a complacência e até covardia  da administração das universidades.
Estou lendo The Diversity Delusion: How Race And Gender Pandering Corrupt the University and Undermine Our Culture de Heather McDonald, St Martin's Press, New York, 2018, em edição digital. O panorama cultural que viceja nos campi universitários americanos para alguém como eu, educado dentro do cânone ocidental, é no mínimo bizarro.
Defenda por exemplo a idéia de que existe apenas uma raça: a humana e você corre o sério risco de ser  acusado de microagressão racial. Apresentam-lhe apenas duas opções de gênero para escolher: Masculino e Feminino? É microagressão... Seria de gênero!?!  É profundamente ofensivo - para essa turma - dizer que você acredita que a pessoa mais qualificada é a que deve assumir a vaga de trabalho oferecida.
Outra maluquice levada a sério é a concepção de preconceito inconsciente (implicit bias) que surgiu após a aplicação de um teste : Implicit Association Test (IAT)  em que rostos negros e brancos eram correlacionados a letras e a palavras que expressavam sentimentos positivos e negativos. É um teste que relaciona o tempo de resposta a uma situação, com nossa capacidade de associar conceitos em nossa memória e que foi levado para a esfera política por dois pesquisadores americanos. A associação preferencial de rostos negros a conceitos negativos seria uma indicação de um preconceito inconsciente contra as pessoas de cor. O teste tornou-se ferramenta para avaliar o seu racismo inconsciente. O próprio presidente Obama - muderno como ele só -  denunciou a existência de um preconceito inconsciente contra mulheres e minorias nas universidades em um discurso de 2016.
Na hipersensibilidade desses grupos há muito de  ressentimento, de  vitimização. Tem uma visão de mundo compartimentada, negam o universal, são anti-iluministas,  fecham-se numa interpretação historicista e culturalista dos fatos. Intolerantes com quem deles discorda,  insuflam a desagregação numa postura que encontra paralelo em grupos localizados no outro extremo do arco ideológico representado por movimentos como o trumpismo e o  bolsonarismo. Faces opostas de uma mesma moeda que podem acabar arruinando os pilares sobre os quais repousa a democracia.
A ver...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Clarice matadora!

Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo de chuvas tempestivas, nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Clarice Lispector. 

Para você - escritora brilhante - são as chuvas tempestivas e ventanias soltas; eu - geólogo - os ambientes anóxicos dominados por fumarolas de enxofre, nas bordas de placas submarinas onde só formas muito primitivas de vida sobrevivem. Nossa força é a solidão.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Retrato complexo, contraditório e agônico da natureza humana

...é um resumo da obra de George Steiner - já falei dele em postagem recente - segundo  J.P. Coutinho em seu artigo na Folha de 11.02. 
Sua explicação para a origem do antissemitismo e bem interessante e provocativa. Ele  teria surgido não porque os judeus mataram Deus na pessoa do seu Filho, mas porque o criaram:
Como é possível criar um Deus onipotente, onipresente, vigilante, exigente, castigador quando os homens apenas desejam voltar ao estábulo para se espojarem no seu politeismo pagão, orgânico e permissivo?   Quando Hitler falou que a consciência era uma invenção judaica sabia bem de que falava, E falava com muito ódio contra aqueles que tinham cometido tamanha afronta.
O ódio aos judeus em Steiner começa por ser um cansaço contra os judeus (judenmude), um cansaço com as expectativas elevadas que repousam sobre matéria tão animalesca. Entre Nietzche - torna-te aquilo que és - e Deus - torna-te em algo melhor daquilo que tu és - o bárbaro não hesita.

Focinheira no capitão.

Urge. A catarata de obscenidades, grosserias, ofensas que jorra daquela boca imunda estão a pedir.
Afinal de que esgoto saiu esse cara?
 escreveu Mario Sérgio Conti na sua coluna de ontem na Folha.
Seremos o país da jaboticaba, da meia-entrada e do presidente de focinheira.

Sabedoria

Só quem cuida das contas públicas pode cuidar das pessoas
Paulo Hartung. 

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Um daqueles dias que não se esquece jamais!

Ela já não é .
Voou desta para ....
ninguém sabe,
ninguém viu.
Foi de mansinho,
como a luz do poente.
Tão discretamente quanto viveu.
Com um longo suspiro, expirou
e me deixou
mais só do que nunca.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Provocações

  Deus fez o homem à sua imagem e semelhança (Gen,1,26). E o fez só.
Finda a semana empreendedora, depois de descansar, constatou que apenas o ser humano não tinha correspondente na espécie.
Não é bom que o homem esteja só; farei para ele, alguém que o auxilie e lhe corresponda. (Gen 1,28)
Não é bom que o homem esteja só, porém a partir do fim da solidão, iniciou-se o jogo complexo que levou ao pecado, ao homicídio, aos atos infames e tantos outros males. Apenas sem nenhum outro ser humano, Adão foi perfeito. Depois temos mentiras, queda, sofrimento e dores dos choques dos homens entre si. Crescei e multiplicai-vos ao lado ao lado da contraditória afirmação de que ninguém conhece paz verdadeira em vida.
Entretanto...
só com a convivência eu percebo a alteridade, a diferença, os limites de cada ser. Vimos com o exemplo inicial de Adão no Paraíso: a consciência de quem ele era veio com Eva. Conviver com a diferença em qualquer campo é um salto na sua própria consciência.
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O  medo da solidão seria a opção para evitar o pior dos sofrimentos, nós mesmos?

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O amor não passa de duas solidões tentando proteger-se uma da outra.
Rainer Maria Rilke.

Textos calcados no livro O dilema do porco espinho - como encarar a solidão de Leandro Karnal, Planeta, 2018.

Antes tarde do que nunca...


A esquerda, não acomoda o trágico; todas as suas ações são postas ao serviço da esperança –somos nós, pelos nossos esforços racionais, que podemos construir o paraíso na Terra.

A direita, pelo contrário, sabe que a dimensão trágica da vida é inexpugnável. Porque haverá sempre uma margem de contingência que não controlamos –a sorte que não temos, a complexidade do mundo que não abarcamos, os atos imprevistos de terceiros etc– e que podem subverter as nossas melhores intenções.
George Steiner (1929/2020)

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Não apenas porisso, mas também.... abandonei o ideário e o imagético d esquerda depois dos 50 anos.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A intolerância dos "tolerantes" (II)

Até parece que combinei com o  Fernando Schüeler, mas é mera coincidência. O ódio do bem artigo que escreveu para a  Folha de hoje tem tudo a ver com o que escrevi dias atrás. Os tolerantes do bem, os mudernos, cosmopolitas, toleram tudo, apenas para o cara que pensa como eles pensam, inclusive sua intolerância para com quem dele discorda.
Esse  Zé de Abreu - que horror! -  está para a esquerda como o Bolsonaro e o  o Weintraub estão para a direita. É uma catarata que jorra besteira e obscenidade a todo o momento. Você viu alguém da esquerda chamá-lo à razão?
- Como é dos nossos, então pode!

Tempos sombrios

Quando um charlatão - apud Michael Bloomberg -  feito o Donald Trump categoriza como fracassado um político da qualidade de Mitt Romney, é porque nuvens negras toldam nosso horizonte civilizatório.
Essa pose aí não lembra um sujeito que atendia pela alcunha de Mussolini? Oh, tempora, oh, mores! já dizia o velho Cícero.