- Que bom! pensei eu lá com meus botões. É a volta do povo para a rua, o resgate dos velhos carnavais.
Entretanto, leiam o trecho abaixo da coluna do Jânio de Freitas para a Folha de hoje, e aí, bem...
Parecia Carnaval, um tanto estilizado pelas multidões mais afeitas a espectadoras imóveis dos shows de rock do que à ginga do samba e à graça das marchinhas. Parecia, mas era guerra. Mais uma, não bastando Eduardo Cunha versus governo, Lava Jato versus corrupção na Petrobras, PSDB contra PT, imprensa contra Lula, e as muitas menos prestigiadas pelos bombardeios.
Duas combatentes, entrevistadas como diretoras de um bloco, diziam coisas sem nexo: trabalham o ano inteiro na organização do bloco, apesar dos seus diplomas universitários só se ocupam do bloco, organizá-lo exige muitas reuniões de trabalho. Mas o bloco nada tem de especial, nem fantasias próprias, nem alegorias, nada. Só gente, gente, gente. E cerveja, cerveja, cerveja. Mas tem novidades, sim. Inovações de verdade.
Uma nova profissão: fundador e diretor de bloco, antes ocupação amadora, tornou-se profissão. Emprego sem risco de demissão. O velho "general da banda" só deu samba, mas ser general ou generala de bloco dá dinheiro. É que os fabricantes de cerveja trouxeram para as ruas a guerra até então disputada só na TV e nos bares.
O grande aumento do número de blocos no Rio e em São Paulo neste ano, apoiado no grande aumento do incentivo "jornalístico" para o comparecimento das massas, foi fabricado e financeiramente bancado por indústrias de cerveja. Um programa desenvolvido ao longo do ano. Cada multidão com nome de bloco veio a ser, na verdade e sem saber, como uma reunião inumerável de pontos de venda: a multidão de consumidores acompanhados pela multidão de carrocinhas, carrinhos, triciclos vendendo latas de cerveja. E aí a chave do negócio: em cada bloco, cerveja de um só fabricante. Exclusivo, aliás, de numerosos blocos, áreas de concentração e de dispersão.
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