Foi a 31 de outubro, feriado em Lajeado-RS, cidade de população fifty/fifty de origem alemã/italiana. Minha mãe mora lá e eu a visitava nesse dia. Tudo parado. É o feriadão deles, tipo o Thanksgiving americano; emendam com Finados em 2 de Novembro e quem pode, viaja. Em 2017 foram comemorados os 500 anos de Reforma e a cidade é uma filha digna de Martinho Lutero. É próspera e figura entre as 10 cidades gaúchas com melhor IDH do Estado na maioria das listas elaboradas com essa finalidade.
Talvez a forte presença da imigração alemã a tenha feito assim, mas a imigração italiana deve ter ajudado, embora italianos sejam latinos, com algumas idiossincrasias que forjaram nossa matriz ibérica. Uma delas é a herança da Contra-Reforma que segundo Francisco Daudt, seleciona autoritários, centralistas, sebastianistas,
burocratas, conchavistas, bajuladores e corporativistas, inibe empreendedores e
incentiva parasitas que esperam tudo de El-Rei. Que tal? (Seleção Adversa Vai de Brasília até Parceiros Podres que Escolhemos, Folha, 22.11.2017)
Eduardo Gianetti em Trópicos Utópicos também não deixa barato:
A Ibero-América e a Anglo-América são herdeiras de duas variantes distintas da civilização européia: duas culturas polares e até certo ponto antagônicas que disputaram a supremacia geopolítica e espiritual do mundo a partir dos albores da Renascença e da era dos descobrimentos nos séculos XVI e XVII. Falando em termos gerais, pode-se dizer que as Américas do
Sul e do Norte refletem e projetam a seu modo, como num grande espelho
transatlântico, as diferenças religiosas, culturais e institucionais entre a
face ibérica e a face anglo-saxã do Velho Mundo. O contraste não se reduz à
dimensão geopolítica e econômica da aventura colonial, mas abrange um nítido e
essencial antagonismo no que tange aos valores e às crenças dominantes - às
formas de vida e sensibilidade - das
metrópoles rivais. De um lado, a Contra-Reforma católica, com forte acento
jesuítico, missionário e inquisitorial; o apego à escolástica medieval acoplado
à resistência aos ventos, métodos e ideais iluministas; a Coroa absolutista
centralizadora e burocrática; e o mercantilismo parasita de uma elite rentier.
E, de outro, a Reforma protestante, com forte acento puritano e calvinista
(entre as coisas desta vida, o trabalho é o que mais assemelha o homem a Deus);
a vigorosa adesão ao projeto iluminista da ciência e tecnologia a serviço do
resgate da condição humana por meio do domínio da natureza e da ação racional;
a monarquia constitucional; o primado do mercado competitivo e da livre empresa
como instrumentos de eficiência econômica e da acumulação de capital. O tempo,
como sabemos, foi cruel com as pretensões do mundo ibérico....
Que herança! Definitivamente não começamos bem.
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