segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

...e a Janja, hein?

Será que estamos diante do desabrochar de  uma Evita tupiniquim? Era só o que nos faltava nessa estranha obsessão que temos em seguir os descaminhos  dos nossos vizinhos argentinos. Lembram-se do efeito Orloff:  - Eu sou você amanhã?

Apetite não lhe falta, e ela não esconde de ninguém. Uma reportagem na Folha de hoje fala que sua superexposição já causa incômodos até junto a aliados. Ela faz questão de estar em todas, como se diz por aí.

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Estranho mesmo é a justificativa encontrada para todo esse protagonismo; dar uma visão moderna ao papel de primeira-dama. 

Entendo que se ela quiser passar o recado de que é uma mulher antenada com seu tempo, deveria exercer sua profissão de socióloga trabalhando regularmente em uma empresa ou instituição. Lembro da esposa do ex-primeiro ministro inglês Gordon Brown que saia todas as manhãs para trabalhar numa empresa de relações públicas em que era sócia-fundadora. Mulher moderna tá aí. Continuou exercendo sua profissão, não necessariamente na política. 

Mas a Janja parece querer mais. Participa de reunião com governadores, com membros do STF... Se ela quer participar da vida política, devia ter se candidatado a um cargo eletivo e ir prá Câmara ou Senado. Ou então ter sido nomeada Ministra - seria constrangedor, mas bem menos do que sua presença em diversas reuniões políticas do Presidente. Vai ver que ressignificar o papel de Primeira-Dama seja assim entendido nessa imensa porção de terra a sul do Equador que parece ter sido abandonada por Deus.

Não tenho notícias de que a Michelle Obama - que ela diz admirar - participava de reuniões políticas com os ministros do marido. Conheço pouco da história relacionada a Evita, mas como estamos em LatinoAmerica, é bem provável que sua participação tenha sido mais direta. 

No nosso caso, muito se escreveu sobre a dificuldade atávica que temos em separar o público do privado. Aqui o público, o impessoal são atravessados pelo espaço da casa. Torna-se difícil viver uma democracia representativa liberal com esses condicionantes. O protagonismo da Janja, à qual foi destinada uma sala no mesmo andar da Presidência no Palácio do Planalto, é só mais um capítulo nessa história. 

P.S. Mais sobre nossas dificuldades com o público e o privado no artigo A cultura personalista como herança colonial em Raízes do Brasil

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Sei não... pressinto que estão querendo fazer dela um balão de ensaio para uma possível sucessão do Lula.  Vai que dá certo...

Tudo muito parecido com o que aconteceu em certo país vizinho ao nosso. Peronismo por lá, lulismo por aqui. Caminho certo para o atoleiro mas realismo fantástico é com a gente mesmo.

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