quarta-feira, 9 de abril de 2014

Medievo

Na terça-feira que passou, morreu aos 90 anos, Jacques Le Goff, um historiador herdeiro da escola dos Annales,  que tentou desmontar o lugar comum de Idade das Trevas atribuido à Idade Média. Dele escreveu Regina Schöpke em O Globo, 05.04.2014:

A figura do herói, embora hoje bastante banalizada, representou desde sempre um ideal de força, coragem e honra, ou seja, um ideal de virtude a ser seguido pelo campo social. Assim pelo menos pensavam os gregos antigos, para os quais a idéia de  virtude (areté) tinha o sentido de excelência, que tanto podia ser física quanto ética, embora o herói nunca fosse apenas um homem forte no sentido físico do termo. Para ser um herói, entre os helenos, era preciso ser forte, sobretudo no sentido ético. Um herói era, acima de tudo, um homem valoroso, justo, honrado, leal, que vivia e morria pelos seus ideais. E não se trata aqui, apesar das aparências, de uma busca vazia da perfeição (algo que só poderia mesmo frustrar os homens reais), mas de colocar como meta a busca de uma fidelidade íntima, de uma consonância consigo mesmo. Se o herói é aquele que dá o exemplo na própria carne; se é ele que se dá como exemplo, então existem muitos outros heróis menos celebrados mas tão essenciais para o coletivo quanto os personagens (sempre mais ideais do que reais) de Aquiles e Lancelot. E aqui citamos um que não é guerreiro nem cavaleiro, ou até é, no âmbito do espírito: o grande historiador e medievalista  Jacques Le Goff.

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Construí  minha personalidade ouvindo a musiquinha dos conceitos enunciados acima. Aprendi-os com a filosofia dos gregos - Aristóteles, Platão e Sócrates - e dos medievais - Tomás de Aquino e Agostinho. São Francisco de Assis é um capítulo a parte. Sou inatual como disse o Nelson Rodrigues, e se pudesse ser alocado no passado seria medieval. Recendo a incenso. Sinto-me em casa ao entrar em uma catedral gótica com aqueles raios de luz obliquos de luz que descem lá do alto junto das abóbadas. Faz-me bem o som despojado dos alaúdes, a bonomia das cantigas medievais, a monotonia do canto gregoriano.

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Dois clássicos de Jacques Le Goff: A Civilização do Ocidente medieval (1964) e Para uma outra Idade Média (1977). Na praça : Homens e mulheres da Idade Média (Estação Liberdade) e A Idade Média e o dinheiro (Civilização Brasileira)

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