Nestes 15 dias de Jogos Olímpicos, entrei em modo sobrevivência; o espírito olímpico baixou em mim. Tenho dormido menos ainda que o habitual que já é frugal, vendo competições que começam à noite e se estendem até as 10:00h da manhã seguinte devido à diferença do fuso horário. Mergulhei fundo na ginástica artística e natação na semana inicial; agora ocupo-me basicamente com atletismo. Vela, vôlei, basquete e até surfe.... complementam o cardápio preferido.
Além do desempenho dos atletas, o que tem chamado minha atenção até o momento é a atitude de alguns deles face ao desafio da competição. Simone Biles, pré-anunciada com pompa e cirscunstância a superstar dos Jogos, abandonou-os no inicio do segundo dia de competição. Mental health foi a justificativa que apresentou para sua atitude. Depois de um desempenho abaixo das expectativas no salto sobre a mesa na competição por equipes, afirmou que perdera as referências espaciais durante a execução do exercício; um argumento considerável. A maior parte do mundo/imprensa esportiva a apoiou...não haveria um sentimento de culpa aí? The Atlantic fez várias matérias a respeito. Em uma delas, acusa os críticos da ginasta de não entenderem a geração atual de atletas.
Posso estar sendo duro demais na minha análise... desconheço seu envolvimento em todo o quase demente de processo de glamourização que se criou em torno de sua participação nos Jogos; uma onda gigante que ela não foi capaz de surfar - prá usar uma imagem de outro esporte. Há as razões técnicas para a desistência, como o fato da ginástica ser um esporte de elevado grau de risco mas permito-me especular se o medo do fracasso, de não corresponder às expectativas, magnificadas resta saber a partir de quais interesses não foram o gatilho que conduziu à desistência.
Apenas para falar em alguns nomes da natação ... Katie Ledecki - ganhou mais medalhas de ouro em Olimpíadas e Campeonatos Mundiais do que qualquer outra nadadora - competiu sem tanto fru-fru; medalhou em algumas provas, em outras não e nem por isso está com sua saúde mental abalada. Katinka Hosszu - nem tão discreta assim - enfrentou com dignidade sua decadência nas piscinas. Por outro lado, a nadadora australiana Emma McKeon empilhou 7 medalhas em uma única edição dos Jogos, feito só alcançado por outra mulher em Helsinki em 1952. Mesmo assim não está nas headlines de todos os jornais e programas esportivos das TVs. Ela só gosta de milkshake de caramelo! Vai ver lhe falta carisma ... (taí uma palavrinha que detesto!)
Enfim gente como a gente, sujeita ao fracasso e talvez um pouco mais ao sucesso do que nós simples mortais. Não morderam a isca da badalação, nem deixaram se envolver pelo turbilhão que a midia alimenta; uma simbiose tóxica que pode destruir carreiras profissionais. Discreção é artigo em extinção nos dias atuais. O mundinho Marvel que infantiliza millenials e zenials exige super-heróis, sucesso todo o tempo. Simone Biles até tentou surfar a onda, mas não segurou a barra.
Felizmente, seus pés, como os nossos, são pés de barro.
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