Pensei que era hoje, - a memória trae-me sempre mais - mas na realidade foi a 24 de janeiro, quando a 35 anos, Jorge Alberto, querido amigo e colega e eu, fomos admitidos na companhia, uma grande empresa de economia mista nacional, na qual até hoje permanecemos. Não vou esquecer jamais aquele meu primeiro vôo de jato no dia anterior, um Boeing 727 da Transbrasil, Porto Alegre/Aracaju - saiu 12:35h - com escalas em S. Paulo, Rio de Janeiro, Salvador. Uma odisséia como foram esses 35 anos na companhia. Afinal eu era um filho de família da baixa classe média e voar em jato em 1978 era um luxo.
Agora aposentável posso fazer um balanço desse tempo. Acho que superei todas as expectativas dadas minhas limitações. Essa não é minha praia mas a frequentei porque precisava de dinheiro. Afinal sou o filho mais velho de uma família que nunca foi de posses e como realmente aconteceu, várias vezes tive que comparecer.
Cheguei ao topo da carreira técnica, tenho um nome respeitado dentro e fora da empresa na minha área de conhecimento. É o lado bom. Tenho muitas inimizades também. Elas certamente dizem horrores a meu respeito. É coisa séria... de não cumprimentar... de não sentar à mesma mesa, salvo se obrigado profissionalmente. Não me arrependo de nenhuma delas.
Sou produto do esforço - só Deus sabe o quanto trabalhei nesses anos! - workaholic assumido e considerado pelos colegas, cheguei onde cheguei graças a 99% de transpiração e - vamos conceder! - 1% de inspiração. Estou longe do talento, qualidade apreciadíssima nesse país onde os esforçados são vistos com desdém.
Sempre tive uma relação conflituosa com a chefia - à exceção de um, talvez dois chefes - e não raras vezes fui colocado no limbo. Um deles, em um dos períodos em que me chefiou, jamais me promoveu... e foram 6 anos! Fosse casado, teria enfrentado sérios problemas familiares.
Aprendi nesses 35 anos trabalhando em uma companhia estatal - ironia! - que o Estado não deve se intrometer em atividade econômica. É péssimo gestor, condescendente com a ineficiência, situação que se agrava num país como o nosso, onde o público é confundido com o que é de ninguém e não com o que é de todos. Domina na companhia a idéia - errada - de que tem prá todo mundo, quando a vida nos ensina que a oferta é sempre menor que a demanda. Nesse caldo de cultura proliferam chefes que fogem de conflitos, partidos da boquinha numerosos entre empregados, desconsideração com o mérito, dedicação limitada - nem um minuto a mais! - ao tempo de trabalho.Apesar desses problemas, que, creio comuns a companhias dessa natureza, faço defesa veemente da sua atuação em ambientes externos a ela, pois normalmente as críticas são infundadas ou pedestres. Devo confessar, porém, que o que tenho visto nos últimos anos tem me decepcionado bastante.
Muito tenho a agradecer à empresa - porisso visto sua camisa - especialmente nos dois anos e meio em que estive afastado por motivo de acidente. Estaria no olho da rua, fosse uma companhia privada!
Agora é pegar a grana do INSS, comprar um sitio com um laguinho para cuidar dos meus patitos , e
é claro das minhas orquídeas. Vinhos e vinhas... quem sabe... e retomar a filosofia, esta sim a minha praia.
Da atividade que ora exerço, quero distância ! A não ser que apareçam com um caminhão de dinheiro ou então a vida me obrigue; um caso de doença por exemplo.
Por ora continuo trabalhando - tenho ainda alguns sonhos que desejo concretizar - até que algum chefe faça com que eu perca a paciência e a cabeça. E... olha... as chances são grandes com o atual! Afinal é a regra.
PS - Quero preservar meu chefe imediato, velho companheiro de muitas batalhas dentro da empresa, das considerações, nem sempre favoráveis, a respeito da classe - dos chefes!
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