Cansado de ouvir essa palavra sempre que a opinião/atitude de alguém desagrada a algumas pessoas progressistas do meu círculo de relacionamentos resolví pesquisar o significado do termo. Fui logo ao Dicionário de Política do Norberto Bobbio e outros da Editora Universidade de Brasília (1983), 2a edição.
Em geral, se entende por Fascismo um sistema autoritário de dominação que é caracterizado pela monopolização da representação política por parte de um partido único de massa, hierarquicamente organizado; por uma ideologia fundada no culto de um chefe, na exaltação da coletividade nacional, no desprezo dos valores do individualismo liberal e no ideal da colaboração de classes, em oposição frontal ao socialismo e ao comunismo, dentro de um sistema de tipo corporativo; por objetivos de expansão imperialista, a alcançar em nome da luta das nações pobres contra as potências plutocráticas; pela mobilização das massas e pelo seu enquadramento em organizações tendentes a uma socialização política planificada, funcional ao regime; pelo aniquilamento das oposições, mediante o uso da violência e do terror; por um aparelho de propaganda baseado no controle de massa; por um crescente dirigismo estatal no âmbito de uma economia que continua a ser, fundamentalmente, de tipo privado; pela tentativa de integrar nas estruturas de controle do partido ou do Estado, de aordo com uma lógica totalitária, a totalidade das relações econômicas, sociais, políticas e culturais.
Importante salientar que o texto foi extraído do ítem Problemas de Definição do verbete em que os autores deixam claro que o conceito recebe definições diversas e muitas vezes até contraditórias. Distinguem três significados principais e adotam para a definição aquela do Fascismo histórico, referente aos acontecimentos ocorridos na Europa no período de 1919/1945.
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Umberto Eco em Fascismo Eterno publicado pela Record em 2020 deixa de lado o aspecto histórico e traz o problema para a atualidade, fixando-se mais nas atitudes que poderiam ser qualificadas como fascistas em uma pessoa, daí o termo fascismo eterno ou Ur-Fascismo.
- Culto à tradição, embora o tradicionalismo seja mais velho que o fascismo.
- Recusa da modernidade. O Iluminismo e a Idade da Razão são vistos como o início da depravação moderna.
- O culto da ação pela ação; há suspeita em relação ao mundo intelectual.
- Aversão ao espírito crítico.
- O medo da diferença.
- É fruto de frustração individual ou social. Tem forte apelo a classes médias frustradas.
- É nacionalista e porisso xenófobo.
- Sentimento de humiliação diante da riqueza ostensiva e força do inimigo.
- A vida é uma luta permanente. Não há luta pela vida mas antes vida para a luta.
- É elitista e aristocrático, consequentemente despreza os fracos.
- Culto ao heroísmo e à morte.
- Machista.
- Baseia-se em um populismo qualitativo; os indivíduos não tem direitos, o povo é concebido como uma qualidade, uma entidade monolítica que exprime a vontade comum.
Ele também salienta que o termo adapta-se a tudo, pois mesmo você eliminando alguns dos aspectos citados de um regime assim mesmo ele será considerado fascista, o que não ocorre com o nazismo. Só há um nazismo.
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De fato muitas das características elencadas por Eco você vai encontrar entre os militantes bolsonaristas radicais, mas eles estão restritos a 15/20% da população.
Chamou minha atenção na definição histórica do Dicionário uma caracteristica de regime fascista que se alinha muito bem com as propostas do lulo-petismo: crescente dirigismo estatal no âmbito de uma economia que continua a ser, fundamentalmente, de tipo privado.
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