Só cuida dos pobres, quem cuida das contas
Paulo Hartung, no Estadão de hoje
Dia desses da semana comemoramos o Dia do Choro - tem dia prá tudo hoje! Ouvindo um programa comemorativo para a data, aprendi que o choro é nossa música-raiz. Nada de samba ou bossa-nova. Como ele é mais velhinho, foi relegado a um segundo plano nas programações até mesmo das nossas rádios mais qualificadas. Foi por ele que passaram grandes craques da nossa música: Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazaré, Pixinguinha, só para citar três...
Tudo fora de lugar - ao invés do cavaquinho e violão, uma sanfona; ao invés de Garoto, Luiz Gonzaga - vai aí Aquele chorinho com Lulinha Alencar.
Sei lá... mas olhando para a expressão facial das duas moças, está me parecendo que o Oriente está levando vantagem na batalha que eles travam por valores nos dias atuais. É a fé - quem diria! - sobrepujando a razão. O que o futuro nos reserva?
A ocidental é Billie Eilish, uma das expressões do pop americano atual. A oriental é uma iraniana atravessando uma rua junto a Praça Valiasr em Teerã. As fotos são do Estadão de 16.04.23.
Caramba, isso sim é que eram good old times! Henry Mancini exibindo sua sensibilidade na trilha sonora e Audrey Hepburn desfilando sua classe e charme inigualáveis nas telas.
(Cenas finais de Bonequinha de Luxo - Breakfast at Tiffany's - de Blake Edwards -1961)
A corda sempre estoura do lado de quem não tem um lobby prá chamar de seu
Elena Landau, Hipocrisia - Estadão, 12.04.24
Mais didático, impossível. Uma matéria do Estadão do dia 07.04.24 : Recurso de multa gera negócio de 15 milhões mostra como se faz Justiça no país. A finalidade é mostrar um case de sucesso empresarial, a matéria foi publicada no caderno de Negócios. A empresa - Help Multas - é especializada em auxiliar motoristas a recorrer do pagamento de multas de trânsito, utilizando-se do não cumprimento das regras dos órgãos de fiscalização e das brechas deixadas na lei. Não se trata de contestar o mérito da infração, busca-se por falhas no decorrer do processo ou uma imperfeição na lei. Vejam o que diz o fundador da empresa:
A gente democratiza o direito de trânsito para as pessoas. Não estou aqui para julgar a multa, e sim para proteger o direito dessa pessoa se proteger.
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Quando o órgão não faz o que é previsto em lei, ele deixa uma brecha na legislação.
Por aí já escapou muita gente boa: os acusados da LavaJato e os poderosos do país desde sempre. A julgar pelo sucesso da franquia - já conta com 55 unidades - o expediente foi extendido para a arraia miúda.
Cotas tinham que ser exclusivamente por renda familiar e ponto final.
Alex Couri (Comentários dos Leitores - Estadão - 07/04/24)
...do nascimento de Sarah Vaughan foram comemorados por estes dias. Foi uma das grandes vozes femininas da música norte-americana do século XX juntamente com Ella Fitzgerald. Sem esquecer de Billie Holliday - à prova de imitações. Mas esta corria em outra faixa.
Para um partido que se diz um baluarte da democracia, o que dizer desta nota do PT publicada no site do partido, saudando a vitória do companheiro Putin nas recentes eleições russas?
Estimados/as companheiros/as,
Acompanhamos com grande interesse o desenrolar do recente processo eleitoral presidencial na Rússia, que resultou na reeleição do Presidente Vladimir Putin. Com uma participação impressionante de mais de 87 milhões de eleitores, representando 77% do eleitorado do país, esse feito histórico ressalta a importância do voto voluntário na Rússia. Parabenizamos o Partido Russia Unida pelo resultado expressivo que garantiu a vitória do Presidente Putin com mais de 87% dos votos. Renovamos nosso compromisso em fortalecer nossos laços de parceria e amizade, trabalhando juntos rumo a um mundo mais justo, multilateral e plural. Enviamos nossas calorosas saudações à Rússia e seu povo neste momento importante e especial para o país.
Romênio Pereira, Secretário de Relações Internacionais
...é o bordão de um desses anúncios dos mais que suspeitos sites de apostas esportivas que infestam os meios de comunicação tradicionais e redes sociais.
Ajusta-se como uma luva a um episódio que vivi no mês que passou em que o protagonista é uma pessoa que frequenta meu restrito círculo de - vamos dizer - afinidades eletivas. Ao tomar conhecimento de que ele se afastara de uma pessoa que lhe servira com muita dedicação por muito tempo, manifestei minha estranheza e questionei-o a respeito das motivações que o levaram a tomar aquela atitude extrema. Deu-me uma apenas; aceitei-a sem questionar.
Dias após, conversando sobre o episódio com outra pessoa de nossas relações soube que os motivos eram bem diferentes. A história era outra! ... e pior, parecia fazer mais sentido do que a do nosso protagonista.
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....e saber que no passado havia escolhido a versão que ele dera para um episódio marcante da sua vida familiar, contra a opinião corrente. O convívio maior dos últimos anos, entretanto, já tivera o dom de suscitar suspeitas sobre sua narrativa.
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As circunstâncias em que estive imerso na vida me deram uma visão desencantada sobre ela. Passam as anos e o sentimento cresce. Já tinha vivido situação semelhante com outra pessoa, tempos atrás. A maior convivência, desnuda o outro, revelando aquilo que os ambientes formais em que estamos imersos não revela. - De perto, ninguém normal, escreveu Caetano Veloso em Vaca Profana. Haja afeto e compreensão para sobrelevar os pecados alheios e humildade para reconhecer que se os outros não são perfeitos, nós também não o somos.
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Fica o travo amargo na alma. Fui enganado duas vezes. Por ele e por mim mesmo. Daí meu crescente ceticismo tanto para com os outros como quanto para minha própria capacidade de julgar.
Nela desenrolaram-se os eventos máximos do cristianismo: paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Como católico - um tanto relapso - tenho acompanhado, nos últimos anos, os eventos litúrgicos - do assim chamado por nós - Tríduo Pascal: Quinta, Sexta-Feira santas e o Domingo de Páscoa.
Para entrar no clima de recolhimento da semana, nada melhor do que ouvir essa jóia da polifonia musical renascentista de Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525/1594), nas vozes do conjunto vocal Cori Spezzati dirigido por Olivier Optebeeck. São trechos do Ofício das Trevas da Quinta e Sexta-Feira Santas (Officium Tenebrarum). Diz-se que a música de Palestrina abre as portas do céu; é lá que me sinto ouvindo esta polifonia, mesmo com o titulo assustador que ela carrega.
A gravação fez parte do programa Som Infinito da Rádio MEC FM apresentado no dia 04.03.2018; ele compõe a grade da emissora e vai ao ar todos os domingos às 7:00h da manhã. Para ouvir clique no link acima e na página por ele aberta, na seta à esquerda da grande barra cinza horizontal. Para retornar à página do blog, clique na seta situada no canto superior à esquerda.
O imenso Brasil é (....) em grande parte, povoado por raças realmente inferiores. Em sua infinita variedade de portugueses, para quem não há hipérbole que baste, os brasileiros acreditam seriamente serem eles os primeiros homens do mundo.
Nitti,F.S. (1896) , La nuova fase della emigrazione italiana, in La Riforma Sociale, 3, vol. 6, p.757.
Nitti foi primeiro-ministro italiano e afora a lamentável demonstração de preconceito e/ou racismo da primeira frase, na segunda deixa transparecer a percepção, já naquela época, de que o brasileiro se acha.
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Sempre considerei que esse sentimento tinha aflorado por aqui depois da conquista em sequência de dois campeonatos mundiais de futebol, mas a julgar pelas palavras nada amáveis do primeiro-ministro italiano ele já se manifestava no século XIX. Merece pesquisa.
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A frase foi retirada do livro - estou lendo! - de Ângelo Trento, Do Outro Lado do Atlântico - Um século de imigração Italiana no Brasil, Nobel, 1989.
A canção de Luiz Bonfá e Antônio Maria, com a delicadeza e a melancolia da harmônica de Toots Thielemans. Uma maneira digna para o tímido e antissocial que sou celebrar o Carnaval.
No final de janeiro submetí-me a uma cirurgia de hérnia inguinal: herniorrafia inguinal bilateral no jargão da medicina. As previsões eram de uma recuperação em 15 dias. Eles se foram, mas eu continuo limitado em minhas atividades, impedido de caminhar por aclives, subir escadas, dirigir... A região operada ainda causa desconforto, caminhando ou sentado. Talvez as previsões se referissem a uma pessoa jovem, condição que abandonei fazem alguns anos, mas o evento - mais um! - corrobora a sabedoria popular de que na prática a teoria é outra, ou então ... nada como colocar a mão na massa.
Esperava ficar convalescendo por 2 ou 3 semanas na pior das hipóteses. Ficarei quatro com perspectiva de prolongar o período. Lá se vão o retorno ao Pilates e às caminhadas. Lá se foi meu irmão depois dos 15 dias da previsão terem se passado e que me deu o suporte indispensável no período operatório e pós-operatório. A família - demodé nas bolhas progressistas! - para essas ocasiões tem se revelado o abrigo mais seguro e confiável.
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A vida, entretando, continua com suas urgências. Já dirigi - em distâncias pequenas! Já carreguei algum peso e caminhei por alguma distância prá lá do razoável. Ainda não me aventurei a subir a ladeira que leva a meu prédio, nem enfrentei longos lances de escada! Com o juizo e a parcimônia que os anos me trouxeram, vou driblando de leve as recomendações médicas. Apenas mais um capítulo de como é a vida, diferente do que poderia/deveria ser.
Sou avesso a termos usados extenuantemente por nossos contemporâneos para expressar um estado de alma ou sensação por nós experimentada. Um deles é fofo. Entretanto, ao dar com esse quadro que ilustra o mês de outubro da folhinha do calendário que recebo anualmente dos Pintores com a Boca e com os Pés, fofo foi a palavra que me veio à mente. O casalzinho já está demais, mas aquele cachorrinho preto ao lado é matador. É muita fofura!
O nome do quadro é Cumplicidade - perfeito! - e foi pintado por Maria Vagyon, com a boca e/ou com os pés.
Achei a moça da foto interessante...Deve ser uma musa fitness de meia-idade, pensei.. Nada! A foto ilustrava uma notícia do Estadão na seção de Economia informando que a moça em questão - Carol Boccia - assumiria a presidência de uma agência de publicidade francesa com filial no Brasil, que tem na sua conta grandes empresas brasileiras.
Mais ou menos explicável... na área de publicidade o céu é o limite. Fico pensando como será a apresentação de uma CEO da agência no futuro. Virá com biquini? E a seguinte? Com biquini e o bumbum arrebitado... os glúteos em close? Meu machismo estrutural (!?!) iria achar ótimo.
Os sinais emitidos por nosso tempo são desalentadores para alguém que vivenciou outros tempos mais viscerais. De acordo com uma pesquisa feita na Inglaterra pela empresa KAM e citada na matéria assinada por Ronaldo Lemos na Folha, uma mudança cultural está em curso com o crescente abandono, particularmente entre pessoas mais jovens, do uso de bebidas alcoólicas. Cresce o consumo de cervejas e até vinhos não-alcoólicos, drinks de frutas, classificados - ai, Jesus! - como refrescantes. São as tais bebidinhas. Termo que traduz com felicidade seu conteúdo.
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Para um sujeito como eu, que bebe além do razoável - termos que teriam sido usados por Churchill, quando certa vez foi inquirido a respeito das quantidades de álcool que ingeria - essa modinha definida pelos ingleses como low & no, não passa de um constrangedor retrato de uma época. Não consigo imaginar como alguém que nunca tomou um porre em razão de um fracasso ou frustração profissional ou sentimental tenha provado visceralmente da vida. Será que beberam um drink - refrescante! - de frutas para celebrar? O Zeitgeist de início deste século, por esta e por muitas outras manifestações é - definitivamente - desalentador.
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Para os mexeriqueiros de plantão, devo informar que bebo em torno de uma garrafa de vinho ou espumante diáriamente. Nunca fiz arruaça em função do uso além do razoável de álcool - sou tímido! - e os exames mostram que meu fígado e minha função hepática são normais, para desespero dos meus médicos. Um deles que também bebe, rí a beça com o fato.
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Frustração - olha uma aí! - é não beber com a qualidade que Churchill fazia - vinhos de Bordeaux e champagne Paul Roger - mas não posso me dar a esses luxos. Fico com os espumantes nacionais e vinhos portugueses, argentinos e chilenos, mais acessíveis ao bolso de um rapaz latino-americano.
Os companheiros mais fiéis
A fé
As águas