sexta-feira, 10 de março de 2017

Existe algum herói que não tenha pés de barro?

A vitória do Barcelona (6x1) contra o Paris St Germain, ontem foi considerada heróica pois garantiu a passagem do time catalão à fase seguinte da Champions,  mas há um bocado de vilania nela. Ví o jogo. Dois pênaltis foram cavados a favor do Barcelona e o juiz caiu na conversa - ora de quem! - de dois sul-americanos  com know-how de sobra  nas artes do ilusionismo (Neymar e Luizito Suarez).  Hoje os jornais ressaltam o caráter épico da vitória  e os heróis da jornada. Os erros do juiz são notas de rodapé.  Não fossem eles, o Barcelona estaria amargando a ressaca de uma desclassificação precoce.

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Outro exemplo recente no futebol foi a que se convencionou chamar de Batalha dos Aflitos em que o Grêmio venceu o Náutico com 7 jogadores e obteve sua classificação para a divisão principal do Campeonato Brasileiro. Também ví aquele jogo. É um dos episódios mais tristes do futebol brasileiro pelo que ocorreu em campo: houve briga generalizada entre jogadores, agressão ao juiz, até a grama foi arrancada para que um pênalti não fosse batido. O juiz deveria ter expulso praticamente todo o time do Grêmio pelo que aprontou no campo, mas afinou porque isso obrigaria a realização de uma nova partida. O episódio é considerado uma epopéia na história do clube gaúcho. Até filme fizeram sobre o heroísmo daquela jornada. Não fosse o juiz, o Grêmio teria enfrentado uma das maiores crises da sua história. Ameaçava inclusive fechar suas portas.

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Assistí muita corrida de F1 até há poucos anos e muita vilania de pilotos naquelas centenas de manhãs de domingo que passei diante da TV. Ayrton Senna foi protagonista de muitas delas - Michael Schumacher também, diga-se de passagem. Pois Ayrton Senna talvez seja o último grande herói brasileiro. Muita prosa e verso foi derramada pelo nosso último herói. Prá mim, de fancaria...

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A velhice nos traz péssimas notícias a respeito de muitos mitos e heróis da nossa infância e juventude. Revela que a história está longe de ser o relato fiel do que se passou - há muitos interesses subjacentes à versão que chega até nós - além de confirmar que mesmo os heróis carregam com eles  a miserabilidade e falibilidade do ser humano. Gostaria de conviver com algum deles. Em poucos dias, desfaria-se a aura.

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