domingo, 18 de janeiro de 2015

Je ne suis pas Charlie (II)

Subscrevo in toto,  menos quando ele diz que palavras não matam. Infelizmente elas podem matar, não fisicamente como um AK-47, mas psicologicamente, moralmente....assim como cartuns, charges...
++++++
Não existe "mas" em relação ao que aconteceu na redação do "Charlie Hebdo". Pessoas publicaram algumas charges, e outras pessoas as mataram por isso. Palavras e imagens podem ser belas ou repugnantes, agradáveis ou enfurecedoras, inspiradoras ou ofensivas, mas elas existem em um plano diferente da violência física, quer você queira chamar esse plano de espírito, imaginação ou cultura --e combater palavras e imagens com violência é uma ofensa ao espírito, à imaginação e à cultura que caracterizam os humanos. Nada pode mitigar essa monstruosidade. Haverá tempo para analisar por que os assassinos o fizeram, tempo para decompor o passado e a origem deles, suas ideologias, suas crenças, tempo para sociólogos e psicólogos ampliarem a compreensão do que aconteceu. Haverá explicações, e as explicações serão importantes, mas explicações não são a mesma coisa que desculpas. Palavras não matam, elas não devem ser combatidas com a morte e elas não apagarão a culpa dos que mataram.
Mas repudiar o que foi feito às vítimas não é o mesmo que se transformar nelas. Isso é verdade no plano mais simples: não posso ocupar o eu de outra pessoa, não posso compartilhar a morte de outro. É verdade também ao nível moral: não posso me apropriar dos perigos que outras pessoas enfrentaram ou do sofrimento que suportaram, não posso colonizar sua experiência, e é arrogância fazer de conta que posso. Não seria necessário explicitar isso, não fosse pela enxurrada de hashtags, avatares e posturas assumidas online proclamando #JeSuisCharlie, que submerge as distinções e passa por cima do que é importante. "Precisamos todos tentar ser 'Charlie', não apenas hoje, mas todos os dias", pontifica a "New Yorker". O que diabos isso quer dizer? Na vida real a solidariedade assume muitas formas, quase todas difíceis. Este tipo de solidariedade fácil, de baixo custo e isenta de riscos só é possível na era das mídias sociais, onde você pode assumir uma atitude, alguém a vê em sua linha do tempo e então segue adiante e tudo é esquecido, exceto pelo sentimento de realização que lhe proporcionou.
A solidariedade é difícil porque não diz respeito a identificações imaginárias. Exige esforço para transpor o abismo implícito em não ser outra pessoa: por exemplo, reconhecer que alguém morreu por ser diferente de você naquilo que fazia, acreditava, era ou vestia, não por ser igual. Se pessoas que estão sentindo sofrimento concreto ou choque ou indignação abstratos se reconfortam ao proclamar uma unidade que parece preencher o vazio, isso cumpre uma finalidade emocional. Mas não se deve confundir esses credos cartesianos proclamados no Twitter --sou "Charlie", logo existo-- com atos políticos.
O objetivo parece ser apagar diferenças; e talvez isso seja apropriado no caso das charges do "Charlie", cuja força era derivada do desprezo pensado que manifestavam em relação a pessoas que tinham a temeridade de ser diferentes. Muitos citaram Voltaire. A mesma frase está presente em todo lugar em minhas várias linhas do tempo: "Não concordo com o que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo". 

LIVRE EXPRESSÃO "Essas 16 palavras dando a volta ao mundo falam mais alto que o pipocar de balas e representam cada caneta que é brandida por um braço estendido", diz um site de jornalismo australiano. (Deixemos de lado o fato de que elas não foram escritas por Voltaire, mas por um de seus biógrafos). Mas a maioria das pessoas que as repetem não quer dizer exatamente isso. Na realidade modificam sutilmente a mensagem voltairiana: a mensagem hoje é "tenho que concordar com o que você diz para poder defendê-lo". A que outra razão se deve a insistência de que não basta condenar a matança? Não: todos nós precisamos endossar as charges, e não só isso, republicá-las. Assim, a "Index on Censorship", uma revista que antigamente se opunha à censura, mas agora diz às pessoas o que podem ou não podem dizer, conclamou todos os jornais a republicarem as charges: "Pensamos que é apenas com a solidariedade --mostrando que defendemos verdadeiramente todos os que exercem seu direito de se expressar livremente-- que poderemos derrotar aqueles que recorrem à violência para silenciar a livre expressão". Mas repetir o que você diz é o mesmo que defender você? E será que é realmente "solidariedade" quando, em vez de eu me engajar com você, passando por cima de nossas diferenças, simplesmente papagueio o que você diz, sem refletir sobre o que significa?
Mas não: se você não reproduz as charges, você está em conluio com os assassinos, você é um covarde. Assim o site de direita "Daily Caller" publicou uma lista de covardes servos da jihad na mídia que se opõem à liberdade de expressão pelo fato de não fazerem o que foi ordenado. Castiguem esses censores até eles dizerem o que lhes mandamos dizer!
"Deveriam se envergonhar!", escreveram em sua conta do Twitter. Se você não concordar com o que disse o "Charlie Hebdo", os terroristas terão vencido.
Com seu silêncio, você não está apenas se dobrando diante dos terroristas. De acordo com Tarek Fatah, colunista canadense com viés fascista evidente, o silêncio é terrorismo. "Se você é muçulmano, está nas redes sociais e ainda não tuitou 'Eu sou #CharlieHebdo', então você é islâmico e é nosso inimigo", escreveu ele.
É claro que qualquer muçulmano no Ocidente sabe que ser chamado de "nosso inimigo" é uma ameaça direta; você tirou o cartão "vai para Guantánamo". Mas pense no seguinte: esse idiota pensa que está defendendo a liberdade de expressão. Como? Dizendo às pessoas exatamente o que elas têm que dizer e ameaçando as que resistem taxando-as de traidoras. O Ministério da Verdade abriu uma representação em Toronto.
Existe uma razão muito boa para não republicar as charges, razão que não tem nada a ver com covardia ou cautela. Eu me nego a postar as charges porque as considero racistas e ofensivas. Posso defender seu direito de publicar alguma coisa e ainda assim condenar o que você publica. Posso defender o que você diz e ainda dizer que está errado --não é essa a mensagem da frase de Voltaire (que não é de Voltaire)? Posso considerar que os governos não devam colocar na prisão as pessoas que negam o Holocausto, mas isso não me obriga a negar o Holocausto, eu mesmo.
É verdade, como diz Salman Rushdie, que "ninguém tem o direito de não ser ofendido". Você não deve chamar a lei para censurar ou calar o livre discurso apenas porque este o insulta ou fere suas convicções. Você certamente não tem o direito de matar porque ouviu alguma coisa que o desagradou. No entanto, sob o peso desses momentos de ultraje em massa, também esse truísmo se converte em uma afirmação diferente: que ninguém tem o direito de se ofender, e ponto final.
Eu me ofendo, sim, quando os setores já oprimidos de uma sociedade são insultados intencionalmente. Não quero participar. O crime cometido em Paris não suspende minha capacidade de julgamento político ou ético, nem me convence de que difamar escatologicamente a identidade e as crenças de uma minoria periférica seja uma atitude razoável. Mas isso significa rejeitar a única reação autorizada à atrocidade. Estranhamente, essa pressão de pares parece entrar em ação única e exclusivamente quando o islã está envolvido. Quando recentemente um racista atirou uma bomba em uma representação de uma organização americana de direitos civis, a mídia não insistiu que eu fizesse uma doação à NAACP (Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor) a título de solidariedade. Quando um direitista islamofóbico fanático matou 77 noruegueses em 2011, a maioria deles num acampamento de jovens de um partido político, não notei muitas hashtags #EuSouNoruega nem chamados veementes para as pessoas ingressarem no Partido Trabalhista Norueguês. Mas o islã está presente para nós: ele nos une contra o islã. Apenas covardes ou traidores recusam a filiação ao clube "Charlie". A exigência de aderir, de endossar, de concordar, visa nos juntar todos em um rebanho onde ninguém tem a permissão de fazer ressalvas ou condenar: uma turba indiferente, onde divergir de outras pessoas é um crime de pensamento, enquanto a indiferença diante do sofrimento de outros que não fazem parte do rebanho é obrigatória. 

SÁTIRA Nos últimos dias ouvimos falar muito em sátira. Ouvimos que a sátira não deve causar ofensa, porque é uma arma dos fracos: "Os satiristas sempre chamam a atenção para as manias e fraquezas dos mais poderosos". E ouvimos que, se a sátira visa a todos, as investidas no racismo, na islamofobia e no antissemitismo podem ser explicadas e desculpadas. O "Charlie Hebdo" "tem sido uma celebração contínua da liberdade de zombar de todos e de tudo... Praticava uma sátira livre e indigesta, sem contornos ideológicos claros". É claro que a sátira que ataca todos os alvos e qualquer alvo por definição não mira apenas os poderosos. "A lei, em sua igualdade majestosa, proíbe não apenas os pobres, mas também os ricos de dormir debaixo de pontes", escreveu Anatole France; a sátira que fere tanto poderosos quanto fracos o faz com efeitos diferentes. Dizer que o presidente da República é um tarado não é o mesmo que acusar imigrantes muçulmanos não identificados de bestialismo. Algo que apenas irrita um pode aprofundar a opressão sistemática de outro. Defender a sátira porque ela é indiscriminada é reconhecer que ela discrimina os indefesos.
Kierkegaard, o maior satirista de seu século, relatou um sonho seu: "Fui carregado para o Sétimo Céu. Ali todos os deuses estavam reunidos". Os deuses lhe concederam um desejo: "Contemporâneos honrados, escolho uma coisa: que eu sempre possa ter o riso do meu lado". Kierkegaard sabia do que estava falando: crianças zombavam dele e lhe atiravam pedras nas ruas de Copenhague, por seu torso de macaco e seu andar desajeitado. Sua fantasia, em que ele vira o jogo, é a verdade em relação à sátira. A sátira é um exercício do poder. Ela reivindica superioridade, aspira vencer e, por isso, sempre se ergue sobre os fracos, julgando-os. Se ela ataca os poderosos, é porque existe uma ânsia subjacente à sua aspereza: a sátira deseja o que eles possuem. Como escreveu Adorno: "Aquele que tem o riso do seu lado não precisa de provas. Historicamente, portanto, durante milhares de anos, até o tempo de Voltaire, a sátira preferiu tomar o partido do lado mais forte, com o qual era possível contar --o lado da autoridade". A ironia, ele acrescentou, "nunca chegou a se despir por completo de seu legado autoritário, sua malícia não rebelde".
A sátira se alia ao que é autoevidente, às ideias recebidas, o arsenal dos fortes. Ela se inclui no time do futuro, esse rolo compressor, contra o passado em perigo de extinção, o time da opinião bem-sucedida contra o da opinião superada. A sátira sempre se alimentou da rejeição às minorias, aos povos marginais, aos modos de vida tradicionais ou em desaparecimento. Disse Adorno: "Toda a sátira ignora as forças desencadeadas pela decadência".
O "Charlie Hebdo", afirma agora a "New Yorker, "levava adiante a tradição de Voltaire". Esse é tido como o deus da sátira; qualquer francês ateu e irreverente é comparado a ele. Todo o mundo se recorda de suas diatribes contra o poder da Igreja Católica: "Écrasez l'Infâme!" (esmaguem o infame). Mas o que frequentemente é esquecido em meio à bajulação de sua espirituosidade é o fato de que Voltaire detestava uma religião sem poder, aquela cujos fiéis eram os outsiders de sua própria era, a minoria imigrante "medieval" e "bárbara" que assolava a Europa: os judeus.
O antissemitismo de Voltaire era abrangente. Em seu desprezo pelo supostamente "primitivo", antecipou muito do que é dito hoje na Europa e nos Estados Unidos sobre os muçulmanos. "Os judeus nunca foram filósofos naturais, geômetras ou astrônomos", Voltaire declarou. Sua frase remete ao islamófobo-chefe, Richard Dawkins:
"Todos os muçulmanos do mundo juntos têm menos Prêmios Nobel que o Trinity College de Cambridge. Mas eles fizeram grandes coisas na Idade Média", escreveu Dawkins em seu Twitter. 

ISLAMOFOBIA Os judeus, escreveu Voltaire, são "apenas um povo ignorante e bárbaro que há muito tempo soma a avareza mais sórdida à superstição mais odiosa e ao ódio mais invencível por todos os povos pelos quais são tolerados e enriquecidos". Quando algum ignorante americano de direita chama os muçulmanos de "goatfuckers" ("fodedores de cabras"), poderíamos pensar que ele está usando algum xingamento antigo da região dos Apalaches. Na realidade, está repetindo as piadas que Voltaire fazia sobre judeus. "Vocês alegam que suas mães não tinham relações com bodes, nem seus pais com cabras", Voltaire disse a eles. "Mas me digam, cavalheiros, por que são o único povo sobre a terra cujas leis proíbem tais relações? Algum legislador teria cogitado promulgar essa lei extraordinária se o delito não fosse algo comum?"
Ninguém deseja que Voltaire tivesse sido assassinado por suas calúnias. Se algum judeu ou muçulmano indignado (ele tampouco tinha muito apreço pelos "maometanos") o tivesse assassinado no meio de sua carreira, o mundo inteiro teria lamentado a abominação. Nos trechos mais "judeofóbicos" de seus escritos, ainda posso sentir prazer com seu texto incisivo --se bem que alguns possam ter dificuldade em apreciá-lo, mesmo 250 anos mais tarde. Mesmo assim, gostar de seu estilo não quer dizer que eu aceite sua mensagem piamente. #JeSuisPasVoltaire. A maioria de seus admiradores evita falar de seu antissemitismo ou o oculta. Eles sabem que, embora o escárnio de Voltaire divirta as pessoas quando é direcionado contra o poderoso e inacessível papa, torna-se sombrio e azedo quando difama uma comunidade fraca e desprezada. A sátira às vezes pode nos libertar, mas ela não é imune a nossos preconceitos ou ódios. Ela não deve apagar nossa capacidade crítica; qualificar algo como "sátira" não o isenta de ser avaliado. A superioridade que o satirista se arroga sobre os fracos pode ser arrogante e também sinistra. No ano passado, um ex-colaborador do "Charlie Hebdo" acusou os editores do jornal de conivência com o racismo e avisou: "A convicção de ser um ser superior, dotado do poder de olhar de cima para os comuns mortais, é a maneira mais certeira de sabotar suas próprias defesas intelectuais".
É claro que Voltaire não percebia que suas vítimas judias eram fracas ou impotentes. Já no século 18 ele as enxergava como tentáculos de uma conspiração financeira; sua propensão por gastar além de suas possibilidades e endividar-se com agiotas judeus ajudou em muito a moldar seu antissemitismo. Do mesmo modo, o "Charlie Hebdo" e outras publicações semelhantes nunca trataram os imigrantes muçulmanos como indivíduos, mas como agentes de alguma força maior. Não os viam como pessoas que se esforçam da melhor maneira que conseguem em um país inamistoso, mas como sinônimos de ignorância religiosa em massa, ou de fanatismo terrorista tribal ou, ainda, de riqueza petrolífera obscena. A sátira incorpora a pessoa humana em uma generalização inumana. O muçulmano não é simplesmente um muçulmano, mas um símbolo do islã. 

AGLUTINADOR É aqui que os islâmicos políticos e os islamófobos se encontram. Eles se apegam a ideologias aglutinadoras; fundem as pessoas em uma massa; apagam os atributos e aspirações dos indivíduos e os juntam numa visão totalizadora do significado da identidade. Um muçulmano é sua religião. Você pode responsabilizar um muçulmano pelo que qualquer muçulmano faz. Logo, todos os muçulmanos precisam postar #JeSuisCharlie obsessivamente em sinal de penitência ou para pedir desculpas pelo que o outro bilhão de muçulmanos está fazendo. O humorista e crítico social australiano Aamer Rahman tuitou: "Como um muçulmano qualquer, vou pedir desculpas por este incidente em Paris se pessoas brancas quaisquer pedirem desculpas pelo imperialismo, os ataques de drones e Iggy Azalea".
Algumas horas mais tarde ele foi obrigado a acrescentar:
"Ok, internet, recusar-se a aceitar a responsabilidade pelo assassinato de alguém ou a pedir desculpas pelo assassinato não quer dizer que você endossa ou celebra esse assassinato".
Essa insistência sobre a responsabilidade contagiosa, sobre a culpa coletiva, é o outro lado da moeda do #JeSuisCharlie. É o #VocêsSãoEstadoIslâmico; #VocêsSãoAlQaeda. Nossa solidariedade, nossa capacidade de nos fundirmos em uma unidade calorosa e inconsciente e sentirmos que estamos fazendo alguma coisa, depende da solidariedade involuntária de vocês, de vocês perderem sua individualidade declarada, fundindo-se numa massa ameaçadora. Não podemos nos unir aqui a não ser que imaginemos vocês, ali do outro lado, postados como nossos adversários. Os antagonistas são falsos, mas estão interligados, são inevitáveis. O discurso se endurece. Geert Wilders, líder direitista e racista holandês, disse que as matanças significam que é hora de "desislamizar nosso país". Nigel Farage, sua contraparte no Reino Unido, descreveu os muçulmanos como "uma quinta coluna, pessoas que carregam nossos passaportes e que nos odeiam". Juan Cole escreve que o ataque ao "Charlie Hebdo" foi um "ataque estratégico, que teve por objetivo polarizar o público francês e europeu" --"afiar as contradições". E os punhais de ambos os lados também estão sendo afiados.
Perdemos nossa capacidade de imaginar soluções políticas quando deixamos de pensar criticamente, quando deixamos que nossas identificações emocionais nos empurrem para substitutos artificiais da solidariedade e da ação. Perdemos nossa capacidade de reagir a atrocidades quando começamos a enxergar pessoas não como indivíduos, mas como símbolos. Mudar de avatares na mídia social é uma forma patética de desviar nossa atenção das realidades sociais em transformação. Para combater a violência, é preciso encarar de frente, sem medo, as desigualdades e práticas concretas que a alimentam. Você não vai combater a violência com atos de coragem em sua tela de computador, atos que não arriscam ou mudam nada. Para proteger a liberdade de expressão que está ameaçada é preciso ouvir e discutir o teor do que foi dito, e não negá-lo. Isso significa procurar criar um diálogo com aqueles que condenam ou discordam pacificamente, e não envergonhá-los até reduzi-los ao silêncio. Nada é rápido, nada é fácil. Nenhuma solidariedade é segura. Eu defendo a liberdade de expressão. Sou contra toda a censura. Repudio os assassinatos. Choro os mortos. Não sou "Charlie". 

Por que não sou Charlie

SCOTT LONG  
TRADUÇÃO CLARA ALLAIN

Folha, 18.01.2014
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário