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O mais interessante de Jobs, filme de Joshua Stern sobre o criador da
Apple, está no que consegue mostrar da pura brutalidade, verbal e moral,
que parece prevalecer no mundo corporativo.
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A julgar pelo filme, ele era antes de tudo um monstro. Desde sua entrada
no mundo da informática, desenvolvendo aqueles joguinhos primitivos de
Atari, Steve Jobs grita, humilha, apunhala e pisoteia quem passa pela
sua frente.
Sua primeira negociação, com o proprietário de uma lojinha de acessórios
eletrônicos, já se apresenta como duvidosa, para dizer o mínimo. Jobs
mente, ou blefa, a respeito de suas possibilidades como fornecedor de um
novo tipo de aparelho --no qual, mente de novo, inúmeras outras lojas
estavam interessadas.
O aparelho, claro, é um modelo de computador que se pode usar dentro de
casa, acoplado à tela de TV. A genialidade técnica da invenção não
proveio de sua mente autocentrada, cujo caráter visionário e persistente
se confunde com os defeitos do açodamento e da cegueira.
Ele percebeu que o mundo poderia ser outro, se surgisse alguém capaz de
saber o que o consumidor deseja, antes mesmo que esse desejo fosse
percebido.
O preço a pagar durante o caminho é de não ver mais nada, nem ninguém,
entre o primeiro passo e o objetivo final. Jobs ignora tudo --até a
namorada grávida e depois a própria filha-- em favor desses aparelhos
que, por sua vez, tanto nos ajudam a conhecer e a ignorar o mundo.
Isso seria o de menos, não fosse a presença de outros humanoides tão
determinados e impiedosos quanto ele. São os que terminam por
destituí-lo da própria empresa. Jobs só era suportável se desse lucros
aos acionistas; mas sabemos de que modo as novas tecnologias têm o poder
de emperrar e não dar certo.
Quando ele volta para a Apple, supostamente mais humano e sábio, o
espectador já está farto de torcer por um sujeito tão detestável. O
próprio Jobs se deixa amolecer, e os produtos da empresa começam a
ganhar a aparência que têm hoje.
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Marcelo Coelho - Folha, 25.09.2013
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Já tinham me falado desse filme e das patranhas que o Jobs armara prá chegar lá - o objetivo final a que se refere o texto. Veio-me a lembrança um video que rodou na Internet, logo após sua morte, com um discurso que ele fizera a formandos de uma dessas universidades da Ivy League. Impressionou-me. Era fantástico. Repassei-o, inclusive. Depois... esse filme. Mostra bem como é importante chegar lá. Não importam os meios. Se você é alguém de sucesso, o rei da cocada preta, um winner enfim... você legitima seu discurso, seus atos, sua pessoa. Você é o cara. Adquire o respeito dos outros. Não o meu. Só acredito no que as pessoas fazem; no que dizem, definitivamente não. Ainda mais nos tempos marqueteiros em que vivemos onde a imagem é que importa.
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