quarta-feira, 21 de junho de 2023

10 anos das jornadas de junho de 2013

Não participei. Vivia a ressaca de uma desilusão amorosa; a penúltima... Queria distância de tudo e de todos. Presenciei in loco apenas  a largada de uma manifestação na frente da estação de metrô Cardeal Arcoverde, aqui pertinho de casa. Na linha de frente, muitos jovens e... advogados. Tinham a função preventiva de denunciar violência policial, caso ocorressem enfrentamentos. Lembro também do rosto visivelmente transtornado de uma apresentadora da Globo News ou Jornal Nacional noticiando a situação no país. Eram muitas cidades em ebulição, várias delas com protestos violentos. 

Hoje sinto que perdi um dos grandes momentos de nossa história no século XXI.

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De acordo com Marcia Pellegrino em artigo para a Folha, foi a maior onda de contestações sociais e manifestações políticas da história brasileira. Na minha opinião, o ponto de inflexão nos rumos da Nova República que soçobrou definitivamente com o governo Bolsonaro. De um protesto inicial contra o aumento das passagens de ônibus o movimento cresceu exponencialmente agregando interesses difusos - condições de transporte, da saúde pública, Copa do Mundo, ... - contra a política e políticos que não entregavam o que prometiam. Foram os primeiros grandes protestos do país desde o golpe de 64 não liderados pelos canais institucionais e nem pela esquerda - aqueles bandeirões vermelhos comuns das suas passeatas não deram o ar da graça. Aliás representantes de todos os partidos e sindicatos eram escorraçados pelos manifestantes. O povo  saiu às ruas mobilizado via Internet e redes sociais. Foi também a pedra de toque para o surgimento de novas formas de associação como os coletivos, entidades à margem dos canais institucionais. A  direita  aproveitou-se bem dos  dois fatos; um exemplo é a importância que ganharam movimentos como o MBL, Vem Prá Rua...

 A esquerda que havia tomado as ruas desde o golpe de 64, perdeu protagonismo e a direita perdeu a vergonha. Voltou para as ruas e deu no que deu... Bolsonaro foi eleito em 2018 e vivemos 4 anos debaixo da ameaça de um golpe.

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Passados 10 anos... afora o protagonismo assumido pela extrema-direita com a ascensão do bolsonarismo, não há mudanças significativas nas práticas políticas de Executivo e Legislativo. A elas somam-se as decisões erráticas do Judiciário, muitas delas claramente condicionadas pela conjuntura. O descrédito nas instituições é generalizado, e mais... há um desalento imenso  com a impunidade que voltou a imperar após a LavaJato ter sido destroçada por erros próprios e imensas pressões vindas de todo o estamento dos poderosos que dirigem o país,  ameaçados com seu crescimento.  Basta ver o que aconteceu em Brasilia na semana que passou com a aprovação da lei Dani Cunha que beira o deboche. Ela é filha do Eduardo, que estava lá - sim...aquele mesmo que circula  leve, livre e solto por aí...Com a lei, pretende-se  tipificar os crimes de discriminação contra  pessoas políticas expostas - o que é isso, meu Deus?  extendendo-a a familiares, estreitos colaboradores e a pessoas jurídicas de que participe o (des)afortunado. Além de descriminalizar os políticos, agora querem criminalizar quem deles suspeita.

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Brasilia continua vivendo  em uma bolha, o país em outra. O impasse continua.

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