O episódio do estupro coletivo dessa adolescente está sendo conduzido com um viés feminista que domina nossa mídia e nossos mudernos bem-pensantes sem que nada, nem ninguém lhes faça contraponto. Eu vou tomar coragem para isso, mas provavelmente serei acusado de porco machista pelas nossas combativas feministas.
Os detalhes da história que pouco a pouco vem a público deixam muito claro que não se trata de um caso de uma freirinha apanhada a força por um bando de marginais, quando caminhava por uma rua deserta da cidade. A moça de 16 anos tem uma ficha corrida invejável para alguém da sua idade (talvez nem tanto para os nossos tempos); era mulher que frequentava assiduamente a cama de traficantes e não-traficantes. Teria dito na noite do episódio, que iria transar com 10. Associem a imagem que faziam dessa moça, o grupo que ela frequentava, o ambiente - dizem que um baile funk - em que a notícia rolou e você vai ter claras indicações do que seria uma tragédia anunciada, O que, provavelmente, começou com sexo consentido terminou num estupro. É odiento? É... É uma violência? É...Os culpados devem ir prá cadeia? Devem. Particularmente, penso que deveriam apodrecer na cadeia. Só não consigo entender porque consideram a moça uma mera vítima do episódio. Esse discurso de vitimização é recorrente em alguns grupos que se auto-rotulam como vanguarda, e que eu chamo de mudernos.
Ouví a entrevista, acho que da representante dos direitos das mulheres da OAB carioca, dizendo, que uma mulher pode fazer sexo com quantos quiser, mas quando disser basta, acabou. Simples assim. Em tese, eu concordo. Só queria pontuar, entretanto, que, a julgar, pela situação que se criou, nem eram robôs os atores, nem o cenário era um laboratório anódino em que todas as condições do experimento são controladas. Tratava-se de seres humanos em uma situação extrema, sob a ação das mais incontroláveis pulsões: vida (sexo) e morte (violência). Caminhos tortuosos compõem a cartografia dessas pulsões que desembestadas poderiam ter levado a um final ainda pior. Com elas jamais se brinca.
O discurso sugere que é possível para um ser humano ser a medida de todas as coisas. Esse é um velho sofisma disparado por Protágoras, talvez o sofista-mor. Vai nessa linha o slogan de que a mulher é dona do seu corpo. Péra aí...Explica melhor... Ainda mais uma mulher que pode levar outras vidas dentro dela.
Li faz tempo na Folha, um texto de uma representante desse pensamento muderno, onde ela se queixava de que queria sair - vamos dizer assim - vestida prá matar, mas que no caminho iria encontrar alguns engraçadinhos que iriam importuná-la. Ela odiava aquilo. (Provavelmente adoraria se viesse de alguém que lhe agradasse). Dois são os equívocos nessa atitude: não é o fato que interessa, é quem provoca o fato e de que não há como ignorar os condicionamentos e o imponderável em todas as ações que tomamos. Desde sempre existiram e para sempre existirão. Sair vestida prá matar e não querer ouvir nenhuma piadinha ou chiste é coisa prá nefelibatas ou prá quem não entende nada de natureza humana. O ser humano é ele próprio e as suas circunstâncias (Ortega Y Gasset) .A cronista tem todo o direito de sair do jeito que quiser, mas deve estar consciente de que controlar o desenrolar dos acontecimentos extrapola sua competência.
Para trabalhar no Fundão, eu utilizo rotineiramente a Linha Vermelha e raramente a Av. Brasil (os trajetos menos perigosos). Posso também usar um caminho alternativo pela Favela da Maré. Não sairei vivo para contar a história. Eu posso reclamar do meu direito de ir e vir, da violência que domina a cidade, mas prá continuar vivo, por lá eu não devo passar. São as circunstâncias e o fato de que não sou a medida das coisas que determinam minha opção pela Linha Vermelha.
Todas nossas escolhas embutem riscos ou renúncias. Vá, entretanto, falar em renúncia para uma geração criada hedonisticamente e orientada a satisfazer todos os seus desejos... Os mudernos de plantão irão te qualificar de careta, repressor, conservador..... e por aí vai. No uso de jargão eles são ótimos.
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