segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Começam a se cumprir as profecias

No relatório O Futuro Climático da Amazônia, publicado em 2014, o cientista Antonio Nobre, fazendo uso dos conceitos de bomba biótica e rios voadores,  advertia para o fato de que o desmatamento  para além do ponto de retorno da floresta, levaria a uma mudança no clima que conduziria à sua savanização e à desertificação do celeiro produtivo da América Latina representado pelo quadrilátero demarcado a oeste pela Cordilheira dos Andes, a leste por São Paulo, a sul por Buenos Aires e a norte por Cuiabá,  responsável por 70% do seu PIB.  Alguns trechos do documento:

....a floresta mantém úmido o ar em movimento, o que leva chuvas para áreas continente adentro, distantes dos oceanos. Isso se dá pela capacidade inata das árvores de transferir grandes volumes de água do solo para a atmosfera através da transpiração.
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O quarto segredo indica a razão de a porção meridional da América do Sul, a leste dos Andes, não ser desértica, como áreas na mesma latitude, a oeste dos Andes e em outros continentes. A floresta amazônica não somente mantém o ar úmido para si mesma, mas exporta rios aéreos de vapor que, transportam a água para as chuvas fartas que irrigam regiões distantes no verão hemisférico.

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As regiões de savana na parte meridional, onde há hoje um dos maiores cinturões de produção de grãos e outros bens agrícolas, também recebe da floresta amazônica vapor formador de chuvas reguladas e benignas, o principal insumo da agricultura. Não fosse também a língua de vapor que, no verão hemisférico, pulsa da Amazônia para longe, levando chuvas essenciais e outras influencias benéficas, muito provavelmente teriam clima inóspito as regiões Sudeste e Sul do Brasil (onde hoje se encontra sua maior infraestrutura produtiva nacional) e outras áreas, como o Pantanal e o Chaco, as regiões agrícolas na Bolívia, Paraguai e Argentina.

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Um mapeamento do MapBiomas Amazônia divulgado nos últimos dias, mostra que nos último os 36 anos, a perda da cobertura vegetal da Amazônia, corresponde ao território do Chile.

Entre 1985 e 2020, a Amazônia perdeu 52% de suas geleiras e 74,6 milhões de hectares de sua cobertura vegetal natural - uma área equivalente ao território do Chile. No mesmo período, houve um crescimento de 656% na mineração, 130% na infraestrutura urbana e 151% na agricultura e pecuária. 

Em paralelo  - não sei o quanto há de causa e efeito entre os eventos - o Brasil vive a sua maior seca em 91 anos; os reservatórios das hidroeletétricas do Sudeste/Centro-Oeste no final de setembro estavam em torno de 17%, abaixo do verificado na seca de 2001 

O Pantanal ardeu nos dois últimos anos; nuvens de poeira, semelhantes às tempestades de areia do deserto, infernizam cidades do interior de São Paulo, como testemunha a foto que recebi  pelo zap.


Nas últimas 3 décadas, perdemos 15,8% da nossa água doce de acordo com o Gabeira em O Globo de ontem. 

 

Vista aérea de um braço do Rio Paraná na fronteira entre Paraguai e Argentina. (Juan Mabromata/AFP)

Estariam começando a se cumprir as profecias? As evidências acumulam-se. Mantidas as tendências atuais - segundo o relatório do MapBiomas Amazônia -  no final da década atingiríamos o ponto de não retorno para as condições atuais do ecossistema amazônico.

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