Confesso que estes dias de Copa além de me darem o prazer de ver como anda a futebol pelo mundo - nos demais, sou um fiel aficcionado de Premier League e de futebol bem jogado - trazem-me o desconforto de conviver com o ufanismo que viceja como erva daninha nas peças publicitárias, no acompanhamento obsessivo que a imprensa faz da seleção e nas transmissões e comentários da maior parte da nosso jornalismo esportivo - Galvão Bueno, primum inter pares. É o vamo qui vamo, agora é nóis; um verdadeiro pé-no-saco.
Torço contra low profile, pois qualquer manifestação mais efusiva ou opinião mais contundente pode dar motivos a que me qualifiquem de antipatriota, como se torcer pelo sucesso da seleção de futebol do país fosse um atestado de amor e respeito por ele.
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Tudo começou na Copa de 70 quando o governo da época usou politicamente o tricampeonato da seleção. Daí para a frente, meu antipatriotismo só faz aumentar. Mais do que torcer pelo insucesso dos canarinhos tem a ver com o porre que damos ao nosso imaginário a cada campeonato mundial conquistado. Funciona como uma compensação para nosso desempenho de seleção de segunda ou terceira categoria naqueles quesitos que nos colocariam na prateleira de um país desenvolvido e mesmo uma potência mundial. Já que não dá para sermos campeões no que importa, que seja no futebol. Assim podemos tirar uma casquinha dos europeus e dos americanos. E vamos nos auto-enganando. Seremos um eterno país em desenvolvimento, mas potências mundiais no futebol.
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Adoraria saber quando se estabeleceu esse sentimento entre o povo. Desde sempre? Creio que não. Começou em 58, depois da primeira Copa... ou depois de 70, quando lembro que o tricampeonato foi explorado exaustivamente para outros fins além dos futebolísticos? A pesquisar...
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Somos tão auto-referenciados na matéria que há quem atribua o insucesso da seleção alemã depois da Copa de 2014 e o atual insucesso da seleção belga à maldição brasileira. Ousaram tirar o título do Brasil nas Copas de 14 e 18.
- Com brasileiros não há quem possa!
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