terça-feira, 23 de agosto de 2022

Apartheid cultural.

Você conhece João Gomes ou conhecia Marilia Mendonça?  

João Gomes, paralisou o centro de Recife no último dia 17, com um show que reuniu, segundo os organizadores, em torno de 150 mil pessoas. Ele tem 20 anos e é um dos principais nomes do piseiro, gênero que mistura forró com música eletrônica, influências do bregafunk, arrocha e sertanejo segundo Gustavo Alonso em artigo publicado na Folha em 19.08.

Marilia Mendonça - sua morte em acidente aéreo em novembro/21 provocou uma comoção nacional -  era a rainha do feminejo e já havia faturado dois Grammys latinos na categoria Melhor Música Sertaneja.

Dois nomes desconhecidos prá mim e prá boa parte da população que vive em grandes centros urbanos localizados junto à costa brasileira, embora uma música de Gomes esteja na trilha de Pantanal. E olha que eu não posso me considerar um sujeito mal-informado. Assino eletronicamente 4 jornais e perco pelo menos duas horas diárias, lendo-os, afora o tempo que perco em notíciários televisivos. Certamente, nenhum desses nomes estava no radar, particularmente da grande imprensa escrita. Desvela o alheamento a que está submetida e como consequência submete quem a acompanha. 

Revela principalmente o quanto está fragmentado o mundo e como a grande midia abarca apenas parte dele, muitas vezes minorias barulhentas atreladas à academia, esquecendo as manifestações culturais de imensos contingentes populacionais que vivem no interior e que fazem pulsar o Brasil. Certos setores da crítica cultural, inclusive, sentem-se incomodados com tais manifestações como escreveu Gustavo Alonso no seu artigo. 

Os comentários ao artigo - sintomáticos -  deixam claro que o apartheid cultural espelha outros; além do geográfico, o ideológico. A costa brasileira, morada da grande imprensa é liberal nos costumes e alinhada politicamente a partidos progressistas. O pais afastado da costa, interiorano -  Brasil profundo?  - de onde sairam Marília e João é  conservador tanto nos hábitos quanto na política. A grande  midia pode relegá-los ao papel de figurantes, torcer o nariz prá eles,  mas a internet e  as redes sociais deram-lhes a protagonismo que não seria possível no passado.

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Senhoras e senhores, fugindo dos cânones da cultura bacana:

João Gomes


e.... 
Marília Mendonça:


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Não fazem meu gênero - apesar de ter um pé na roça sempre bebi da cultura vendida pela grande imprensa -  mas arrastam multidões, até maiores que a de  seus queridinhos.


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