A pesquisa comentada no artigo abaixo confirma o que venho observando com as pessoas que convivo, especialmente com as mais novas, das gerações Y e Z. Deficientes eticamente - a culpa maior é dos progenitores - são verdadeiras caixas de Pandora em matéria de comportamento ético. Delas tudo pode se esperar: ternura, afeto, compaixão mescladas à pura cafajestice e falta de caráter com uma naturalidade assustadora. De tanto ouvirem dos pais e educadores para não se culpar e/ou pelo fato de não terem sido apresentados aos princípios de ética básicos sobre os quais se funda qualquer sociedade, quando em situações-limite não hesitam em optar pelo que lhes traga os maiores benefícios no mais breve espaço de tempo. Agem guiados pela natureza. Não sentem aquilo que os cristãos conhecem como aguilhão da carne - a pesquisa me fez lembrar dele - mencionado inicialmente por S. Paulo no Novo Testamento (2 Cor. 12, 7-10), e depois por Sto. Agostinho, um craque no assunto. Os mudernos, na sua solerte ignorância o desqualificam como complexo de culpa.
A história é conhecida: mesmo os maiores salafrários começaram pequeno.
Um virar dos olhos para o outro lado aqui, um subornozinho ali, e logo
estão tramando altos esquemas de desvio de verbas e corrupção. Por que
pequenas desonestidades geram desonestidades cada vez maiores, numa bola
de neve que só faz crescer?
Atos desonestos são inicialmente tão moralmente e emocionalmente
perturbadores para o perpetrador quanto para quem ouve a respeito. A
sensação de apreensão e angústia com a perspectiva de ser desonesto age
como um freio importantíssimo: estudantes que tomam substâncias que
reduzem a sensação de estresse tem o dobro de probabilidade de colar em
provas, por exemplo.
O problema é que a desonestidade bem-sucedida se perpetua não só ao ser
recompensada mas também ao encontrar cada vez menos objeção do próprio
cérebro. Este é apenas mais um exemplo de como o cérebro se modifica com
seus próprios atos e fica cada vez melhor no que faz. Isso é o que
mostra um estudo da University College London, no Reino Unido,
que examinou a atividade na amígdala cerebral, estrutura envolvida na
geração de respostas emocionais, como angústia e medo, a situações
variadas.
Os pesquisadores avaliaram a ativação da amígdala enquanto voluntários
em uma máquina de ressonância magnética funcional viam a imagem de um
pote de moedas e orientavam um "parceiro" fora da máquina sobre quanto
dinheiro haveria ali; voluntário e parceiro receberiam um prêmio
dependendo de suas estimativas. A equipe constatou desonestidade
crescente dentro da máquina –mas só quando os voluntários acreditavam
que enganar o parceiro seria vantajoso para si mesmos.
O mais importante é que não só os pesquisadores observaram uma
habituação da amígdala cerebral a cada ato desonesto interesseiro, como
essa habituação –conforme a amígdala se "acostumava" com a
desonestidade– predizia corretamente uma desonestidade interesseira
ainda maior da próxima vez.
É como se a amígdala, impune, fosse perdendo a vergonha a cada ato
desonesto em prol de si mesma. A habituação explica a desonestidade
crescente, mas claro que não a justifica. A lição mais importante é como
é fundamental cortar o mal pela raiz.
Eu cresci pensando que o "jeitinho brasileiro" era uma demonstração
bacana de como somos flexíveis, compreensivos e tolerantes no Brasil.
Agora sei que é apenas mais um triste sinal do desrespeito pelas regras
que impera no país, combinado à certeza da impunidade, e que só faz
gerar mais desonestidade. Abaixo o jeitinho brasileiro.
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