segunda-feira, 7 de outubro de 2013

62 anos

A companhia da minha mãe  traz-me  uma serenidade para a alma, uma leveza de coração que eu raramente sentí nesse ano que ontem terminou. Ano de tormento.  Annus Horribilis.
Primeiro porque  tive que arrancar do peito a flecha que Cupido acertara. Nada mais poderia ser feito. As pontes haviam sido queimadas, os laços todos partidos... havia muros por toda a parte. E uma única saída; afastar-me. Partí.
Ainda uivava para a lua, lambia as feridas de mais um desencontro, quando recebí a visita desse senhor oportunista e ardiloso: o Mal. Em 62 anos, eu jamais havia com ele duelado. É impiedoso, cruel, quer a tua destruição. Mora ao lado. É banal. Ataca na tua hora vulnerável.
Depois do aturdimento e do horror inicial - você não acredita! -  do lamento para os céus, a necessidade de recompor-se, de retornar ao prumo, de retomar o rumo. Rejuntar a alma em pedaços é penoso; requer tempo.  Consome imensas quantidades de energia psíquica.
No momento retorno à vida; sinto que ela me invade novamente. Há uma trégua com o senhor das trevas, mas sei que é momentânea. Outras batalhas virão. O mal é para sempre. O dragão da maldade espreita e atacará a qualquer sinal de fragilidade do já alquebrado guerreiro.  Finalizo com o velho Guima:

Vida é sorte perigosa / passada na obrigação: / toda a noite é rioabaixo, / todo dia é escuridão... / [...] O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente 
aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e ainda mais alegre no meio da tristeza! "  

Guimarães Rosa  Grande Sertão: Veredas

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