A frase proposta para comemorar os primeiros 100 dias do governo Lula, provoca discussão quanto a sua oportunidade dentro do bunker petista. Não sei se será aprovada, mas de qualquer maneira, considero-a um achado.
De fato, as realizações no período, estão mais para um deja vù do que adequadas às mudanças que se processaram durante os seis anos em que esteve afastado do poder. De fato o velho Brasil petista está de volta; retornaram os programas sociais agora vitaminados pela grana da PEC da transição, como o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e Mais Médicos
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Na economia, a proposta para o arcabouço fiscal, finalmente, foi apresentada. Não passa de um powerpoint, mas pelo menos parametrizou o futuro. Carece de detalhes; problema é que o diabo mora nos detalhes! Tem metas de arrecadação que a maioria dos analistas considera ambiciosa e difícil de concretizar.
O viés estatista e dirigista da economia materializou-se na suspensão de vários projetos de privatização em andamento - para alegria dos políticos e funcionários das empresas visadas - e nos episódios bizarros das tentativas - frustradas! - de tabelar os juros para empréstimos consignados dos aposentados e na proposta de fixar em R$ 200,00 o preço de passagens aéreas para aposentados, servidores públicos com salários de até R$ 6800,00 e estudantes.
...e tem essa briga - contratada! - com o presidente do Banco Central a respeito da taxa de juros, por razões mais políticas do que econômicas. O governo sabe que tem que mostrar que está cumprindo o que prometeu em campanha até o final do ano ou então a batata vai começar a assar. Entretanto este será um ano difícil. O mundo inteiro decidiu subir as taxas de juros para conter a inflação. As políticas contracionistas vem a contrafluxo para um governo que demanda por expansão na economia e que precisa dinheiro para gastar, pois - tese querida da esquerda! - é o Estado o principal indutor do crescimento. Daí o conflito, magnificado pelas diatribes presidenciais contra o BC e seu presidente.
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Na política, esperava-se um governo de Frente Ampla, pois foi com uma coalizão de partidos de centro que Lula ganhou o 2o turno. Entretanto, as políticas implementadas até agora são marcadamente de esquerda; quando não, como na proposta do arcabouço fiscal, o fogo amigo do PT come solto.
No Congresso, há dificuldades para construir uma base parlamentar confiável na Câmara, mesmo com o governo já tendo cumulado com verbas e cargos, parlamentares de partidos que não integram seu núcleo duro.
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Com a Justiça as relações são amenas, mas o governo pode criar problemas para si mesmo, caso se confirmem as previsões de que Lula indicará seu advogado pessoal na Lava-Jato para a próxima vaga do STF. Teremos o interesse pessoal, a conveniência, o vezo autocrático suplantando as razões de Estado. Nada muito diferente do aconteceu com o antecessor que estabeleceu como condição necessária para assumir uma vaga no STF a necessidade de com ele dividir uma tubaina (!?!).
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Naquilo que considero positivo, tivemos a volta à normalidade democrática constantemente em alvoroço dado os arroubos do capitão - o que não é pouco, face as circunstâncias! - e que culminaram na maior operação Tabajara da nossa história recente: o arremedo de golpe de 8 de janeiro.
Alguns entulhos do governo Bolsonaro estão sendo removidos como os desmandos da sua política ambiental e indigenista, além do desvario da sua política armentista.
Também fomos readmitidos no cenário internacional, depois da condição de párias a que fomos submetidos nos anos finais do governo Bolsonaro.
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Tenho para mim que é para a área internacional que Lula guarda suas maiores ambições, inclusive a de ser agraciado com o Nobel da Paz. Viaja incessantemente e parece buscar protagonismo. Autoatribuiu-se o papel de mediador do conflito Rússia/Ucrânia mas as atitudes tendenciosas tomadas pelo governo brasileiro em favor dos russos - encontro secreto do embaixador Amorim com Putin - e sua sugestão desastrada para que a Ucrânia desista da Criméia , mostram que o começo não está sendo nada promissor.
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O fato é que o governo ainda não elaborou um plano de vôo para seu mandato nestes seus 100 dias iniciais. Seus epígonos na imprensa entendem que o período é exiguo e propõem seis meses. Que seja.
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