A prisão de Renato Duque
provoca-me uma pororoca de idéias e
sentimentos e convida a um balanço da minha vida profissional. Éramos vizinhos
na Macaé dos anos 80 e começávamos na empresa.
Fui reencontrá-lo – poucos anos atrás – na sala de ginástica na companhia.
Ele na qualidade de Diretor Executivo de Serviços Gerais, eu, um técnico
sênior. Nesse reposicionamento das peças no xadrez da vida, trocávamos não mais
do que palavras protocolares.
Agora esse escândalo... Já
estarrecia quando os valores alcançavam 10 bilhões, fala-se agora em 25 bi. O
limite parece ser as estrelas. Sabia-se que tinha subido na vida graças a
indicação política de José Dirceu. Por amigos na empresa sabia que estava
envolvido. Apanhá-lo seria uma questão de tempo depois que o Paulinho do Lula
optou pela delação premiada. Certamente ele não alcançaria patamares tão
elevados na gerência caso não vivesse nesse Brasil tão brasileiro onde o
compadrio e, - peculiaridade desses tempos sombrios – interesses políticos para
perpetuar um partido no poder associam-se.
Por mais criativa que fosse minha
mente, jamais passaria por ela que 30 anos após, aquele engenheiro com sotaque característico
do interior paulista estaria no epicentro do que é, provavelmente, o maior
escândalo da República. Hoje está preso preventivamente por dispor de
verdadeira fortuna em contas secretas mantidas no exterior segundo
parecer do juiz que cuida do caso. Imagina os valores se Pedro Barusco, seu
subordinado, declarou ter 100 milhões de dólares no exterior – quantia quase
que suficiente para pagar a campanha à
presidência da República segundo os valores declarados pelos candidatos.
Olho prá dentro de mim, olho ao
redor, constato o que amealhei nesses anos de empresa e no turbilhão de
sentimentos que o episódio provoca dois
sobressaem: sinto paz e vergonha. Fiz o que pude dentro da minha precariedade como ser humano,
balizado pelos princípios que aprendi na casa dos meus pais e no seminário dos frades onde
passei minha adolescência e juventude. Estou certo de que dei conta do recado e
isso me dá paz interior. Entretanto, se até aqui sentia orgulho em dizer que
pertencia ao corpo técnico da companhia, hoje envergonho-me.
Faço idéia também no que deve pensar um bom número de
interlocutores de outras empresas com quem mantenho relações profissionais.
Devem associar-me a um preço. É cruel, é doloroso mas é o prêmio de 37 anos de
trabalho.
Consternador também, é ver
colegas à semelhança daquele fariseu da parábola que rezava:
- Ó Deus, graças te dou porque não
sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como
este publicano, jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho
(Evangelho de Lucas, cap. 9, vers. 10-11) -
afirmarem que com eles isso não
aconteceria. Será? Se o cavalo tivesse passado encilhado não teriam repetido os
feitos do Paulinho e do Duque? Quantos recusariam? Eu resistiria? Afinal 30
anos atrás o Duque não passava de um Engenheiro de Perfuração , eu, um simples
geólogo da companhia. A linha de partida foi a mesma. Os caminhos e as
condições de contorno, entretanto, revelaram-se diversos.
(republicada devido a problemas de formatação no texto de 30 de novembro)
(republicada devido a problemas de formatação no texto de 30 de novembro)
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