quinta-feira, 30 de março de 2023

... e o Brasil voltou!

 A frase proposta para comemorar os primeiros 100 dias do governo Lula, provoca discussão quanto a sua oportunidade dentro do bunker petista. Não sei se será aprovada, mas de qualquer maneira, considero-a um achado.

De fato, as realizações  no período, estão mais para um deja vù do que adequadas às mudanças que se processaram durante os seis anos em que esteve afastado do poder. De fato o velho Brasil petista está de volta; retornaram os programas sociais agora vitaminados pela grana da PEC da transição, como o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e Mais Médicos

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Na economia, a proposta para o arcabouço fiscal, finalmente, foi apresentada. Não passa de um powerpoint,  mas  pelo menos parametrizou o futuro. Carece de detalhes; problema é que o diabo mora nos detalhes! Tem metas de arrecadação que a maioria dos analistas considera ambiciosa e difícil de concretizar.

O viés estatista e dirigista da economia  materializou-se na suspensão de vários projetos de privatização em andamento - para alegria dos políticos e funcionários das empresas visadas - e nos episódios bizarros  das  tentativas - frustradas! -  de tabelar os juros para empréstimos consignados dos aposentados e na proposta de fixar  em R$ 200,00 o preço de passagens aéreas para aposentados, servidores públicos com salários de até R$ 6800,00 e estudantes. 

...e tem essa briga - contratada! - com o presidente do Banco Central a respeito da taxa de juros, por razões mais políticas do que econômicas. O governo sabe que tem que mostrar que está cumprindo o que prometeu em campanha até o final do ano ou então a batata vai começar a assar. Entretanto este será um ano difícil. O mundo inteiro decidiu subir as taxas de juros para conter a inflação. As políticas contracionistas vem a contrafluxo para um governo que demanda por expansão na economia e que precisa dinheiro para gastar, pois - tese querida da esquerda! - é o Estado o principal indutor do crescimento. Daí o conflito, magnificado pelas diatribes presidenciais contra o BC e seu presidente.

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Na política, esperava-se um governo de Frente Ampla, pois foi com uma coalizão de partidos de centro que Lula ganhou o 2o turno. Entretanto, as políticas implementadas até agora são marcadamente de esquerda; quando não, como na proposta do arcabouço fiscal, o fogo amigo do PT come solto.

No Congresso, há  dificuldades para construir uma base parlamentar confiável na Câmara, mesmo com o governo já tendo cumulado com verbas e cargos, parlamentares de partidos que não integram seu núcleo duro.

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Com a Justiça as relações são amenas, mas o governo pode criar problemas para si mesmo, caso  se confirmem as previsões de que Lula indicará seu advogado pessoal na Lava-Jato para a próxima vaga do STF. Teremos o interesse pessoal, a conveniência, o vezo autocrático suplantando as razões de Estado. Nada muito diferente do aconteceu com o antecessor que estabeleceu como condição necessária para assumir uma vaga no STF a necessidade de com ele dividir uma tubaina (!?!). 

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Naquilo que considero positivo, tivemos a volta à normalidade democrática constantemente em alvoroço dado os arroubos do capitão - o que não é pouco, face as circunstâncias! -  e que culminaram na maior operação Tabajara da nossa história recente: o arremedo de golpe de 8 de janeiro. 

Alguns entulhos do governo Bolsonaro estão sendo removidos como os desmandos da sua política ambiental  e  indigenista, além do desvario da sua política armentista. 

Também fomos readmitidos no cenário internacional, depois da condição de párias a que fomos submetidos nos anos finais do governo Bolsonaro.

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Tenho para mim que é para a área internacional que Lula  guarda suas maiores ambições, inclusive a de ser agraciado com o Nobel da Paz. Viaja incessantemente e parece buscar protagonismo. Autoatribuiu-se o papel de mediador do conflito Rússia/Ucrânia mas as  atitudes tendenciosas tomadas pelo governo brasileiro em favor dos russos - encontro secreto do embaixador Amorim com Putin -  e sua sugestão desastrada para que a Ucrânia desista da Criméia , mostram que o começo não está sendo nada promissor.

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O fato é que o governo ainda não elaborou um plano de vôo para seu mandato nestes seus 100 dias iniciais. Seus epígonos na imprensa entendem que o período é exiguo e propõem seis meses. Que seja. 

quarta-feira, 29 de março de 2023

Ernesto Nazareth (III)

Prá fechar a trilogia das mais famosas composições de um dos gênios da nossa música: Odeon, interpretado pelo mestre Paulinho Nogueira.


Para se inteirar mais da vida e da obra de Ernesto Nazareth acesse o site criado pelo Instituto Moreira Salles por ocasião dos 150 anos do seu nascimento.

A imagem dispensa comentários

 Retirei-a da UOL e mostra Putin discutindo a Guerra da Ucrânia com seus acessores. 


Do Putin não se poderia esperar coisa melhor. Problema mesmo é que boa parte da nossa esquerda que ruge contra os arroubos antidemocráticos do bolsonarismo, - discreta ou explicitamente - tem a maior  simpatia pelo autocrata russo. Pensando bem, faz sentido: 
 - Putin quer um rearranjo na ordem política mundial; é adversário dos Estados Unidos e das democracias liberais, então  ele joga do nosso lado e merece nossa simpatia.

sábado, 25 de março de 2023

Ernesto Nazareth (II)

Sua existência teve componentes trágicos semelhantes aos que marcaram a biografia de compositores eruditos europeus, de  acordo com Irineu Franco Perpétuo (Ernesto Nazareth -  Raizes da Música Popular Brasileira - Coleção Folha):

sobrecarregado de trabalho e em luta constante contra a falta de dinheiro, como Mozart; perdendo a audição de maneira progressiva como Beethoven; sifilítico como Schubert; e com um final de vida no qual já não estava de plena posse de suas faculdades mentais como Schumann.

foi assim que viveu Ernesto Nazareth. Sua morte foi trágica como sua vida. Suicidou-se aos 54 anos.

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Ele é da turma dos compositores nacionais que transitava com naturalidade entre o popular e o erudito  da nossa música popular. Na atualidade, arrisco-me a opinar como leigo, que Antonio Carlos Jobim era também da turma. Deixou 213 composições entre choros, tangos brasileiros, polcas, maxixes, foxtrotes e valsas


sexta-feira, 24 de março de 2023

Teria sido mais barato e melhor para todos pagar as propinas.

É uma frase atribuida a Mario Henrique Simonsen e faz parte do parágrafo final do Editorial de O Globo de 20.03. O texto faz uma crítica veemente aos gastos superiores a 1 bilhão de reais no projeto inacabado do VLT Cuiabá-Várzea Grande - obra de 22 km e 23 estações -  na região metropolitana da capital mato-grossense. O episódio é uma epopéia de mal-feitos onde se misturam fraudes em licitação, corrupção ativa e passiva, peculato e lavagem de dinheiro segundo relatório da Polícia Federal. Decidiu-se agora trocar o sistema para o de ônibus articulados depois dos trilhos terem sido instalados e os trens comprados.

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A frase me lembrou outra, de um colega de trabalho:

- Teria sido melhor a empresa pagar uma viagem de turismo para fulano...

referindo-se ao fato da algumas gerências da Companhia, ao invés de enviarem  para Congressos no exterior as pessoas mais competententes, usavam esses eventos para enviar técnicos totalmente despreparados ou desmotivados, dado a política equivocada de usar essas viagens como prêmios para técnicos desmotivados na atividade ou insatisfeitos por terem sido preteridos em promoções. É óbvio que uma viagem ao exterior às expensas da empresa, com a possibilidade de compras... era um evidente objeto de desejo para qualquer técnico. O resultado invariavelmente terminava em saias-justas do tipo alguém aparecer com uma sacola de compras no salão do Congresso, dando claramente indícios dos motivos da sua presença ali. O dano à imagem  institucional da companhia eram evidente. Presenciei alguns fatos como os narrados e confesso senti vergonha por mim e pela empresa.

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Como os episódios mostram, nesta terra tão eivada de mal-feitos que até o sabiá dá mostras de que está cansado de cantar, as frases que para um nórdico podem parecer puro non-sense, aqui são perfeitamente plausíveis.

quarta-feira, 22 de março de 2023

Até as freirinhas!

Da  falta de pudor que o carioca cultiva pela ordem - Coisa de gente chata, de direita! -   nem as freirinhas escapam.

Na semana passada, estava sendo atendido em uma loja da Cadeg especializada em venda de frutas secas, especiarias... - não me vem à memória nome mais adequado -  quando adentrou no recinto uma freirinha que escolheu o pote da sua preferência; o atendente, que pela familiaridade no trato devia conhecê-la,  passou-lhe aquela concha metálica para retirar o conteudo desejado. Ela serviu-se, depois entregou-lhe o saco plástico com o produto que escolhera, para ser pesado e etiquetado, pagou, ao passar por mim  pediu desculpas e foi-se embora. Simples assim.

 A esbórnia está ampla, geral e irrestrita...

terça-feira, 21 de março de 2023

Ernesto Nazareth

 ...estivesse vivo, faria 160 anos em 19 de março. Taí alguém  reconhecido e celebrado no exterior, e apenas pelos  iniciados por aqui. Seus manuscritos fazem parte da Memória do Mundo da UNESCO desde 2014, juntando-se à 9a Sinfonia de Beethoven, a Biblia de Gutemberg, entre outros...  

Seu maxixe Dengoso fez o maior sucesso nos salões parisienses e clubes noturnos nova-iorquinos no início dos anos 10 do século passado, bem antes, portanto,  da nossa badalada bossa-nova.  


Brejeiro, um tango brasileiro - versão que os chorões da época deram à habanera cubana -  é seu maior sucesso, interpretado aqui pelo violão de um craque: Dilermando Reis.



sexta-feira, 10 de março de 2023

Nem Prometeu ousaria tanto!

 ...mas virou um bordão que ouvia-se amiúde no Dia Internacional da Mulher:

- A mulher pode ser o que ela quiser

ou

- Lugar da mulher é onde ela quiser

e a suprema:

- Mulher pode ser o que quiser, onde quiser e na hora que quiser

Talvez eu esteja entendendo tudo pelo avesso mas,  em minha opinião,  não será assim que resolveremos o problema da desigualdade entre sexos - se é que o resolveremos algum dia. 

Nem a mulher, nem o homem ou qualquer ser humano pode ser o que quiser, onde quiser , e quando quiser. O preço pago pela desmedida - a hybris dos gregos -  é o castigo divino: Prometeu (mitologia grega), Adão e Eva (tradição judaico-cristã) - apenas para citar alguns - estão aí para comprovar.  

Se enveredarmos pelo campo da psicologia/psicanálise- apesar de encarar o texto como pura filosofia -  basta ler o que Freud escreveu em O mal-estar da humanidade para concluir que a boutade desorganizaria todas as relações sociais. 

Para não falar no problema filosófico que essas bravatas remetem, pois claramente sugerem que a mulher se torne a referência nas relações humanas. Aí eu lembro de Protágoras: - O homem - quero dizer ser humano! - é a medida de todas as coisas. Palavra de ordem sofista que a história do pensamento consagrou como o caminho natural para o relativismo, a subjetividade, e as consequentes batalhas verbais infindáveis e estéreis. Afinal, se tudo é relativo...

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- A luta continua!

... dizem elas batalhando por representações paritárias nos tribunais, nos conselhos das empresas, nas câmaras de representação política, em qualquer atividade... como se igualdade se resolvesse na ponta do lápis ou se homens e mulheres fossem iguais. Atavicamente, há atividades que são mais adequadas ao homem, outras à mulher como se observa no mundo animal de onde viemos. Vá, entretanto, dizer isso a uma feminista...

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.... e para coroar tanta pajelança e bajulação oportunista nesta semana,  Alexandre de Moraes, ministro do STF, resolveu - em homenagem à data - conceder liberdade provisória para 149 mulheres envolvidas na Operação Tabajara de 08/01 em Brasília. Thaís Oyama faz uma análise muito pertinente para o fato em seu blog para o UOL. 

domingo, 5 de março de 2023

Concierto de Aranjuez.

É Dia Nacional da Música Clássica. Selecionei música de um clássico espanhol do século XX - Joaquin Rodrigo - mas executada por músicos de jazz. E que músicos!  - Chet Baker, Ron Carter, Paul Desmond... entre outros. Desfrutem!

mas -;

 

quarta-feira, 1 de março de 2023

Tornei-me cúmplice das paisagens da cidade

É a frase da capa de O Globo de hoje comemorando os 458 anos da cidade. É do fotógrafo Custódio Mello que como eu gosta de levantar cedo e fotografar o amanhecer. Não sou craque como ele, mas dou meus pulinhos com a minha câmera do celular.

O Rio é uma cidade fascinante. Tem o melhor e o pior do que você desejar. A escolha fica por sua conta. Eu esculhambo com a cidade e com os cariocas que tanto a maltratam, mas gosto de viver aqui, talvez porque aproveite  com minhas caminhadas o que de melhor a cidade oferece: suas paisagens. E sempre na melhor hora do dia: o amanhecer.