domingo, 31 de maio de 2015

Brasil bem brasileiro. ( em dois tempos)

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O Brasil vive um momento de selfies. Um eterno presente em que os fatos e as fotos se sucedem sem contexto e sem enredo. Tudo se esgota no escândalo do dia, no toma lá dá cá, nos implantes de cabelo, na roubalheira da véspera, na amante do doleiro cantarolando Roberto Carlos na CPI, no ex-presidente que se expõe malhando, suando e dizendo banalidades sobre vida saudável.
Autoridades viram piadas corrosivas na rede, onde a derrisão é a regra. O falso revolucionário que antes cerrava o punho, hoje atravessa a tela com os pulsos algemados. Amanhã é o CEO engravatado da grande empresa que explica, com ar compenetrado, como dar propina. Delata-se. Deleta-se.
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Rosiska Darcy de  Oliveira - O tempo dos selfies - O Globo, 23.05.2015

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Dois fatos me chamaram a atenção no acidente aéreo envolvendo a família Huck: o ódio destilado na internet em relação ao casal de apresentadores globais e uma espécie de "comemoração" pelo fato de terem sido atendidos, primeiramente, no SUS.
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O coordenador do Samu de Campo Grande acusa a Santa Casa de ter negado atendimento a seis pacientes enquanto a família Huck era atendida com privacidade na UTI cardíaca.
"Fiquei muito decepcionado de ver que de repente a Santa Casa fecha uma UTI cardíaca para receber o Luciano Huck e Angélica. Estamos com pacientes entubados e ventilados a mão há mais de 12 horas esperando atendimento. Por que que eles passaram na frente dos outros?", indagou Eduardo Cury.
A Santa Casa publicou nota de esclarecimento garantindo que em momento algum negou ou recusou atendimento a qualquer pessoa que tenha procurado o hospital.
Não admiraria nem um pouco se isso for confirmado, já que a prática é corriqueira. Mesmo entre nós, reles mortais.
Dentro do SUS, especialmente nos hospitais de ponta, muitos atendimentos não acontecem de acordo com as regras do sistema (referência e contrarreferência), mas, sim, por QI (quem indica).
Isso já foi exaustivamente denunciado na imprensa, tanto que não causa mais indignação. Pelo contrário. O "salve-se quem puder" parece estar institucionalizado. 

Claudia Colucci - Os Hucks eo SUS - Folha, 26.05.2015

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Não somos uma nação.

...bem pode ser que esse povo, nós, nunca tenhamos verdadeiramente sido uma nação. Aqui houve Estado antes de existir um povo do qual ele fosse a legítima superestrutura. Faltou o ato constituinte. não se deu a passagem de um povo no seu território para a concentrada representação dele num lugar político verdadeiro. Constituintes, tivemos muitas. Ato constituinte, talvez nenhum. Tudo se passou nas altas esferas do poder já estabelecido. Nada subiu para lá direto do corpo doído e esperançoso da nação. Talvez seja tremendo assim: a nação brasileira ainda não se encontra, verdadeiramente, em parte alguma.

Ninguém nos representa - Marcio Tavares D'Amaral - O Globo, 16.05.2015

terça-feira, 19 de maio de 2015

7x0

Numa reunião de velhos companheiros numa noite de autógrafos da filha de um deles na Livraria da Travessa, discutíamos as relações homem/mulher. Todos, repito, todos confessaram que é das mulheres a palavra final. Cabe a elas fechar o círculo.  Essa unanimidade já tinha observado em casa. Todos os homens casados lá, dançam...miudinho a música proposta pela mulher!
Ai se não dançar ou não se submeter ao doce - prá muitos cabresto.  Machista! será o mais barato que ouvirão.
Apenas para confirmar a regra, tenho um amigo que dá as cartas na relação. Isto é, até onde esse meu pobre intelecto consegue apreender. Vai que o dom de iludir dele seja apurado!
É por isso que eu não consigo entender porque as feministas bravateiam tanto contra a opressão masculina. Quem sabe das coisas não precisa de feminismo porque sabe onde está e com quem está o poder. Vai ver falta-lhes inteligência ou sedução suficiente para conseguirem dobrar seus companheiros ao seu doce jugo.

P.S.(1) Falo do mundo em que vivo. Sei que nas classes mais pobres e de menor cultura, o couro come prá cima das mulheres. Curiosamente lá  o feminismo é raquítico. Robusto e bem nutrido ele finca raízes nas classes média e superior onde os homens estão atarantados frente ao avanço das mulheres

P.S. (2) Prá lançar a cizânia sobre tudo o que escrevi acima, acabo de lembrar de uma citação, parece-me que atribuída a Freud, que lí em uma das crônicas do falecido Paulo Francis: Mulheres sofrem a tentação do desvario submisso.

Eu diria que são exceção,embora tivesse conhecido várias, pós-doc inclusive



A irracionalidade das cotas.

Era apenas uma questão de tempo. Quem cria cotas positivas, vai criar as negativas também.
Leio no blog do João Pereira Coutinho - Ensaio sobre as Cegueiras - na Uol, postado em 18.05,  que há queixas de que a Universidade de Harvard estaria exigindo para a admissão  de alunos chineses, japoneses e sul-coreanos  140 pontos mais do que um aluno branco; 270 pontos mais do que um aluno hispânico e 450 pontos mais do que um aluno negro.  Deu no Wall Street Journal.
Tinha que dar nisso mesmo. Um equívoco na partida provocando uma catarata de desvarios em sequência,  Resta aguardar o próximo.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Roedores

Ratos
estão em cada esquina,
ratos no Congresso,
ratos na empresa,
ratos que roem a tessitura do ser,
ratos que roem a roupa da rainha,
ratos que roem as entranhas da nação,

São ratos bem resolvidos,
ratos bem-sucedidos,
ratos com auto-estima,
ratos bem-amados,
ratos felizes.
embora
ratos.

sábado, 9 de maio de 2015

O mal é banal.

A ausência de referenciais claros, de  end-points éticos,  tem levado  mais e mais pessoas a viver em estado de natureza. Tolhidos nos seus desejos, desafiados na sua visão de mundo, ou até mesmo por um simples capricho,  reagem com a  virulência, a amoralidade dos tsunamis e furacões. No passado, as ações devastadoras eram macro e provocadas por psicopatas de nomeada: Hitler, Stalin, Mao, Pol Pot.... É grande a galeria! Hoje as ações são micro, os psicopatas são de bolso e a Internet é seu palco preferido. É a maldade pret-a-porter.  Está ao alcance da mão de quem a exerce e de quem a sofre.
Já ouví várias vezes: - Olha que sou má(u)!  dito não sei se em tom de aviso ou de ameaça mas certamente sem nenhum constrangimento. Hoje a maldade destila um certo charme. É apresentada como um atributo que deve compor o multifacetado quadro  de uma personalidade vitoriosa.  Em um contexto onde  o que importa  é a auto-estima e a realização de todos os nossos desejos se a  maldade concorrer para isso porque não fazer uso dela? 
A culpa...e ela existe? Deve ser prurido de gente crente, conservadora.
Então cuidado meu amigo, há perigo na esquina. 
Aquele fofo(a) que divide com você confidências, te faz os melhores elogios, te cumula de presentes pode ser um ogro ou uma megera, enfim um potencial psicopata de bolso. Basta dar-lhe motivos. Fúteis muitas vezes. E os danos serão irreparáveis, personalidades serão destruídas via Internet ou vidas como a dos 149 passageiros do vôo da Germanwings que se espatifou nos Alpes franceses por obra e graça de um co-piloto que na minha opinião não passava de um exemplar dessa fauna que se multiplica a olhos vistos. Diagnosticaram depressão. Deprimidos não matam os outros, suicidam-se. Aliás, o que tem de psicopata se fazendo passar por deprimido... Os deprimidos não merecem pois fazem mal a si próprios.