domingo, 19 de novembro de 2017

Império Reverso

O filósofo grego Diógenes fez de autossuficiência e do controle das paixões os valores centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila no interior do qual pernoitava eras suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu conferir de perto. Foi até ele e propôs: Sou o homem mais poderoso, peça-me o que desejar e lhe atenderei. Diógenes agradeceu a gentileza e não titubeou: O senhor teria a delicadeza de afastar-se um pouco?  Sua sombra está bloqueando o meu banho de sol. O filósofo e o imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo dos deuses em felicidade é aquele que de menor número de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão zombou do morador da cisterna por ter desperdiçado a oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: Pois saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria desejado ser Diógenes. Os extremos se tocam. Querei só o que podeis, pondera o padre Antônio Vieira, e sereis omnipotentes.

Eduardo Gianetti - Trópicos Utópicos - Cia de Letras

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Alexandre foi meu ídolo nos meus verdes anos. Diógenes é meu ídolo nos anos maduros. Estou mimetizando-o; mais e mais tornando-me uma estranha figura.

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