sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Agora, velho!

Aniversários sempre ensejam que se fale do tempo. Agora posso me considerar um velho. Foram 5 anos - dos 60 aos 65 -  atravessando os umbrais da velhice. Neles vivi  sua superfície; a partir de hoje nela mergulho. Ela incomoda pelas restrições físicas que impõe; os anos deixam marcas no corpo, trazem  fadiga para o material que começa a ratear. Além de mais curta, minha perna esquerda dobra no máximo, 90 graus; um glaucoma reduziu a visão do meu olho direito em 80%; sou hipertenso e anticoagulado.  Viver é ser usado e em alguns casos, abusado  pelo tempo. Aproxima-se a hora em que será feito o convite para que dele, eu me retire. Um convite que não aceita recusas.
Sinto que as margens da vida se estreitam, que o futuro é logo ali, que sempre pode ser a última vez. Que não há tempo a perder porque ele se tornou um artigo raro e caro. Que é preciso ser seletivo com os vinhos e com as pessoas. Que o outro e a vida são  sempre paradoxais; as mulheres então! Que bem e mal, certo e errado são apenas end-points teóricos de uma escala; nunca os alcançaremos. Que todos temos um  lado A e outro B e que quem melhor esconde o último é quem vai abocanhar o melhor que a vida oferece. Que falar é cada vez mais desnecessário.
Anyway... Caminhar é preciso.

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