domingo, 22 de janeiro de 2017

No way out

Não sou supersticioso, não acredito em coincidências mas juro que ao ver aquela estátua do Nelson Rodrigues na pracinha Inhangá aqui perto de casa, eu comecei a rever meus conceitos.
Foi inaugurada faz pouco tempo e sua localização  se deve ao fato de ter sido ali sua primeira residência no Rio de Janeiro. Aportou por aqui aos 4 anos vindo de Pernambuco. Fico feliz, com esse ex-vizinho ilustre. Outro era o Ferreira Gullar, que morava na Duvivier e que vi  algumas vezes  desfilando sua magrelice pelas ruas do bairro. Foi-se no final do ano.
 Tomei contato com o mundo do Nelson, menino ainda, em Caxias do Sul. Meu pai - alfaiate -  mesmo não tendo ido além do ensino primário, tinha uma cabeça aberta para o mundo e assinava a Folha de Tarde, um fato incomum para o universo em que vivíamos. A Folha,  jornal vespertino da Caldas Junior, publicava as crônicas de Nelson e desde aquela época o mundo rodrigueano passou a fazer parte da minha vida. Fico pensando como um menino de 10 anos morando em uma cidade do interior gaúcho, digeria aquelas crônicas marcadas pela obsessão e morbidez.
Não conheço muito do seu teatro, mas o contato com aqueles textos fizeram-me tomar contato com os paradoxos da vida  e das pessoas. Completaram  essa visão Dostoievski, Sartre, Camus que mostraram o beco sem saída que a vida é. Dostoievski ainda sinaliza com uma luz, mas para os outros dois, é a danação e nada mais.
Uma palhinha da mão pesada do Nelson:
Encerrando uma entrevista sobre a última peça, Bonitinha mas Ordinária, Nelson Rodrigues foi instado a dar um conselho aos jovens: Sejam neuróticos!, respondeu, defendendo-se indiretamente das acusações insistentes que lhe fazem de ser ele próprio um autor neurótico. A nossa opção, repito, é entre angústia e gangrena. Ou o sujeito se angustia, ou apodrece. E se me perguntarem o que quero dizer com a minha peça, eu responderia: que só os neuróticos verão a Deus.
Leo Gilson Ribeiro, O Sol sobre o pântano in: Nelson Rodrigues, Teatro Completo, Nova Aguilar,1993.


Nenhum comentário:

Postar um comentário