Com o carro em conserto, tenho usado o metrô para me deslocar. Tempo para sentir o cheiro das ruas, de encontros/reencontros, descobertas.
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O cheiro das ruas me alcançou na entrada do metrô ontem à noite, com o spray de pimenta usado pela polícia para dispersar os manifestantes no centro do Rio. É desconfortável, irrita olhos e nariz, trava a garganta. Fiquei um pouco orgulhoso pois de alguma maneira estivera no teatro de guerra que o centro do Rio virou à tarde com a manifestação de professores, black blocks e por aí vai.
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O reencontro foi com meu mendigo predileto. Conheço-o fazem anos. Quando chovia, estava alí na saida do prédio da empresa, vendendo guarda-chuvas. Depois caiu na mendicância. Acho que bebe. Sua decadência é visível. Fica sempre na área entre o metrô e a empresa. Sempre que tenho moedas dou-as. Pede para um cafezinho. Seus olhos brilham , é bem articulado. Sua expressão trai dor e desencanto. Somos almas gêmeas. Alguma tragédia o marcou e ele não conseguiu se reerguer. Tenho uma vontade imensa de ajudá-lo mas não sei como. Hoje pela manhã encontrei-o na saida do metrô. Pediu-me o cafezinho, mas estava sem trocado.
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A descoberta quem a propiciou foi uma garota de traços delicados, de uma beleza só dela, que lia sua apostila de estudo no banco do metrô. Voltávamos para casa; eu estava de pé e senti seu olhar insistente sobre mim. Dirigi meus olhos a ela que me ofereceu o lugar. Pela gentileza, agradeci sorrindo; no duro, no duro, estava desolado. Já ocorrera no dia anterior, porém, com um garoto. Com uma mulher o impacto é maior. Deus, estou velho e os outros vêem isso!
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