Tentando entender desde sempre, esse país de difícil interpretação - definitivamente, não é para leigos - estou a ler (e-book) Brasil: uma Biografia de Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Staling (Cia de Letras). É fascinante constatar como as práticas para manter o poder se perpetuam. Mudam apenas os atores.
Vejam como as autoras descrevem a maneira como o Poder Central controlava os demais entes da República; estados e municípios no começo do século XX.
O voto era entendido como moeda de troca, as relações de poder se desenvolviam a partir do município, e na ponta desse relacionamento está o fenômeno do coronelismo. Coronel era o posto mais alto na hierarquia da Guarda Nacional, a instituição do Império que ligou proprietários rurais ao governo. Com a República, a Guarda perdeu sua natureza militar, mas os coronéis conservavam o poder político nos municípios que viviam. Daí em diante, o coronelismo passou a significar um complexo sistema de negociação entre os chefes locais e os governadores dos estados, e destes com o Presidente da República. O coronel seria um dos elementos formadores da estrutura oligárquica tradicional baseada em poderes personalizados e nucleados, geralmente, nas grandes fazendas e latifúndios brasileiros.
O coronel era, assim, parte fundamental do sistema oligárquico. Ele hipotecava seu apoio ao governo estadual na forma de votos, e, em troca, o governo garantia o poder do coronel sobre seus dependentes e rivais, especialmente através da cessão dos cargos públicos, que iam do delegado de polícia à professora primária. E desse modo se estabilizava a República brasileira no início do século XX, na base de muita troca, empréstimo, favoritismos, negociações e repressão. Visto desse ângulo, e como diziam os jornais satíricos de época, o país não passava de uma grande fazenda.
Estamos além do início do século XXI e as práticas continuam inalteradas. Mudaram os coronéis. O PMDB que o diga ou então o PT com seu aparelhamento geral e indiscriminado do estado visando perpetuar-se no poder.
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