sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Rio não tá prá peixe!

Há poucos dias atrás visitei minha mãe moradora de uma - ainda pacata - cidadezinha do Rio Grande do Sul. Em uma loja de móveis da cidade onde tentava comprar cadeiras para meu reengenheirado apê, a vendedora fez aqueles olhos de sonho quando falei que morava no Rio de Janeiro. Garota do interior deve ter no imaginário imagens de um Rio de Janeiro vendido pelas agências de viagens. Calei-me. Não quis assustá-la. Meu sentimento era um pouco o que  William Helal Filho deixa transparecer no seu texto na  crônica É Seguro?  em O Globo de 10.10.2014 onde desaconselha um amigo francês a visitar o Rio nesse verão. Ele é nativo e cariocas são generosos consigo mesmos e com sua cidade.
................
Pensei no barraqueiro lá perto da Rua Garcia D’Avila, em Ipanema, que pede aos ajudantes para ficar sempre de olho em qualquer sinal de agitação vinda do Arpoador. Pensei na conversa que tive com a atendente da padaria no Humaitá saqueada por mais de cem  no mês passado ao fim de um dia quente e de areias lotadas. No adolescente que roubou o celular da jovem na praia e depois disse que fez por prazer. Nas  blitzes de policiais fortemente armados, espalhadas pela Zona Sul, para inibir os mal-intencionados no fim de semana. Nos PMs levando jovens sem camisa para a delegacia sem nenhum flagrante. Nas gangues dos tais justiceiros usando o Facebook para marcar cercos à linha de ônibus que, aparentemente, virou inimiga pública número 1 (a página de um desses grupos já tem mais de 1.200 seguidores).
Pensei no padre José Roberto Devellard, da Igreja da Ressurreição, no Arpoador, que reza para não fazer sol no fim de semana, com medo de ver seus fiéis da missa de domingo sendo assaltados....
.......
 Isso tudo descreve um cenário de tensão. Mesmo quando crimes não acontecem, esse clima de suspense, de mau humor, fica no ar, no asfalto, na areia. O cenário está levando muita gente a fazer como o padre, e torcer por um céu encoberto no fim de semana. Chegando perto do verão, boa parte dos cariocas, este povo tão identificado com a estação mais quente, ficou com medo de sol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário