....de Freud está condensado nesta frase de S. Paulo (1Cor, 6,12):
Tudo me é permitido, mas nem tudo convém.
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O mal estar na cultura é um mito fundacional, um argumento a respeito da origem da atual ordem social, e na verdade, do aparecimento da humanidade, uma teoria antropogenética. É também uma versão do contrato social, uma teoria sobre o que justifica a ordem moral - reconhecidamente uma história um tanto indiferente e menos do que entusiástica, um endosso menos que apaixonado. Contém uma sugestão para modificação do contrato, para uma diminuição da sua severidade, embora isso se faça acompanhar de um medo visível das possíveis consequências da suavização de seus termos. A ambivalência pouco entusiasmada do contrato social de Freud é um dos seus aspectos mais notáveis. O tom é: isto é o melhor que poderíamos fazer... Talvez possamos nos sair um pouco melhor sendo menos severos conosco; mas estou apavorado com minha própria audácia em fazer tal proposta. Há alguns entre nós que poderiam tirar proveito disso. Isso poderia conduzir a uma catástrofe.
Gellner, E., Antropologia e Política, Zahar, 1995.
Grifei a parte final do texto que deixa bem claro os temores de Freud com sua proposta que poderia nos conduzir para um beco sem saída (catástrofe)... Penso que já estamos metidos nele até o pescoço.
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Impressionante a cultura do autor de Antropologia e Política. Trafega tranquilamente pelas ciências sociais e humanas. Lembro de outro: Terry Eagleton. Seguramente não temos mais intelectuais desse porte atualmente. São necessárias muita horas de leitura para adquirir tal sofisticação. O século XXI rescende a néon e imagens.
Voltarei mais tarde ao livro que dormitava na minha modesta biblioteca.
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