Sinto falta de uma época em que havia futuro. Não faz muito tempo, a
gente vivia em função dessa expectativa, dessa esperança. A história era
um trem instalado em seus trilhos, de onde não sairia nunca, indo
sempre em frente, mesmo que às vezes nos parecesse lento demais. E o
amor havia de chegar na hora certa, singular e único como cada um de nós
o merecia. Aliás, amor e revolução eram uma só coisa que nossa
impaciência juvenil não admitia separar.
Com o tempo, descobrimos que o tempo era um pião que rodava em torno de
si mesmo, que nada de fato avançava como tanto sonháramos. Tínhamos de
cuidar de nós mesmos no presente, o único tempo que existia de verdade.
Acho que foi por aí que o trem descarrilou, e inventamos o fim da
história para nos consolarmos da falta de destino. As nações eram apenas
territórios traduzidos em PIBs, a soma anual de nossa atividade
financeira, independentemente do que para que ela servisse.
Desistimos da felicidade. Não existem homens felizes ou infelizes,
existem apenas momentos de felicidade ou de infelicidade, temos que
tentar fazer render aqueles para que esses passem logo, depressinha. E
que os inevitáveis momentos de infelicidade não deixem rastro algum, a
tristeza é algo que não deve existir, o que ela pode nos ensinar não
serve para nada. A não ser que queiramos perder a competição com nossos
semelhantes, essa paralimpíada de esforços vãos, diferente dos Jogos
Paralímpicos a que estamos assistindo, bela e valente vitória sobre o
destino.
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As palmas de seu Palminha - Cacá Diegues - O Globo, 18.09.2016
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