No Rio de Janeiro eles já se instalaram há anos! Muitos deles tem diploma de curso superior, moram na Zona Sul e se acham o crème de la crème da espécie!
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Turista sempre foi um termo pejorativo. Chamava-se assim quem viajava por diversão e, inevitavelmente, conseguia uma experiência superficial e chocha do lugar visitado. Hoje, aqui em Nova York, isso parece ser o de menos. A maioria dos turistas são apenas "shoppers", compradores; eles só tem uma experiência: a de comprar. Os que visitam a biblioteca pública entre uma loja e outra devem ser a nata da categoria; mesmo assim, adultos e crianças, quase escondidos atrás das sacolas que carregam, eles olham para mim como se eu habitasse uma outra dimensão. Talvez, eles encarem a biblioteca como um aquário, onde é possível observar uma espécie em via de extinção.
Não resisto à tentação de comparar os "shoppers" aos autores que estou lendo, para quem o mundo era um lugar complexo e interessantíssimo, em que cada opção comportava um risco radical, para a alma e para o corpo.
Sinto tristeza --pelo mundo transformado em bazar, pela miséria da experiência do "shopper" (para quem nem os objetos adquiridos tem relevância, só a estupidez do comprar) e por uma perda que afetará gerações, compradores produzindo compradores.
Entre 1 e 2 de janeiro, começarei o ano na vigília de poesia que acontece a cada ano, na igreja de Saint Mark. Pessoas ficarão na fila noite adentro, com uma temperatura prevista de 15 negativos, para conseguir um assento e passar a noite escutando 140 poetas.
No passado, na hora das catástrofes que ameaçavam a sobrevivência de uma comunidade (peste, invasões, fome), as pessoas se instalavam nas igrejas, em vigília, e pediam a ajuda de Deus contra a barbárie que estava às portas. A noite de poesia de St Mark é meu equivalente laico daquelas vigílias.
Contardo Calligaris - Vigília para o Ano Novo - Folha, 02.01.2014
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