Paralelo ao fato descrito abaixo há o daquele diretor do projeto que conseguiu a façanha de colocar uma sonda espacial num minúsculo asteróide e que ao dar a coletiva para a imprensa com uma camiseta que tinha gravada a figura de uma pinup dos anos 50 foi nos dias seguintes enxovalhado pelas feministas de plantão e como o ator do texto abaixo, obrigado a pedir desculpas.
Questões de gênero são tediosas e uma imensa perda de tempo. Aprendi com os gregos a valorar o ser humano como um universal. Sexo, raça, cor, preferências sexuais são meros acidentes. Os mudernos, entretanto, acabaram fazendo deles verdadeiros campos de batalha.
Eu não sei onde vai acabar essa patrulha extremada e burra, mas bem é que não vai. Quem sabe numa ditadura das minorias. Apetite não lhes falta.
O texto mostra as agruras do articulista para se manter dentro dos cânones do politicamente correto. Torna-se hilário.
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O ator Benedict Cumberbatch, que assina um papel estimável como o matemático Alan Turing em "O Jogo da Imitação", concedeu uma entrevista radiofônica onde lamentava a ausência de "coloured actors" ["atores de cor"] na indústria cinematográfica.
Desastre: no dia seguinte, os jornais vergastaram Cumberbatch pelo uso da expressão e ele, desolado, pediu desculpas pelo sucedido.
Fez muito bem: de que vale defender as minorias quando tudo que importa é a correção das palavras?
Claro que, aqui entre nós, eu honestamente não sei que palavra teria sido mais apropriada para defender atores, digamos, que têm a pele, digamos, com um tom ligeiramente mais, digamos, inclinado para a direita na paleta cromática.
"Negros" seria imperdoável. "Pretos" seria um suicídio. "Pessoas de cor" seria erro semelhante --e, além disso, um pouco circense. "Afro-americanos" poderia deixar de fora os "afro-ingleses"--ou então partir do pressuposto, ofensivo e colonialista, que todos eles vieram da África.
A verdade é que, no meio da discussão, não encontrei uma única proposta capaz de garantir terreno livre. O que permite concluir que o melhor é não falar da discriminação que existe contra atores, digamos, você sabe. Esse silêncio, em rigoroso respeito pela etiqueta politicamente correta, será muito útil na luta pela igualdade de atores, digamos, enfim, desisto.
Razão tinha George Orwell, quando dizia que a tirania dos homens começa com a tirania das palavras.
João Pereira Coutinho, O Triunfo dos Porcos
Folha, 03.02.2015
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