Daria tudo para ser qualquer um daqueles dois garotos cuja postura desafiadora contra a muralha policial as imagens conseguem retratar com extrema felicidade. Entretanto, 50 anos atrás - maio de 68 - estava indo para meus 18 anos, seminarista, confinado em um internato fechado em uma cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul. Longe, muito longe do olho do furacão. Os fatos chegavam-me pelo Correio do Povo - que já desapareceu - disponibilizado com um dia de atraso para nós. Eram Paris e as barricadas do desejo, Praga e sua primavera esmagada pelos tanques soviéticos, a batalha de Chicago nos States e havia o Brasil - aqui os problemas eram com a ditadura - e sua Marcha dos 100 mil, aquela em que faltavam desdentados, de acordo com o olhar arguto no nosso Nelson Rodrigues. Lembro particularmente da Primavera de Praga. Torci barbaridade por ela e pelos tchecos. Em vão.
Não corri da polícia, do gás lacrimogêneo, tampouco arranquei paralepípedos ou pichei muros, pois confinado estava. Fiz o que pude, li muito a respeito. Fui um revolucionário de papel.
A passagem do tempo tirou um pouco a importância dos eventos daquele ano. Foi, basicamente, uma revolução dos costumes. Alguém já disse que tudo o que os universitários de Nanterre e da Sorbonne queriam mesmo, era dormir com as moças nos alojamentos da Universidade. O resto... alegoria e adereço. E conseguiram... Aí, a dita revolução se completou. No mais...
Mitchell Abidor revela as contradições da jornada parisiense em What the Non-Revolution of May '68 taught us no NYT deste domingo. Foram vários eventos, com personagens e interesses muito diferentes. Para ele, marcou o final da concepção idealizada, não sei se romântica, de revolução.
Alguém escreveu faz tempo que 68 foi um ano que não terminou. Concordo com o Clóvis Rossi que escreveu na Folha em 03.05:
- Terminou sim e terminou mal.
Mitchell Abidor revela as contradições da jornada parisiense em What the Non-Revolution of May '68 taught us no NYT deste domingo. Foram vários eventos, com personagens e interesses muito diferentes. Para ele, marcou o final da concepção idealizada, não sei se romântica, de revolução.
Alguém escreveu faz tempo que 68 foi um ano que não terminou. Concordo com o Clóvis Rossi que escreveu na Folha em 03.05:
- Terminou sim e terminou mal.
Basta ver quem comanda as instituições no Brasil hoje. Muitos tinham a idade desses garotos à época. Foram miseravelmente engolidos pelo sistema - sim, ele existe, acreditem! Naquele tempo, pelo menos havia esperança. Hoje, até essa nos falta.
Um dos muitos slogans de 68 define bem o momento que vivemos:
- Parem o mundo eu quero descer.
- Parem o mundo eu quero descer.
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