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Fomos forjados sob o signo da escravidão e da exclusão, da concentração de renda e da segregação educacional, usando políticas fisiológicas e patrimonialistas de uma aristocracia que sobrevive ao Imperio. Não somos ainda uma República com coesão nacional. Por falta de coesão, usamos inflação e endividamento público para atender interesses divergentes. Quando isso se esgotava, usamos ditaduras para impor coesão forçada.
Basta olhar ao redor para ver que há um clima de desagregação no ar: corrupção endêmica; violência urbana generalizada como uma guerra civil sem ideologias nem religiões; partidos sem propostas nem identidades: políticos sem credibilidade; decisões judiciais precipitadas, legislando no lugar do Congresso e sendo desrespeitadas por parlamentares. Some-se a isso a baixa produtividade e baixa propensão à poupança, a permanência da desigualdade social, a recessão econômica, o desemprego catastrófico, o endividamento do Estado, das famílias e das empresas; a miséria do quadro educacional. Sobretudo um país dividido em corporações, sem preocupação com os interesses nacionais de longo prazo, e um quadro de sectarização dogmática, sem debate em busca de alternativas. Um país sem amálgama de longo prazo, perdido no imediatismo de promessas impossíveis para o futuro e sem qualquer aceitação para os necessários sacrifícios no presente.
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Cristóvam Buarque; Tentemos em 2017, O Globo, 24.12.2016
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