Não sou supersticioso, não acredito em coincidências mas juro que ao ver aquela estátua do Nelson Rodrigues na pracinha Inhangá aqui perto de casa, eu comecei a rever meus conceitos.
Foi inaugurada faz pouco tempo e sua localização se deve ao fato de ter sido ali sua primeira residência no Rio de Janeiro. Aportou por aqui aos 4 anos vindo de Pernambuco. Fico feliz, com esse ex-vizinho ilustre. Outro era o Ferreira Gullar, que morava na Duvivier e que vi algumas vezes desfilando sua magrelice pelas ruas do bairro. Foi-se no final do ano.
Tomei contato com o mundo do Nelson, menino ainda, em Caxias do Sul. Meu pai - alfaiate - mesmo não tendo ido além do ensino primário, tinha uma cabeça aberta para o mundo e assinava a Folha de Tarde, um fato incomum para o universo em que vivíamos. A Folha, jornal vespertino da Caldas Junior, publicava as crônicas de Nelson e desde aquela época o mundo rodrigueano passou a fazer parte da minha vida. Fico pensando como um menino de 10 anos morando em uma cidade do interior gaúcho, digeria aquelas crônicas marcadas pela obsessão e morbidez.
Não conheço muito do seu teatro, mas o contato com aqueles textos fizeram-me tomar contato com os paradoxos da vida e das pessoas. Completaram essa visão Dostoievski, Sartre, Camus que mostraram o beco sem saída que a vida é. Dostoievski ainda sinaliza com uma luz, mas para os outros dois, é a danação e nada mais.
Uma palhinha da mão pesada do Nelson:
Encerrando uma entrevista sobre a última peça, Bonitinha mas Ordinária, Nelson Rodrigues foi instado a dar um conselho aos jovens: Sejam neuróticos!, respondeu, defendendo-se indiretamente das acusações insistentes que lhe fazem de ser ele próprio um autor neurótico. A nossa opção, repito, é entre angústia e gangrena. Ou o sujeito se angustia, ou apodrece. E se me perguntarem o que quero dizer com a minha peça, eu responderia: que só os neuróticos verão a Deus.
Leo Gilson Ribeiro, O Sol sobre o pântano in: Nelson Rodrigues, Teatro Completo, Nova Aguilar,1993.
Não conheço muito do seu teatro, mas o contato com aqueles textos fizeram-me tomar contato com os paradoxos da vida e das pessoas. Completaram essa visão Dostoievski, Sartre, Camus que mostraram o beco sem saída que a vida é. Dostoievski ainda sinaliza com uma luz, mas para os outros dois, é a danação e nada mais.
Uma palhinha da mão pesada do Nelson:
Encerrando uma entrevista sobre a última peça, Bonitinha mas Ordinária, Nelson Rodrigues foi instado a dar um conselho aos jovens: Sejam neuróticos!, respondeu, defendendo-se indiretamente das acusações insistentes que lhe fazem de ser ele próprio um autor neurótico. A nossa opção, repito, é entre angústia e gangrena. Ou o sujeito se angustia, ou apodrece. E se me perguntarem o que quero dizer com a minha peça, eu responderia: que só os neuróticos verão a Deus.
Leo Gilson Ribeiro, O Sol sobre o pântano in: Nelson Rodrigues, Teatro Completo, Nova Aguilar,1993.
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